Epílogo

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Tem feito muito frio aqui. Na primeira vez que eu vim para cá com a minha família, anos atrás, não senti tanto frio quanto sinto agora. Faz poucas horas que cheguei e já me sinto nostálgico. Belgrado continua um lugar muito bonito. A Sérvia como um todo. Eu já sabia que iria precisar de muitos agasalhos, então pedi para a minha mãe comprar dezenas deles. Isso poderá me ajudar quando eu sentir preguiça de lavar um casaco ou uma calça de moletom. Porque terei o guarda-roupa cheio de outras peças, não é mesmo? Inclusive agora, pus um casaco cinza por cima de um blusão laranja e ainda sinto frio. Meu Deus! Como a Europa pode ser tão fria assim?

Ando pelo apartamento e puxo as cortinas enormes da janela com vista para os belos prédios que vejo em minha frente. Vejo pessoas caminhando e sorrio. Parecem felizes. O céu está muito, muito nublado e já estou com preguiça de desfazer as malas. Minha vontade agora mesmo é me deitar e tirar uma soneca bem gostosa. E acordar para comer uma sopa deliciosa. Hummmm, fiquei com fome só de imaginar. Sei que terei que me acostumar com o fuso daqui, mas é por uma boa causa.

Jogo meu corpo contra a cama e estico os braços. Minhas pernas estão fora da cama. Olho para o teto e penso nela. Queria que ela visse a barba que agora tenho e que não é por uso de remédios hormonais. Minha amada Luíza. Faz três anos você se foi e eu sinto a sua falta a cada segundo. Não fico um só dia sem pensar em você. Nas suas sardas. Na história que construímos. Estou aqui na Sérvia para fazer intercâmbio. Estou no segundo período de medicina. Estou seguindo em frente, como você queria. Não tem sido fácil. Sua ausência me dói. Choro quase todas as noites e madrugadas. Mas a carta que você escreveu para mim, com aquele envelope azul, levo para todo lugar.

"Alfredo, Fredo, Idoso, Mané... Posso te chamar como eu quiser. E não é que rimou? Sabe, eu faria de tudo para ir com você. Ou para fazer você ficar comigo. Mas temos vidas, não temos? Quero que tudo isso se resolva e que possamos nos ver o mais rápido possível. Você sabe que eu não tiro a minha tiara por nada. Por que eu tiraria? É uma coisa que me liga a você. Desculpa se não pude lhe dar algo que pudesse sempre estar com você e que pudesse fazê-lo lembrar de mim. Mas tivemos os nossos momentos. Temos, aliás. Quando eu me iludi com o Otávio, que graças a Deus foi morar em outro estado, pensei que não iria mais me apaixonar. Mas Deus colocou um garoto de dezenove anos na minha vida. E acho que isso diz tudo, não é mesmo? Eu estou chorando enquanto escrevo isso, por isso ignore os pingos de lágrimas no papel. É a minha tristeza sendo exalada. Eu amo você. Obrigada por ter sido (e por ser) a última pessoa que penso ao dormir e a primeira ao acordar. Jamais descarte esta carta, mesmo quando estivermos juntos novamente. É uma prova do quanto sofremos. E de quão felizes seremos futuramente. Esperarei por você. Beijos. falei que amo você?"

Infinitos São Os Nossos AtosOnde histórias criam vida. Descubra agora