Capítulo 10: Quando A Tiara Tornou-se Uma Promessa

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Era tarde de sábado. Eu estava deitado no sofá, jogando Subway Surfers. Quando eu consegui coletar duzentas e quarenta e cinco moedas, bati em um dos vagões e perdi. Minha camiseta vermelha estava um tanto folgada nas mangas e eu não tinha certeza se havia emagrecido ou se a camiseta sempre fora folgada e eu não havia reparado antes. Fazia calor e eu não seria imbecil a ponto de usar calça, por isso havia optado pela minha bermuda um tanto curta e que eu, geralmente, usava-a para dormir.

Meus cabelos estavam uma bagunça. Eu sempre fora muito "largado" em relação ao meu visual dentro de casa - e não seria diferente na casa de praia. Acordara cedo, pois minha mãe inventou de irmos à feira de artesanato próxima. Havia sido incrível! Vimos várias coisas legais feitas de madeira, jornal e tecidos. No instante em que eu vira uma tiara branca com uma pequena estrela dourada no canto, lembre-me dela. Foi impossível não pensar em comprá-la e presenteá-la.

Além disso, eu também havia comprado algumas peças de roupa - três camisetas e duas bermudas -, o que saiu muito em conta, pois eu gastei apenas cem reais. Em São Paulo, eu sabia, gastaria bem mais. Salvador, eu já amava você!

Após bater em outros vagões, parei de jogar e fiz um movimento no sofá: levantei ambas as pernas e virei para a frente, ficando sentado. Eu não a via desde quinta-feira e ainda não recebera resposta alguma. Claro, ela precisava pensar. Havíamos conversado bastante pelo Whatsapp e viramos amigos no Facebook. Fiquei tentado a marcá-la em alguma publicação. Seria uma frase de algum livro, mas pensei bem e decidi não fazer isso. Pelo menos, não no momento.

Como eu não sabia o que fazer em relação ao meu irmão, acabei contando para Luíza. Seria um baque revelar aos meus pais o suposto envolvimento dele com drogas. E acabei ficando impressionado com a tamanha intimidade que nós dois possuíamos.

Antes, eu me encontrava em São Paulo, totalmente cabisbaixo, com um princípio de depressão - embora, eu me lembrava, havia dito que conseguiria reconhecer se eu estivesse com depressão, mas eu falhara -, demorando para pegar no sono, corrompido pelos meus próprios pensamentos. Mas muita coisa não havia mudado, haja visto que eu ainda enfrentava sérios problemas com a minha mente. Considerei me consultar com alguma psicóloga, mas eu estava em Salvador para me divertir e eu estava conseguindo.

Conhecera a garota mais especial de todas... a garota que tinha, como maior ambição, mudar o mundo, embora eu não possuísse muitas, diga-se de passagem. Ela era tão bondosa, tão corajosa. Ajudava as pessoas que mais precisavam de ajuda. Tinha uma visão perfeita do mundo, parecia uma Pensadora Contemporânea. Às vezes, quando eu estava prestes a dormir, pensava comigo mesmo que Luíza era perfeita demais para mim. Eu não fazia praticamente nada para mudar o mundo, muito menos tinha alguma ambição ou outra. Sentir-se assim era uma merda.

Mas eu sabia, também, que precisava colocar algum rumo na minha vida. Mesmo sem saber quando iríamos retornar para São Paulo, eu jurei para mim mesmo que iria iniciar a minha rotina de estudos para os vestibulares. Iria estudar muito e tentar conseguir uma bolsa de estudos para cursar medicina. Não iria permitir que os meus pais arcassem, pois eu queria entrar com o meu próprio esforço.

Só que, infelizmente, acabei pensando - eu vinha pensando demais - que teria que me despedir dela algum dia. Não seria possível ficar em Salvador ou levá-la para São Paulo. Mas eu havia decidido não pensar nisso, pois eu ainda precisava fazer muitas coisas no nordeste. E pensar em despedidas me deixava triste.

*

Eu descia as escadas quando Artur estava prestes a subi-las. Ele ainda não havia voltado a falar com nossos pais. E a ferida em sua testa continuava em evidência, o que fazia com que ele usasse e abusasse dos band-aids.

Infinitos São Os Nossos AtosOnde histórias criam vida. Descubra agora