Acordei cedo. Ainda deitado na cama eu conseguia ver os raios de sol iluminando o quarto onde eu me encontrava. A luminosidade estava tamanha e eu não pude evitar de fechar os olhos novamente, depois tornando a coçá-los. Pus o braço direito em volta do rosto, tentando conter a claridade - e meio que deu certo. Virei para o outro lado da cama, esperando que eu conseguisse dormir mais um pouco, embora eu não soubesse que hora era. Mas, supondo pelo clima, não poderia ser mais que sete da manhã. Uma terça-feira ensolarada em Salvador.
Acabei levantando da cama, calçando um par de sandálias Havaianas. Sentei na beirada da cama, tentando recobrar minhas energias. Peguei meu celular e vi 06h34 a.m no visor. Puta merda! Era cedo demais. Ok, eu precisava aproveitar o lugar paradisíaco o qual eu me encontrava. Mas isso não queria dizer que eu necessitava acordar antes dos próprios galos. Finalmente consegui deixar meus olhos abertos sem mais ser incomodado pelo sol.
Fui ao banheiro e lá fiquei por uns cinco minutos - ora, eu tinha uma higiene a ser mantida -, até que desci as escadas.
*
Como seria de se esperar, eu era o único ser humano acordado na linda casa de praia. Mas o que eu poderia fazer? Antes mesmo de responder a mim mesmo, peguei o controle remoto e liguei a TV. Um canal de esportes transmitia uma partida de vôlei. Ao vivo. Seleção brasileira feminina contra a seleção holandesa. O Brasil vencia por 2x0. Sempre fui apaixonado por vôlei. Até joguei na escola, mas acabei me machucando ao saltar. O técnico da Holanda pediu tempo e eu resolvi ir à cozinha, em busca de algo para comer.
Eu ainda não havia ido à cozinha - havíamos jantado na sala -, mas fiquei admirado com a vista: armários imensos, uma mesa de granito, fogão de seis bocas e tantas outras coisas. Era uma linda cozinha. Bocejei e abri a geladeira. Estava cheia. Desconfiei de que os meus pais haviam pedido para alguém abastecê-la. Encontrei bananas, suco natural de goiaba, queijo coalho, pão de forma... uma grande variedade de comida. Seria o bastante para passarmos alguns dias sem ter que precisarmos recorrer às guloseimas calóricas e deliciosas que pedíamos por telefone.
Peguei três bananas, tirei as cascas e as cortei em rodelas, pondo-as em um prato de vidro na cor verde. Era lindo! Onde eu poderia encontrar leite em pó? Comecei a procurar por entre as portas dos armários. Até encontrar em um pote próximo ao forno elétrico. Peguei uma colher de cabo cinza e pus leite no prato. Eu poderia acrescentar açúcar, mas achei que iria ficar muito doce e ninguém merecia ficar diabético em plena viagem a Salvador.
Voltei para a sala e o jogo já havia recomeçado, mas ainda com as brasileiras na frente. Meu café da manhã estava uma delícia. Ruim era a sensação de ter leite em pó grudado no céu da boca, mas todos já sentiram isso, não? Enquanto eu mastigava, ouvi passos vindos lá de cima.
- Acordou cedo, Fredo - Artur estava vestido apenas com uma camisa regata e uma cueca boxer preta. Não era uma vista que eu recomendava. - O que tá passando?
Já foi super estranho ele não ter me chamado de "Maninho".
- Bom dia, Artur - engoli um pouco e tornei a falar: - Não consegui acordar tarde. E está passando vôlei.
- Que legal! - ele deitou-se no outro sofá, apoiando as pernas em uma almofada. Sua pele branca não contrastava com sua cueca preta e sua camisa branca. - O que você está comendo? Cereais?
- Não. Eu estou comendo banana com leite - Brasil venceu o set, terminando em 3x0. Gostaria de ter assistido desde o início. - Você não poderia vestir uma bermuda?
- Calor nas partes, mano - ele riu, embora eu não tenha achado graça. Notando a sua vergonha, levantou-se e foi até a cozinha. - Também estou com fome. A mamãe e o papai ainda estão dormindo.
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Infinitos São Os Nossos Atos
RomanceO que fazer quando duas pessoas compartilham infinitos semelhantes? Fredo (Alfredo Diniz) é um simpático, engraçado, confuso e gentil rapaz de dezenove anos, que mora em São Paulo. Diferentemente de Artur, seu irmão mais velho e irresponsável, o jo...