Capítulo 7: Quando Artur Causou A Grande Decepção

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A quinta-feira havia chegado num piscar de olhos. Não passava das oito da manhã, mas eu conseguia sentir os raios de sol invadindo o meu quarto, por meio das janelas. Usando a mesma bermuda curta de sempre, apoiei-me no parapeito de uma das janelas e observei o condomínio. Cocei os olhos e bocejei. Mas eu não sentia sono - ainda estava acostumado a acordar bem cedo -, apenas queria ter a chance de acordar tarde novamente. Vi um casal de idosos passeando com um cachorrinho pequeno e peludo, com os pelos acinzentados. O senhor usava óculos fundo de garrafa e uma boina na cabeça, ou era um quipá. Eu não conseguia enxergar direito. Talvez ele fosse judeu.

A senhora usava um vestido florido e um chapéu a lá anos sessenta. Eles estavam de mãos dadas, e a corrente que pendia na coleira do cachorrinho estava na outra mão dela. Eles aparentavam ser bem felizes. E eu gostaria de possuir o mesmo tipo de felicidade que eles. Desde que conhecera Luíza, eu passara a dar mais valor ao amor e a paixão. Eu já não escondia de mim mesmo o meu interesse nela. Talvez ela até mesmo já tivesse percebido, pois eu nunca conseguia esconder os meus sentimentos. Depois de sua visita até a minha casa, conversamos pouco pelo Whatsapp. Eu poderia ter ligado para o seu número, mas fiquei com vergonha e medo que ela pensasse que eu estava desesperado para falar com ela.

Mas o nosso "momento" antes de ela ir embora não conseguia sair da minha mente. Eu deveria ter tido atitude e ter lhe beijado, mas Luíza sempre fors tão determinada, tão explosiva, que pensei que ela poderia me dar um empurrão ou uma tapa na cara. Mas eu realmente queria beijá-la. Uma música chamada Sure Thing, do cantor Miguel, possuía o seguinte trecho:

"Even when the sky comes falling... Even when the sun don't shine...", que significava "Mesmo quando o céu venha abaixo... Mesmo quando o sol não brilhar"... essas coisas poderiam vir a acontecer, mas eu não me importaria se ao menos tivesse a chance de beijá-la uma única vez. E depois, que o céu viesse abaixo e que o sol parasse de brilhar. Para mim, já teria valido a pena. E eu não parava de ouvir essa música, pois ela conseguia definir o meu real momento. Logo no começo, Miguel meio que reflete:

"Love you like a brother, Treat you like a friend... Respect like a lover...", e eu realmente já amava Luíza como um irmão, um amigo e um amante amam uma pessoa. Eu pensei em lhe apresentar a música, mas ela com certeza iria me colocar contra a parede. Eu a conhecia muito bem, apesar do pouco tempo.

Ok, eu não falava inglês, mas o meu player de música possuía legendas, dã.

Toc!

O casal de idosos não se encontrava mais, então calcei os pés e disse, um pouco alto demais:

- Pode entrar! Não estou pelado, muito menos assistindo pornografia - minhas piadas sem graça...

Minha mãe estava de camisola, com os cabelos presos em um coque, mas sem cigarro algum nas mãos. Ela estava sorridente.

- Bom dia, Fredo - sentou-se na beirada da minha cama, que por sinal estava uma bagunça. - O que faz acordado uma hora dessas?

- Sei lá - respondi, confuso, como sempre. - Acho que não consigo mais acordar tarde. Bom dia, mãe.

Ela sabia que eu havia acordado cedo porque iria até a casa da Luíza. Logo percebi isso.

- Bom, espero que o motivo que tenha feito você acordar cedo valha a pena, meu amor - nós dois sorrimos. - Apenas vim dar uma olhada em você.

- Estou bem. Não precisa se preocupar.

Ela levantou-se e beijou minha bochecha. Indo em direção à porta, parou e disse:

- Seu pai e eu adoramos a Luíza - e saiu, sem ter tido chance de ver o imenso sorriso que se formou em meu rosto.

Infinitos São Os Nossos AtosOnde histórias criam vida. Descubra agora