Alguns dias depois - três, mais precisamente -, eu estava com Luíza e Natália em uma sorveteria. Como ela queria que nós três tivéssemos um encontro, e eu cedi, achei que não deveria voltar atrás, mesmo com a sua amiga me detestando para cacete. Eu havia ido até à sua casa. De lá, buscamos Natália e seguimos para o nosso destino.
Eu decidi que era uma ocasião modesta, por isso optei por uma calça jeans, uma camiseta preta com o desenho de um leão rugindo, além do meu amado all star. Luíza, por outro lado, vestia uma shorts rosa e uma blusa cinza, além de sandálias. Muito simples, mas incrivelmente linda. E quanto à sua amiga, um vestido lilás e também sandálias.
- Você tá muito produzido, sabia? - Luíza dissera, pondo granulado em sei sorvete de flocos. - Uma bermudinha e sandálias cairiam bem.
- Quis impressionar! - Natália revirou os olhos, como se a minha afirmação tivesse sido ingênua.
- Você pode nos impressionar de qualquer maneira, não necessariamente precisando estar assim tão produzido. Ah, e não que eu esteja impressionada ou algo do tipo. Isso é com a Lu.
Bem, eu sabia que ela não gostava muito de mim. E não me sentia culpado mais. Até porque não era minha culpa. Engoli seu comentário a meu respeito e assenti. Voltei a tomar o meu sorvete de chocolate.
Luíza, com o lábio melado de sorvete, mudou de assunto.
- Então, Nati, como está a minha afilhada?
Ela sorriu.
- Deixei com a minha mãe. Ela tá bem. Faz dois dias que você não a vê, não é mesmo?
Luíza assentiu.
- Posso comprar um presente para ela? - perguntei, me intrometendo. - Eu gostaria muito, se fosse possível. E se você permitisse.
Luíza fitou os olhos da amiga.
- Claro, Alfredo - foi sua resposta.
Sorri. Luíza também sorriu.
Então, juntos, voltamos a saborear os nossos sorvetes.
*
Voltamos para a vila. Natália voltou para a sua casa. Luíza e eu ficamos sentados, observando o rio mover-se. Estávamos um do lado do outro. Ela encostou a cabeça no meu ombro. Sua mão tocava a minha, na areia. Estávamos em paz. O sol estava querendo ir descansar, para dar lugar para a lua. Não sabia exatamente que hora era e quis continuar não sabendo.
- Eu ainda continuo pensando no que aconteceu - revelei. Foi impossível não sorrir.
- É porque você é safado! - Luíza rira. Olhei para a sua tiara. - Mas está tudo bem. Também pensei muito. Eu gostei.
- Não estou me referindo ao sexo! Você disse que me amava, quando estávamos nos despedindo. Você não havia me dito isso antes. E quero que saiba que foi maravilhoso ouvir você dizer isso. Porque eu também amo você. Como você mesma sabe, não é mesmo?
Ela beijou meu ombro.
- Não pense que, só porque eu demorei para dizer isso a você, eu não te amava antes. Às vezes precisamos nos certificar se é o momento certo para dizer "Eu amo você".
- Por quê?
- É uma frase forte. Não quero dizer que amo alguém apenas por dizer. Se eu digo isso para alguém, realmente amo. Você me entende, Fredo?
- Claro - aproximei meu rosto do seu e beijei seus lábios doces. - Acho que está na minha hora.
De mãos dadas, nos levantamos e nos abraçamos. Colada em mim, ela disse:
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Infinitos São Os Nossos Atos
RomanceO que fazer quando duas pessoas compartilham infinitos semelhantes? Fredo (Alfredo Diniz) é um simpático, engraçado, confuso e gentil rapaz de dezenove anos, que mora em São Paulo. Diferentemente de Artur, seu irmão mais velho e irresponsável, o jo...