Saímos de casa para o aeroporto às nove da manhã. Embora o nosso voo fosse apenas às onze horas. Mas era melhor chegar antes da hora do que atrasado, não?! Eu ainda estava meio "sentido" pela Nila não querer viajar conosco. Mas se ela assim havia decidido, quem éramos nós para julgarmos sua escolha? Mas que ela iria fazer falta, iria. Muita. Ela seria a minha escolhida para dar uns passeios pelas ruas de Salvador, sem dúvida. Não que os meus pais fossem más companhias - muito pelo contrário -, mas sempre me sentia mais aberto com ela. Sempre desabafava com ela, pois me conhecia desde que era um feto, praticamente.
Artur e eu não havíamos trocado uma única palavra sequer. Não que eu estivesse me importando com isso. Seria incrível se isso continuasse até o fim da viagem - que eu não sabia quando iria ser -, pois assim eu não iria me estressar à toa.
O aeroporto estava lotado de gente. Pessoas com suas malas, entes queridos. Havia algumas cadeiras confortáveis próximas a nós, mas eu preferi permanecer em pé. Meus pais sentaram-se um do lado do outro e começaram a tirar umas selfies. Eu me agachei por trás deles e apareci em uma. Nunca fui muito fã de tirar fotos com a língua para fora, por isso optei por um sorriso. A foto ficou fofa! Artur estava com o seu celular, digitando compulsivamente. Provavelmente estava conversando com alguma garota pelo WhatsApp.
Eu possuía um celular, mas não costumava usá-lo com frequência. Eu o colocava para carregar - desligado - e ele permanecia assim por dias. Quase não iria trazê-lo, mas achei que seria necessário tirar umas fotos, embora eu não fosse nada fotogênico. Coloquei meu carregador e meu fone de ouvido na mala, juntos do celular. Era um trio perfeito. Os três patetas!
O fluxo de pessoas era algo incrível. Algumas vinham; outras, iam. Era curioso. Algumas aparentavam estar apressadas; outras, relaxadas. Era a mesma coisa que estar em uma estação de trem: eu via pessoas em busca de seus sonhos. Objetivos. Metas. E era bonito. Era bonito ver o quanto o ser humano podia ser persistente e nunca desistir.
Embora eu, no fundo, houvesse desistido várias vezes.
*
Algum tempo depois nos já estávamos dentro do avião. Eu não tinha medo, pois já havia estado em outros aviões antes. Mas sempre batia um frio na barriga. Uma vertigem. Uma brisa no estômago, que me fazia pensar ser um ataque de gases. Embora fosse apenas a minha mente tentando me deixar traumatizado. Respirei fundo e olhei para a janela ao meu lado. Ainda não havíamos decolado. Como eu não havia levado livro algum, fiquei entediado. E meu pai também não havia levado nenhum consigo. Infelizmente, como o avião dispunha de duas poltronas de cada lado, Artur sentou-se ao meu lado. Não queria que o meu cotovelo encostasse no dele, por isso fiquei encolhido.
- Até que a sua camiseta não é tão ridícula, irmãozinho - Artur quebrou o silêncio, puxando minha orelha. - Mas eu não usaria uma.
- Pois é. Obrigado - forcei um sorriso, mas ele deve ter notado que foi bem forçado. - Então, já sabe o que vai fazer em Salvador? - perguntei, mudando de assunto.
- Quero pegar várias garotas! - o modo como ele disse "pegar" foi muito nojento. Senti ânsia de vômito. - Três ou quatro, no máximo - e sorriu.
Filho da... Ok, minha mãe não merecia ser xingada.
- Boa sorte - tornei a admirar a vista que a janela apresentava. Então Artur me cutucou. - O que é?
- Posso arranjar umas "novinhas" para você, maninho - ele riu baixinho.
- Obrigado, mas não quero.
Quanta insistência! Se eu não estava muito preocupado com a minha vida sexual, por que raios o meu irmão tinha que estar? E o modo como ele havia se referido às garotas... Foi nauseante. Fiquei desgostoso. Eu queria cuspir, mas não era possível. Que homem insolente!
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Infinitos São Os Nossos Atos
Storie d'amoreO que fazer quando duas pessoas compartilham infinitos semelhantes? Fredo (Alfredo Diniz) é um simpático, engraçado, confuso e gentil rapaz de dezenove anos, que mora em São Paulo. Diferentemente de Artur, seu irmão mais velho e irresponsável, o jo...