Estávamos caminhando até uma padaria onde Luíza adorava tomar café da manhã. Como eu não sabia onde a mesma ficava, apenas a acompanhava, andando ao seu lado, entrando nas mesmas ruas, dobrando as mesmas esquinas, caminhando lenta e solenemente. O sol ainda queimava a pele, mas eu ainda - graças a Deus - não me encontrava suado. Por fim, perguntei:
- A tal padaria fica em Alagoas? Porque estamos andando há algum tempo. Claramente estamos indo para algum outro estado próximo.
Ela riu.
- Vamos chegar em uns dois minutos - dobramos outra esquina e chegamos a uma praça bonita.
Bancos de madeira, árvores decoradas com luzes que talvez acendessem apenas às noites, postes com lâmpadas ainda acesas e pombos decoravam a bonita praça. Ao fundo, uma padaria com "Panificação Doce Sabor" estampado na entrada estava aberta, com algumas pessoas saindo com sacolas repletas de pães.
- É ali? - apontei.
Luíza assentiu.
- O que acha de comprarmos algo e comermos aqui, em um desses bancos, Fredo? - sorriu, fazendo-me sorrir também.
- O que você decidir é bom para mim.
Fomos na direção da padaria.
Lá dentro, pisamos no piso de cerâmica branca muito bem limpa, as paredes no mesmo tom, com ventiladores no teto e algumas prateleiras, onde duas mulheres estavam usando toucas e luvas, colocando pães de diversos tamanhos, formatos e sabores nas sacolas dos clientes. O cheiro estava agradável. Pão recém-saído do forno, amanteigado e, possivelmente, crocante. Luíza dirigiu-se a um balcão forrado em vidro com bolos, doces e sucos.
- O que você vai querer? - ela me perguntou, fitando-me. - Vou querer uma fatia daquele bolo de cenoura ali, com uma xícara com café com leite.
- Vou querer a mesma coisa - respondi, sorrindo.
- Você é sempre tão influenciado - fomos em direção ao balcão e fizemos nossos pedidos.
Alguns instantes depois, fomos em direção a um dos bancos da praça. Luíza sentou-a à esquerda, cruzando as pernas e pondo o prato descartável - com a fatia do bolo de cenoura - apoiado no joelho, segurando um copo também descartável na mão direita. Sentei-me e praticamente fiz a mesma coisa. Eu estava torcendo para não derramar café na minha bermuda.
Ela pegou uma colher e partiu um pedaço, pondo na boca e mastigando. Primeiramente tomei um gole do café e depois fiz o mesmo. Graças a Deus não fazia sol no lugar onde estávamos.
- Tá gostando do bolo? Você sabe que eu não gosto de ovo, mas abro exceções quando se trata de bolos - Luíza, após me perguntar, bebericou seu café com leite.
- Delicioso! - assenti, olhando para ela. Seu jeito de comer, de beber. - Você apenas elogiu a minha camiseta, mas não comentou sobre o fato de eu ter vindo do jeito que você pediu. Ou seja, de bermuda e sandália.
Ela riu, quase se engasgando.
- Eu havia esquecido. Perdão, carinha - a tiara em sua cabeça estava em destaque. Talvez até ofuscando as suas sardas, eu pensei. - Vir de calça e sapato seria muito cansativo. Precisamos estar livres de pesos.
- Então nós deveríamos vir pelados? - eu ri antes mesmo de saber a sua resposta. Beberiquei meu café e, instantaneamente, voltei a rir. Como se fosse uma das hienas do filme O Rei Leão.
Luíza não rira. Apenas comeu outro pedaço do bolo, enfiando a colher na cobertura, sem me responder ou esboçar sentimento algum. Merda! Eu sabia que havia dito alguma baboseira. Ela detestava as minhas piadas sem graça. E eu também, mas apenas depois que percebera que elas não possuíam sentido algum.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Infinitos São Os Nossos Atos
RomanceO que fazer quando duas pessoas compartilham infinitos semelhantes? Fredo (Alfredo Diniz) é um simpático, engraçado, confuso e gentil rapaz de dezenove anos, que mora em São Paulo. Diferentemente de Artur, seu irmão mais velho e irresponsável, o jo...