- Então, quando voltei, ele já estava dormindo.
Luíza olhou ao redor do condomínio. Ela havia chegado há alguns minutos. Usava um vestido liso na cor vermelha com alguns detalhes parecidos com rabiscos. Combinava com ela. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo, com a tiara dando um toque final ao seu penteado. Sempre gostei de reparar bem em seus figurinos, pois qualquer peça de roupa caía perfeitamente bem nela e isso sempre me encantava. Luíza com Z era uma garota excepcionalmente linda da cabeça aos pés. Isso não era um fato... Era uma certeza. Talvez a mais clara de todas.
Na noite passada nós havíamos combinado de nos encontrarmos em algum lugar que não fosse na casa de praia, mas não tivemos outra alternativa.
- Tenho medo. Sei lá, quem poderia estar ameaçando o meu irmão? - perguntei a ela, embora eu não esperasse uma resposta definitiva, já que ela não sabia muito a respeito do incidente. Apenas as coisas que contei, que Artur me contou e que eu sequer sabia se ainda havia algo mais a ser contado.
Eu temia que Artur estivesse realmente falando a verdade, já que várias pessoas que entravam no mundo das drogas acabavam lidando com a mesma situação. Porém, o meu irmão estava para lá de bêbado e isso poderia ter saído da boca para fora. Era uma possibilidade, eu pensava. Mas eu sabia que não era hora para divagações, pois eu deveria arranjar um jeito de ajudá-lo. Eu guardava, sim, mágoas de várias coisas que ele fizera para mim no passado, mas eu estava tentando a todo custo deixar tudo isso de lado e mostrar para ele que eu poderia, sim, fazer algo eficiente. Mas eu ainda não sabia como. Ou o quê. Eu era um magrelo fracote sem um pingo de barba. Meus braços e pernas eram magros como varetas. Eu sabia que violência não seria uma ajuda muito boa. Mas eu precisava estar preparado.
Eu poderia fazer uma denúncia, mas quem eu iria denunciar? Eu não sabia quem havia ameaçado o meu irmão. Eu nem mesmo sabia o que Artur havia feito de tão grave para receber ameaças de Deus sabe quem. Era muito complicado imaginar alguém que pudesse fazer isso com ele. Eu queria, eu queria muito que ele não tivesse se metido nisso. Nas merdas que ele não parava de fazer desde que havíamos chegado a Salvador. Eu não estava dizendo que ele deveria ter feito as mesmas coisas que eu fiz - eu não era um modelo a ser seguido -, mas nem foram coisas tão graves. Basicamente eu fiz quase tudo em relação ao amor que eu sentia por Luíza.
Pondo fim às minhas divagações - que eu dissera a mim mesmo que não era hora para tê-las - e me cutucando, Luíza disse, fitando-me:
- Eu iria te aconselhar a dizer aos seus pais, mas acho que iria dar muita merda.
- Por que você acha isso? - Franzi o cenho.
- Bom... - Luíza pôs a mão no queixo, pensativa. - Isso apenas iria acelerar ainda mais o fim da viagem de vocês todos. Sei lá, Fredo, não sei se há algo que nós possamos fazer.
Disso eu sabia. Apenas não queria concordar, embora fosse muito óbvio. O que nós dois poderíamos fazer para ajudar Artur? O que nós tínhamos para oferecer em troca do fim das ameaças? E quem, pelo amor de Deus, quem estava ameaçando o meu irmão?
Decidimos voltar para a casa de praia. Entrelaçamos as nossas mãos e seguimos. Luíza com Z olhava para as outras casas, algumas com seus inquilinos à vista, fazendo isso e aquilo. Não demorou muito para chegarmos à casa que estávamos alugando. Assim que fechei o portão, minha mãe apareceu e sorriu ao ver nós dois juntos. Eu não me sentia tímido ao demonstrar minha relação com Luíza, o que já era algo bem concretizado. Minha mãe aparentava estar bem. Eu não havia encontrado mais nenhum maço de cigarros pela casa, o que considerei como uma evolução.
Ficamos frente a frente e minha mãe lhe deu um beijo na bochecha.
- Amo quando vejo você, florzinha - minha mãe também me beijou. - Filho, seu irmão ainda não acordou. Ele foi dormir tarde?
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Infinitos São Os Nossos Atos
RomanceO que fazer quando duas pessoas compartilham infinitos semelhantes? Fredo (Alfredo Diniz) é um simpático, engraçado, confuso e gentil rapaz de dezenove anos, que mora em São Paulo. Diferentemente de Artur, seu irmão mais velho e irresponsável, o jo...