Capítulo 4: Quando Luíza Virou Minha Amiga

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Pus a garrafa ao meu lado. Lutei um pouco para fazer com que o canudo ficasse para dentro e eu conseguisse tampá-la. Não foi algo tão difícil. Luíza continuava me olhando, possivelmente esperando que eu também me apresentasse. Mas o que eu poderia dizer? "Oi, meu nome é Alfredo, " meu emocional dizia, tentando fazer com que eu seguisse seu conselho. Mas eu poderia acrescentar a minha idade? O meu peso e a minha altura? Eu apenas queria causar uma boa primeira impressão.

- Luíza, que nome lindo! Eu me chamo Alfredo - sorri.

- Você nasceu com cinquenta anos? - ela estava rindo um pouco, mesmo que contidamente. Suas sardas davam brilho às suas maçãs do rosto. Eu não havia entendido a sua pergunta, por isso apenas fiquei observando-a. - Não vai responder?

- Eu não entendi a sua pergunta - abri a garrafa e bebi mais um pouco.

Ela fez um biquinho e alisou a testa, um pouco suada. O sol estava de matar. Podia sentir minhas axilas transpirando. Um garoto possivelmente mais novo que eu estava segurando um skate em uma mão e uma casquinha de sorvete na outra. Acho que era de morango, pois a cor era rosa. Um sorvete cairia muito bem.

- Alfredo... Que nome de idoso! - Luíza riu novamente. - Acho que os seus pais pensaram que você havia nascido já com cinquenta anos.

Uma das minhas sobrancelhas ficou arqueada - sinal de que eu não havia entendido muito bem -, mas acabei rindo também. Em parte para não deixá-la sem graça. E em outra porque foi realmente engraçado.

- Eu gosto do meu nome, tá? - rosqueei a tampa de volta à garrafa e me endireitei. - Se você acha que ele é muito cafona, pode me chamar de Fredo.

- Piorou. Mas está bem. Não quero ser processada por todos os Alfredos do mundo - ela cruzou as pernas por sob o vestido, no banco. - Quantos anos você tem?

Ela era muito curiosa, realmente.

- Eu tenho dezenove anos - seus olhos me fitavam fixamente, como se estivessem vigiando as minhas pupilas. - E quanto a você?

- Treze mais quatro - e sorriu. Uma arcada dentária muito branca. Quase no mesmo tom que os dentes da Nila.

Ela tinha dezessete anos. Ainda era menor de idade. Cheguei a pensar que a mesma possuía dezoito, no mínimo. Ela aparentava possuir uma idade mais avançada. Mas a aparência não queria dizer nada. Muitas pessoas pensavam que eu era mais novo, que os meus dezenove anos nas costas fossem dezesseis, no máximo. Embora eu gostaria de ser um pouco mais novo. Gostaria de possuir meus quinze anos uma vez mais. Foi com essa idade que eu havia voltado para o Brasil com a minha família. Minha mãe foi às pressas me matricular na escola onde estudei nos últimos anos. Saudades...

Peguei meu celular. Passava das quatro da tarde. O tempo não passava tão rápido assim, embora fosse o que eu pensava no começo. Luíza continuava sorrindo. Seus cabelos voavam de acordo com a brisa do vento. Por vezes ela os retirava do rosto. Não aguentei e comecei a rir.

- Tá rindo do que, idoso? - ela cruzou os braços, séria. - Sou alguma palhaça?

Merda!

- Eu estava rindo de você e dos seus cabelos ao vento - tratei de explicar o mais rápido possível. Respirei fundo. - Não, você não é uma palhaça. Pelo menos é o que eu acho.

- Bom saber disso, Alfredo - ela disse meu nome calmamente, meio que provocando. - Mas então, primeira vez em Salvador?

- No nordeste, mais precisamente.

- Espero que esteja gostando da minha terra.

Não fazia nem vinte e quatro horas que havíamos chegado, então não havíamos feito muitas coisas. Mas eu sentia que estava, sim, gostando. A primeira aparência estava ótima. E estava adorando ter a presença dela.

Infinitos São Os Nossos AtosOnde histórias criam vida. Descubra agora