Faltava apenas mais um dia para a nossa volta a São Paulo. Eu já estava conformado, assim como Luíza e, ainda assim, não queríamos que houvesse uma despedida. Eu já havia arrumado quase todas as minhas coisas, mas pedi para que ela viesse à casa de praia pela noite, para que, juntos, pudéssemos ter uma última conversa em solo nordestino. Eu queria muito que ela nos acompanhasse até o aeroporto, mas seus pais não estariam em casa e seus irmãos precisariam de sua companhia. No início eu não concordei, mesmo sabendo que era a sua vida, suas coisas e que eu não poderia me colocar contra tudo isso. Mas eu sabia que iríamos conversar bastante quando o avião já estivesse no céu.
Eu chorava muito. Era uma reação à minha tristeza e ao meu desapontamento. Não queria que as coisas tivessem chegado a este ponto, mas eu já não era capaz de tentar fazer algo para mudar os rumos. Pensei em sumir algumas horas antes de irmos para o aeroporto, mas Luíza não iria permitir, era algo que eu já sabia. Além disso, meus pais ficariam extremamente bravos comigo e eu não queria dar tal desgosto a eles. Todas as merdas que Artur fizera já haviam sido o bastante, infelizmente.
Porém, eu me sentia realizado e feliz com o meu progresso, graças a ela. Eu não queria que o próximo dia chegasse. Eu preferiria ficar com ela até o amanhecer, mas seria impossível. Então, apenas esperava por ela, não para me despedir, pois eu prometera voltar em breve para os seus braços, o melhor lugar do mundo.
*
A noite chegara bem rápido. Talvez porque já era nossa última noite na casa de praia. Havíamos limpado tudo. Como um agradecimento e um pedido de desculpas ao mesmo tempo, meu pai abasteceu a geladeira e os armários da casa. Minha mãe continuava sem fumar e isso me deixava muito feliz em meio à tristeza que sentira. Meus pais e Artur trocavam poucas palavras. Eu via em seu olhar a decepção por causar problemas, mas eu tentava a todo custo não culpá-lo por isso, já que ele andava nervoso, com medo das ameaças. Eu também me sentia assim. Por mais que Luíza dissera que iria ajudá-lo, ela mesma me disse que estava tendo dificuldades para arranjar o dinheiro. E eu disse-lhe para parar, pois, como já estávamos indo embora, Artur poderia livrar-se de tudo e escapar ileso. Foi uma das poucas vezes em que Luíza concordou comigo.
Havíamos pedido pizza para o jantar. Da última vez eu ficara enjoado ao notar que meu irmão escolhera o sabor chocolate para uma pizza em que cada um de nós escolheu um sabor para cada lado. Desta vez escolhemos pizza de quatro queijos e nos divertimos. Nossa última refeição na casa de praia. Luíza não pôde chegar antes e então eu guardei uma fatia para ela, para que comesse quando chegasse.
Eu ainda não havia escolhido qual roupa usar e pensei que Luíza poderia me ajudar. Ela sabia se vestir bem e muitas vezes me ajudava a escolher roupas mais leves e bonitas enquanto andávamos juntos, como um casal. Pois nós éramos um casal. Não o mais perfeito, mas talvez um dos mais únicos.
Alguns minutos após o jantar eu me dirigi ao balanço e fiquei sentado, esperando por ela. Lembrei-me da primeira vez em que Luíza sentara no mesmo lugar... De como eu amava empurrá-la. Era um sentimento tão único, tão verdadeiro e tão especial. Fazia com que eu me sentisse nostálgico, mesmo antes de deixar Salvador. Foram tantas vezes, repletas de conversas, choros e tristeza. Mas também repletas de muito amor e companheirismo. Muita amizade também. Uma dosagem de experiências boas e ruins. Mas eu iria levar comigo apenas as experiências boas. Eram o bastante. Assim como eu sabia que Luíza iria escolher as mesmas, pois tudo foi compartilhado. Foi tudo nosso.
— Pensando em mim? — Luíza aparecera tão repentinamente. Eu estava imerso em meus pensamentos que sequer ouvi o som de suas mãos abrindo o portão. — Desculpa a demora.
— Oi, amor — era tão bom chamá-la assim. Eu me sentia muito bem. — Quer sentar aqui?
— Claro.
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Infinitos São Os Nossos Atos
RomanceO que fazer quando duas pessoas compartilham infinitos semelhantes? Fredo (Alfredo Diniz) é um simpático, engraçado, confuso e gentil rapaz de dezenove anos, que mora em São Paulo. Diferentemente de Artur, seu irmão mais velho e irresponsável, o jo...