Capítulo 22: Quando Eu Fui Egoísta

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Deitados em sua cama, um de frente para o outro, eu fazia círculos em seu ombro. A tiara continuava no mesmo lugar. Minhas roupas, jogadas pelo quarto. Fiquei um pouco desconfortável ao ver as camas de Stéfany com S e Cadu com C. Pensei que, caso fôssemos morar juntos, iríamos precisar de mais privacidade. Seria horrível acordar um deles com nossos atos. Mas não quis pensar muito nisso, já que Luíza suspirou.

— O que foi? — perguntei, vendo seu semblante aturdido. — Doeu?

— Não, Alfredo, não é isso — ela sentou-se, encostada na cabeceira da cama, com o cobertor cobrindo seus seios. — Só... Não sei como explicar.

Enconstei-me também, fitando seus olhos.

— Não tenha medo!

Vi um sorriso aparecer. Sua mão pousou por sob a minha.

— Seria loucura se eu fosse com vocês? Quero dizer, não no mesmo dia. Eu trabalharia muito, arranjaria grana para a passagem de avião. Natália possui malas. Eu conversaria com os meus pais. Eu...

— Não, Luíza! — fui obrigado a interrompê-la. — Você não vai fazer isso!

— O que você está dizendo? Você não manda em mim, Alfredo!

Eu jamais iria me perdoar caso ela fizesse tal bobagem. Ela mesma me disse que não gostaria de me ver jogando minha vida fora. Que eu deveria realmente investir na carreira de médico. Eu não iria deixá-la interromper o seu sonho de mudar o mundo por mim. Isso implicaria em parar de ajudar seus vizinhos necessitados. Além de sua família, que sentiria muita falta sua. Não, eu não deixaria que isso acontecesse.

— Pense em seu sonho. Em sua família. Em mim. Em nossos infinitos.

Infinitos São Os Nossos Atos.

— Mas eu penso, Fredo. Eu ajudaria as pessoas de São Paulo. Continuaria tentando mudar. Minhas ambições não iriam ter fim.

— Eu sei, Luíza, eu sei. Mas não abra mão disto tudo por mim. Acho que o melhor a se fazer é esperarmos. Caso eu realmente tenha que ir, eu tentaria voltar o mais rápido possível. Já com minhas coisas.

— Você está sendo egoísta, Alfredo!

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Luíza levantou-se, ainda com o cobertor enrolado ao corpo. Quanto a mim, bom... Estava pelado, sentado em sua cama. Mas não me sentia envergonhado. Já estava acostumado a estar despido em sua frente. Não havia mais nada em mim que eu pudesse esconder dela.

Não ousei olhar enquanto vestia suas roupas. Seria um risco se ela saísse toda enrolada em direção ao banheiro e alguém a visse em tal situação. Neste interim, apenas fitei o chão. Minhas roupas estavam a poucos passos de mim. Quando a vi toda vestida, foi a minha vez. Da mesma maneira, ela não me olhou enquanto eu me vestia, peça por peça. Por incrível que parecesse, eu não havia lembrado da vermelhidão em meu braço. Gemi de dor quando vesti o blusão novamente. Senti meus cabelos bagunçados.

— Posso usar a escova?

— Sim.

Luíza pegou uma e me entregou. Como não havia espelho no quarto, pus na câmera do meu celular e fiquei olhando o meu reflexo enquanto me penteava.

— Obrigado.

Assim que abriu a porta do quarto, saí e esperei por ela. Assim que a porta foi fechada, fui em sua direção, mas ela se esquivou.

— Não, por favor — a palma de sua mão direita estava me impedindo. — Quero ficar sozinha, Alfredo.

— Mas Luíza... — com a voz embargada, eu mesmo me interrompi.

Infinitos São Os Nossos AtosOnde histórias criam vida. Descubra agora