Canção do Mar

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Quando ainda andava no ensino secundário, houve um tempo em que decidi abdicar da minha vida de santinha e me entregar de corpo e alma á rebeldia que me rodeava.

Cabulava aula com aqueles que via como "amigos", fazia bullying com os mais estranhos porque achava que era o mais certo... Me tornei em alguém da qual não me orgulho.

Sei que não foi uma decisão muito inteligente da minha parte, mas assim como já referi eu era alguém solitária então pode se dizer que eu estava desesperada por ter amigos.

Nessa época minha rotina era muito simples.

Me levantava... Enchia minha mochila com alguns livros para ninguém desconfiar, me despedia de meus pais e saia de casa. De seguida ia até ao portão da escola onde me encontrava com meus "irmãos" e agente simplesmente vagueava por aí.

Por norma dávamos uma volta, comprávamos uma garrafa de vodka e íamos para a estação do trem onde nos sentávamos nos bancos vazios e dividíamos a garrafa.

Eu sei que parece ser uma atitude completamente irresponsável e imatura mas eu era jovem e me sentia imortal quando estava perto deles....

Eu me identificava com eles...

Nada se importava com agente e agente não se importava com nada... Mas apesar de tudo tínhamos uns aos outros... E isso nunca ia mudar.

Era uma vida incrível a meu ver.

Mas para além disso... Minha rotina tinha outro ponto alto.

Quando ia para a estação do metro não era só por causa daquelas pessoas que me instigavam a andar com eles... Não... Era por outra razão...Na verdade era por causa de um homem...

Todos os dias um homem com roupas gastas e manchadas pela tinta ia pelas 16:00 até á estação de trem e todos os dias o homem levava consigo um lindo ramo de rosas vermelhas. Não importava o dia... Ele todos os dias levava consigo um ramo de rosas.

No inicio eu decidi que não ia ligar muito e que de certa forma o mínimo que devia fazer era simplesmente não me envolver.... Mas a curiosidade falou mais alto e um dia eu não me contive.

Nesse dia eu não voltei para casa com meus amigos dando a desculpa de que iria ter uma consulta média mais tarde e que não valeria a pena voltar para casa.... Meus amigos foram embora e eu fiquei lá encarando o homem que encarava as rosas.

O trem chegou e o homem entrou e eu também entrei junto com ele me sentando no banco ao lado.

Um facto interessante sobre o homem era que ele, nunca parava de encarar as rosas... Como se tivesse medo de as perder... Como se tivesse medo que elas pudessem escapar... E aquele foi outro fator que me intrigou.

O trem parou e o homem saiu e eu também o segui.

O homem andou alguns metros até chegar a um hospital, onde entrou e se dirigiu até ao quinto andar e entrou no quarto 678.

Fui sorrateiramente até á porta do quarto e encostei meu ouvido e consegui ouvir risadas... Muitas risadas.

Abri uma pequena fresta da porta e encontrei as flores no criado mudo e o homem sentado na cama junto com uma mulher que estava deitada e que agarrava firmemente a mão do homem sorrindo. A mulher não tinha cabelo, mas tinha uns olhos tão doces que me deu uma súbita vontade de chorar...

Eu consegui ouvir as palavras de amor que eles trocavam... Eu consegui ouvir cada sussurro... E essa foi uma sensação maravilhosa.

- Eu te amo Olívia....

God's And Angels: RepostagemOnde histórias criam vida. Descubra agora