O Velho Que Amava o Por Do Sol III

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(...)

A nossa relação melhorou depois daquela noite... Na verdade a nossa relação melhorou muito depois daquela noite.

Nunca falamos no que aconteceu, até porque nunca achamos que era necessário ou demasiado importante falar sobre o ocorrido. Quer dizer foi importante o que aconteceu... Mas preferíamos agir como se nunca tivesse acontecido.

Começamos a visitar o túmulo da minha mãe, quase que diariamente.

Quando eu regressava da escola, eu passava pelo cais e meu pai já estava lá me esperando, sorrindo. Daí, caminhávamos vagarosamente até ao cemitério, normalmente falando sobre como haviam sido os nossos dias. Meu pai, por muito que dissesse que gostava de trabalhar como pescador, eu sabia perfeitamente que não era verdade. Que sair ao anoitecer para voltar ao amanhecer não era algo que ele amasse fazer... Ele queria viajar, conhecer locais novos, conhecer pessoas novas... Isso sim era para ele.... Isso sim, ele amava.

De qualquer forma, sempre que eu o confrontava com a hipótese de ele voltar para o mar, ele rejeitava... Dizia que eu era a família dele e que família vinha sempre em primeiro lugar... E por muito que eu me mostrasse zangado com a ideia de meu pai colocar o sonho dele de lado por mim, eu bem lá no fundo, me sentia feliz quando ouvia aquilo.

O tempo passou.

E... Meu pai mudou bastante.

Seus cabelos, antes longos, agora se encontravam curtos e grisalhos assim como sua barba. A pele, agora menos morena, era marcada pelas pequenas rugas que lhe invadiam a cara de uma forma fantástica e lenta. Por vezes na brincadeira, até o chamava de velho e ele ficava todo resmungão e de cara amarrada, e isso me fazia rir ainda mais.

Eu também havia mudado... Mas eu nem havia notado.

Para mim, eu estava exatamente igual. Aos meus olhos, nada havia mudado.

Agora com 17 anos, as pessoas já olhavam para mim com um certo respeito. Digamos que você chega a uma certa idade, em que as pessoas já não te tratam por criança, mas também não te tratam como adulto. É estranho...

De qualquer forma, eu nunca me importei muito com aquilo que as pessoas diziam ou achavam de mim. Amigos?... Não eram muitos, mas os poucos que tinha bastavam. Família? Tinha meu pai... Que podia não ser muito, mas era único para mim.

Minha adolescência, ficou altamente marcada pela escola. Por tudo.

Por todas as travessuras que fiz.

Por todas as pessoas que conheci.

Na verdade, por vezes eu me arrependo de não ter aproveitado melhor aquele tempo. Quando penso nisso automaticamente encolho os ombros. Afinal, passado é passado, e mesmo que tivesse a chance de voltar a trás e aproveitar todo o tempo perdido, penso que não a aceitaria. Porque, como já disse, passado é passado.

Bem... Aos 18 completei o ensino médio e passei com distinção, o que permitiu, mais tarde, que eu ganhasse uma bolsa de estudo em uma das mais famosas faculdades da região. Sem saber bem em que área me formar, acabei por seguir Educação. Não que fosse, um sonho me tornar professor, mas naquele momento era o que mais fazia sentido para mim e era de uma forma de certa forma, continuar na escola mesmo sendo por outra via.

Fui um grande motivo de orgulho e alegria para meu pai, que me apoio muito em cada passo e decisão que tomei.

Me mudei para a cidade, que não tinha nada a ver com o local no qual havia habitado até então, mas foi apenas uma questão de hábito.

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