Lie A Little Better

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Ronald Weasley Pov

Terça-feira,23 de Janeiro 17:05

- Passe o leite, por favor, Golden Boy? - meu pai aponta para mim com o queixo e vira os olhos para a TV sem som na sala de estar, onde os resultados do futebol passam no pé da tela. - Então, o que você fez na sua noite de folga?

Ele acha hilário que Seamus tenha se disfarçado de mim após a academia, ontem.

Passo a embalagem de leite e me imagino respondendo à pergunta honestamente. Fiquei com Blaise, o cara por quem estou apaixonado. É, pai, eu disse cara. Não, não estou brincando. Ele é calouro do curso preparatório de medicina e trabalha como modelo nas horas vagas. Partidão. O senhor ia gostar dele.
E aí a cabeça do meu pai explode.

É sempre assim que termina na minha imaginação.

- Só dirigi por aí por um tempo.- respondo em vez disso.

Não tenho vergonha de Blaise. Não mesmo. Mas é complicado.

A questão é que eu não me dei conta de que podia me sentir dessa forma por um cara até conhecê-lo. Quero dizer, sim, eu suspeitava, desde os 11 anos, mais ou menos. Mas enterrei esses pensamentos o mais fundo possível porque sou um atleta tentando uma carreira na liga nacional de beisebol, e não é assim que a gente deve ser.

Realmente acreditei nisso na maior parte da minha vida. Sempre tive namorada. Mas nunca foi difícil esperar até o casamento, como fui criado. Só recentemente eu compreendi que aquilo era mais uma desculpa do que uma sincera convicção moral.

Eu menti para Lavender por meses, mas contei sim, a verdade sobre Blaise. Eu o conheci através do beisebol, embora ele não jogue. Blaise é amigo de outro cara com quem participei de uns jogos de exibição, que convidou a nós dois para sua festa de aniversário. Só deixei de fora a parte de estar apaixonado por ele.

Ainda não posso admitir isso para ninguém. Que não é uma fase ou experiência ou uma distração da pressão. Minha avó tem razão. Meu estômago dá piruetas quando ele me liga ou manda mensagem. Todas às vezes . E, quando estou com ele, eu me sinto como uma pessoa de verdade, não o robô que Lavender me disse que eu sou: programado para agir como esperado.

Mas Ronald e Blaise só existe na bolha do apartamento dele. Tirar essa bolha de lá para qualquer outro lugar me assusta demais.

Para começo de conversa, já é bem difícil fazer sucesso no beisebol quando se é um cara hétero. O número de jogadores assumidamente gays que faz parte da grande liga nacional é exatamente um. E ele ainda está nos times pequenos.

Por outro motivo: o meu pai. Meu cérebro inteiro trava quando imagino a sua reação. Meu pai é o tipo de caipira que chama os gays de "bichas" e acha que passamos o tempo todo dando em cima dos héteros. Quando vimos uma reportagem sobre o jogador de beisebol gay, ele deu um muxoxo de nojo e disse:

Caras normais não deveriam ter que conviver com essa merda no vestiário.

Se eu contar sobre Blaise para ele, os dezessete anos que passei sendo o filho perfeito irão sumir num instante. Meu pai jamais olharia para mim da mesma maneira, da forma como está me encarando agora, embora eu seja suspeito de assassinato e esteja sendo acusado de usar esteroides.

Com isso ele consegue lidar.

- Tem exame amanhã.- lembra ele.

Preciso fazer exames antidoping toda maldita semana agora.

Enquanto isso, continuo arremessando, e não, minha bola rápida não ficou mais lenta. Porque eu não menti. Não trapaceei. Eu melhorei minhas estratégias.

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