movie session | newtmas

15 ☼

Apenas o estômago roncando em reclamação foi capaz de fazer Newt acordar no dia seguinte. A cabeça ainda pesava e tentava relembrar como havia chegado até sua cama, com roupas limpas e sem cheiro de vômito.

Safo não estava no quarto e pelo silêncio que a casa parecia exalar, imaginou que estivesse sozinho. Seu celular zunia sob a cômoda, mas pensou em comer algo antes de tudo, seria difícil e necessário.

Estava usando uma camiseta do Batman que ganhou de sua avó (mesmo que ele nem ser quer gostasse do Batman, mas era um presente) e calças de pijama. Desceu as escadas com os pés descalços, a rua parecia tomada pela umidade, mas estava quente.

Olhou o relógio e constatou, eram duas e meia da tarde. Tinha uma recordação muito vaga de ouvir sua irmã tentando conversar com ele, mas as crises o deixavam fora de órbita.

Não era fácil estar na mente de um ansioso. Não era fácil conviver com um ansioso, amar um ansioso. Não era fácil comer, sair de casa e fazer muitas outras coisas sendo ansioso. Quando se tratava da maldita ansiedade, tudo na vida de Newt parecia mais difícil.

Passou pela sala e ligou a televisão, colocando um desenho animado qualquer. Gostava de assistir coisas que esvaziassem sua cabeça nesses momentos.

Caminhando pela cozinha, pegou um iogurte de morango na geladeira e misturou com alguns cereais. Fácil de digerir mesmo com seu estômago muito mais sensível que o normal.

Com uma colher, um copo d'água e sua tigela em mãos, se sentou no sofá. Um suspirar profundo veio antes de pegar uma porção de iogurte. Sentir o doce se dissipando na boca não era mais tão complicado após a quarta colherada, já considerava aquilo uma vitória.

Outro gole de água, mais uma colherada, sem pressa alguma.

Para quem visse de fora, talvez comer uma porção de iogurte com cereais fosse a coisa mais rotineira e indiferente de se realizar. Entretanto, para Newt, após um dia difícil, dizia muito.

Tentava não pensar demais em Thomas, ou em tudo que havia acontecido na noite passada. Era doído, não porque culpava o garoto por ter ficado naquele estado, muito pelo contrário. Guardava a vergonha de ter entrado em crise por algo tão... fútil, que para ele, foi assustador.

— Você está se prendendo a problemas imaginários. Você precisa se concentrar no que é real. — A voz cômica do cão Jake o tirou da linha de pensamento.

Se o universo queria lhe mandar alguma indireta, estava sendo tão discreto quanto Minho bêbado.

— Eu não estou querendo seguir conselhos de um cão amarelo hiper flexível, né? — Falou sozinho.

Safo apenas levantou as orelhas, com a expressão meio indecifrável que todo cachorro tem.

— Já falei que o amor está te deixando maluco, tipo aquela música da Taylor Swift. — Sonya comentou, encostada na parede que dobrava ao corredor.

— Por que todos nessa casa tem esse dom de teletransporte? Eu sou o único que nasceu sem? — Reclamou do susto.

— Pode dizer que sou seu Mestre dos Magos. — Riu, sentando no sofá e dando dois tapinhas sob as pernas para que Newt deitasse.

Ele deu uma risada abafada em concordância, obedecendo. A loira começou a enrolar os dedos nos fios do irmão, fazendo cafuné enquanto também tinha os olhos na tela da televisão.

— Se sente melhor?

— Dá pra dizer que sim. — Respondeu sem muito ânimo.

— E quer falar a respeito disso ou prefere debater sobre a Princesa Caroço e Rei Gelado? — Sugeriu com leveza.