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— Não me importo de ir até aí, inclusive minha mãe acabou de fazer Kibbeling, posso levar pro seu almoço. — Newt passeava pelo quarto com o celular na orelha.

— Ela fez o que? — Thomas questionou com ar de confusão.

— Kibbeling! — Falou pausadamente. — Bacalhau empanado e servido com molho tártaro, é uma delicia.

— É tipo, comida alemã?

— Holandeza. — O loiro riu.

— Assumo que fiquei curioso para provar, mas vou deixar pra próxima, não se preocupe comigo. — Disse tranquilo, devia estar deitado no sofá de casa. — Aproveite o feriado e descanse, ou a escola vai te deixar maluco.

Após se despedir, o garoto encostou-se em sua estante, um pouco pensativo. Usava meias com estampas de dinossauros, ainda de pijama pela preguiça de enfrentar o frio.

Tinham três semanas que a avó de Tommy falecera e que Newt dedicou seu máximo para ele. Claro que fazia isso porque gostava absurdamente do moreno, mas parte de si também tentava compensar a culpa após a fatídica madrugada da festa. Eles nunca mais falaram sobre aquilo e Newton não sabia se era apropriado puxar o assunto, mesmo que martelasse em seu cérebro o tempo todo.

Obviamente estava sendo cansativo, tinha receio de compartilhar alguns sentimentos ruins com Thomas e sobrecarregá-lo, ao mesmo tempo que tentava confortar o namorado em toda e qualquer situação difícil. Se viam com mais frequência fora da escola e agora estava ajudando-o a encaixotar seus itens da velha casa, que em breve seria vendida.

Deitou na cama com a barriga para baixo, abrindo a aba de lembranças de sua galeria. A primeira foto da sequência em carrossel era antiga, com ele e Sonya totalmente encharcados pela água duvidosa de um rio. Tinham o hábito de ir aos acampamentos de verão quando crianças, era sempre divertido.

Em seguida, uma imagem que fez o sorriso de Newt crescer mais ainda: Minho, talvez quatro anos mais novo, deitado no sofá da sala dos Whitman, com Safo ainda muito filhote dormindo em suas costas. O amigo tinha o cabelo raspado e ria com os dentes levemente tortos, enquanto a cadela devia estar a mais ou menos uma semana com a família. Eles definitivamente se deram muito bem.

A próxima foto causou certo descompasso no peito do loiro. Teresa tinha os cabelos muito longos e franja. Newt usava óculos fundo de garrafa e muito gel nos fios curtinhos. Eles deviam ter doze anos, ambos com uma pose tímido ao lado da professora de química após ganharem um prêmio na feira de ciências. Os professores elogiavam dizendo que os dois faziam uma ótima dupla. Por um tempo ele também achou isso.

A última imagem do carrossel foi curiosa, pois era um print de tela. O fundo de Newt com a foto de sua cachorra dormindo de barriga pra cima já não era mais usado a alguns meses. A primeira mensagem da conversa havia sido enviada à meia noite e meia.

Newt: Bren, meu amor

Newt: Responda minha pergunta
sem mais perguntas, ok?

Newt: Então, o que vai passar
amanhã por aí?

Newt: Sabe... no cinema

Brenda: boiola

Brenda: não diga que está interessado
no filme, você quer mesmo é ficar
no escuro com o atendente novo

Ele então começou a rir por desenterrar aquele diálogo de sua mente, mal havia chegado em casa no dia que conheceu Tommy quando mandou aquilo para a amiga. Nem conseguiu disfarçar. Ao relembrar isso, sentiu-se um bobo, mas era bom. Ficava feliz por Thomas ter tido aquela iniciativa, por que talvez ele nunca teria... no máximo apareceria na porta do cinema na noite seguinte, o encararia desesperado por trinta segundos e voltaria para casa correndo de vergonha.

movie session | newtmasOnde histórias criam vida. Descubra agora