Sleeping Beside Secrets (Larry Stylinson)

8. Cantos ocultos

"Não estou chateado por você ter mentido para mim, estou chateado porque, a partir de agora, não posso mais acreditar em você."

Friedrich Nietzsche

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Estava ficando cada vez mais insustentável fingir para Edward que as coisas se encontravam perfeitamente bem.

Depois de descobrir que havia algo diferente na estrutura da casa, eu não conseguia mais fingir que nada estava errado, por mais que me esforçasse para isso. Eu tentava sorrir, mas Edward conhecia o meu sorriso alegre e despreocupado para não reconhecer que eu estava forçando um para aparecer em meus lábios. Eu puxava assunto sobre assuntos banais, como seriados e atividades corriqueiras, mas, quando Edward começava a me responder, eu me perdia no quase um metro de espaço de parede do segundo andar que meu marido utilizava para manter escondido inúmeros segredos. Eu até mesmo insisti para assistir um novo episódio da nossa série favorita, já que queria me distrair de meus alvoroçados pensamentos, mas, quando abandonei a sala de estar por achar que o episódio tinha acabado quando ainda estava na metade, recebi sobrancelhas franzidas e um olhar de extrema desconfiança dele.

Edward não disse nada, apesar de sempre ter perguntado o que havia de errado em outros milhares de momentos antes daquele fim de tarde. Talvez meus comportamentos estivessem muito mais estranhos do que o normal e por isso ele se manteve calado, mas eu conseguia sentir seus olhos me seguindo pela casa como se tentasse desvendar o que eu estava ocultando.

E, como eu já tinha experienciado antes em nossas maratonas de séries, ele era muito bom em descobrir o segredo de cada uma das pessoas que começava a investigar minuciosamente.

Por esse motivo, era necessário que eu encontrasse uma forma de entrar naquele espaço de quase um metro entre meu ateliê e nosso quarto e descobrir tudo o que meu marido estava escondendo de mim. Com todas as provas na mão, eu poderia entender melhor as suas mentiras e segredos para só assim confrontá-lo e ter uma conversa séria sobre tudo aquilo. 

Eu queria saber de absolutamente tudo, pois, quando conversássemos, ele não pudesse esconder absolutamente nada mais de mim.

Eu tinha uma teoria, mas preferia não acreditar nela, por mais que fizesse sentido. 

De acordo com as peças do quebra-cabeça que eu tinha juntado, Edward poderia ter entrado no mundo do crime alguns anos atrás quando precisou ficar afastado da empresa imobiliária devido a um acidente de carro que sofreu. Tinha sido um acidente feio e ele ficou internado no hospital por uma semana até ser liberado pelos médicos. Tinha quebrado algumas costelas, estava cheio de hematomas pelo corpo e rosto e ficou inconsciente por um dia inteiro.

Lembro de sentir a minha pressão baixar quando recebi a notícia de seu acidente por um policial. Lembro desse mesmo policial precisar me acompanhar até o hospital para ver Edward, pois eu tinha ficado em um estado de choque tão grande que mal conseguia mover as minhas pernas. Lembro de, no caminho, passar pelo local do acidente e observar como o seu carro tinha ficado. Lembro de duvidar até mesmo que Edward tinha sobrevivido àquilo. Lembro de chegar ao hospital e a primeira coisa foi ter segurado a sua mão. Lembro de sua risada fraca quando abriu os olhos pela primeira vez e me encontrou descabelado ao seu lado.

Mas também me recordo de seus comportamentos suspeitos no período que se seguiu a internação. 

Ele não podia se mexer muito e precisava ficar de repouso 24 horas por dia em casa, mas, quando eu voltava antes do trabalho, encontrava a casa vazia, como se ele tivesse saído horas atrás para fazer alguma coisa.