11. Linha de esperança

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ALERTA DE GATILHO: ESTE CAPÍTULO CONTÉM CENAS DE VIOLÊNCIA DESCRITAS.

"'Você ficará comigo?'

'Até o fim', disse James."

J. K. Rowling, Harry Potter e as Relíquias da Morte

MÚSICA RECOMENDADA: LOVELY (WITH KHALID) - BILLIE EILISH, KHALID

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Eu sentia como se tivesse sido pisoteado e meu corpo esquecido para apodrecer no chão.

Cada extremidade dele doía. Minhas mãos, meus pés, minha cabeça, minhas pernas, meus braços e, principalmente, meu peito. Eu mal podia respirar. Toda vez que inspirava, sentia uma forte dor na região do pulmão. Era como se ele fosse explodir a qualquer momento, o que me fez pensar que aqueles homens que estavam me mantendo em cativeiro haviam quebrado algumas das minhas costelas, assim como fizeram com dois dos meus dedos.

Depois de várias horas, eu pelo menos tinha conseguido parar de tremer, por mais que ainda carregasse todos os ferimentos e a humilhação de estar com as calças molhadas devido ao pavor causado pela sessão de tortura. Era tudo tão humilhante. Eu estava ferido, molhado, jogado no chão sem forças e mal podia enxergar também. Havia duas bolas latejantes no lugar dos meus olhos e eles lacrimejavam quando eu tentava abri-los e até mesmo quando estavam fechados.

Houve um momento naquelas últimas horas que cheguei a nem me importar com o fato de minha visão estar prejudicada. Não havia nada de bom para eu enxergar ali. Nada de novo. Nada de bom. Nada que pudesse arrancar um sorriso de meu rosto.

Afinal de contas, havia sobrado alguma cor?

Todas aquelas dores se tornavam ainda mais acentuadas quando as lembranças da última vez que vi Edward voltavam inesperadamente e como uma surpresa entristecedora.

Edward parecia em choque quando cheguei no estacionamento do parque. Seus olhos estavam arregalados, como se não tivesse passado por sua cabeça que eu poderia descobrir seu segredo tão repentinamente. Ele vestia roupas próprias de um agente, tanto que havia armas presas em sua cintura, o que me levou a acreditar que ele sabia o que eu tinha descoberto no momento em que atendeu a ligação e me viu alterado e, quando eu falei sobre nos encontrarmos no parque, ele nem pensou muito sobre o tipo de roupa que estava usando.

E ele tentou amenizar a situação, mas, depois de tudo o que eu tinha visto, não consegui deixar de pensar que Edward tinha feito aquilo por estar carregado de culpa e, consequentemente, sentir pena de mim por eu ter sido atingido com tantas cacos afiados criados pelas suas mentiras.

Às vezes, eu tentava me agarrar na esperança de que ele pudesse ter se apaixonado por mim durante todos os anos que passamos juntos, mas a linha era fina demais e se partia. E quando meus pensamentos caíam no fluxo das lembranças de uma vida a dois com Edward, eu conseguia encaixar as peças que faltavam e enumerava todas as mentiras e falsas promessas.

Muitas de suas mentiras eram pequenas e tinham sido incrustadas em nosso dia a dia. Eram banais, como se nem mesmo precisassem terem sido contadas. Como se tivesse sido a opção que Edward tinha escolhido para viver ao meu lado. Eram tantas e das mais diversas formas que me peguei questionando a razão para tudo aquilo.

Será que havia momentos do dia em que Edward se perdia naquilo tudo que inventava?

Será que ele assumia um personagem na minha frente e, além de agente, poderia em algum momento ter feito algo relacionado a teatro?

Sleeping Beside Secrets (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora