»Capítulo 32
Uns dias se passaram desde quando recebi a noticia de uma banda ter me chamado para fazer um teste como vocalista. Eu passei esses dias ensaiando (muito) a música que eu vou cantar, da ultima vez eu tinha cantado Insania do Angra, não exigia tanto da minha voz e mesmo assim eu fracassei, então criei coragem para cantar uma das minhas músicas favoritas: The Hollywood Hootsman, do Gloryhammer. Ela exige bem mais da voz, acho que dessa vez é tudo ou nada.
Hoje é o dia do teste e eu estou tentando não desmaiar de nervoso. Beatrice ainda não me disse o lugar que vai ser, então ela poderia estar armando um sequestro para mim ou algo do tipo, não que ela faria isso, acho que não faria. Mesmo sentindo que o meu coração ia explodir, ainda achava que estava mais calmo que da última vez, o máximo que pode acontecer agora é dar tudo errado e eu ficar remoendo e me culpando pelo resto da minha vida, nada demais. Tentei também ficar "apresentável", no caso o apresentável se resume a: Cabelo penteado e dividido no meio, camiseta preta do Nightwish, calça preta, um cardigã preto e meu coturno, originalidade zero.
Enfim, depois de alguns minutos, Beatrice finalmente me chamou, ela vestia uma camiseta preta de uma banda gótica chamada Bauhaus, uma blusa verde xadrez com bolsos, uma calça jeans preta e rasgada nos joelhos e um all star verde, linda como sempre. Descemos até a rua onde o carro dela já estava estacionado, entramos e Bia deu a partida, ela ia me falar alguma coisa, mas foi interrompida pelo rádio ligando do nada, um "NA NA NA C'MON" acabou tirando a minha tensão e me fez rir, por um segundo eu tinha me esquecido de toda a pressão imposta por mim mesmo para mim mesmo.
— Put* merda de novo isso! — Beatrice resmungava enquanto apertava rápido o botão de desligar do rádio, mas o "NA NA NA C'MON" continuava.
— Deixa aí, poxa! Rihanna é legal! — Falei tentando tranquilizar ela. Eu de verdade gosto de Rihanna, não me julgue.
— Você gosta? — Ela perguntou levantando a sobrancelha. — Achei que você era 100% metaleiro, gótico, solitário, sombrio das trevas.
— Convenhamos que não dá pra viver só de metal — Sorri desviando meu olhar do dela. — Mesmo a letra dessa música não combinar nada comigo, eu gosto dela.
— E as letras do Cannibal Corpse combinam com você?
— O que? — Olhei para ela já ficando meio nervoso, achei que ia começar a suar frio. — Claro que não!
— Ei, calma! Eu só tô brincando! — Sorriu tentando me acalmar. — Se combinassem com você seria bem preocupante. Acho que eu chamaria a polícia, sinceramente falando.
— Com razão! Mas, enfim, Rihanna é legal só que a letra dessa música não tem nada a ver comigo.
— Perceptível — Ela tinha falado bem baixo, na hora eu não havia entendido.
— O que?
— Nada não. Então, podemos ir?
— Pra onde?
— Pro seu teste, ué!
Aí eu voltei para a realidade, aquele peso gigante voltou para as minhas costas junto com o nervosismo e a ansiedade.
— Ah é, verdade, podemos — Falei isso dando uma risadinha falsa, mas eu queria estar gritando "SOCORRO". — Mas pra onde a gente vai mesmo?
— Boa pergunta, deixa eu ver aqui — Ela pegou o celular de um dos bolsos da blusa e começou a mexer nele. — Bom, é um estúdio lá perto do centro, as chances de um assalto ou qualquer outro crime acontecer com a gente dobram — Ela guardou o celular no bolso e me olhou — Quer ir mesmo assim?
— Acho que deve ser melhor ser assaltado do que desistir de um sonho.
— Com certeza, assaltos não são novidades na vida de pobres brasileiros como nós. Lembro até hoje de quando roubaram meu Motorola V3 rosa lá na nossa antiga cidade.
— Nossa, você tinha um? Riquinha.
— Tinha, me achava a gatona — Deu uma risada parecendo daquelas hienas de desenho animado. E ela era mesmo uma gatona, continua sendo.
— Eu lembro que ele era meu sonho de consumo, velhos tempos. — Velhos e péssimos tempos, ainda bem que eu saí disso, mesmo não sendo por iniciativa própria.
— Bom, vamos?
Só depende de mim, e eu não confio muito em mim mesmo. Pensei na hora. Respirei fundo e respondi:
— Vamos.
Enfim, depois disso, Beatrice finalmente começou a dirigir. Eu estava muito nervoso, queria me distrair com alguma coisa durante o caminho, Beatrice pareceu perceber isso e estava tentando achar algo para poder tirar minha atenção.
— Você não percebeu que tá tocando S&M até agora? — Ela deu risada de novo.
— Pior que não. — Realmente não tinha percebido, tinha ficado focado na conversa e depois na minha insegurança.
"S, S, S and M, M, M", tocava na hora.
— Ohhh, I love the feeling you to bring me, you turn me on — E ela começou a cantar do nada, cantar melhor do que eu canto, inclusive. — Vai sua vez agora!
— It's exactly what I've been yearning for, give it to me strong — E saiu automaticamente da minha boca.
— And meet me in my boudoir.
— Make my body say ah, ah, ah.
— Que bonitinho cantando Rihanna e ainda imitando os gemidos da música — Deu risada de novo, percebi que as bochechas dela estavam avermelhadas, ela fica uma fofa assim.
— Assim eu fico com vergonha! — Falei já ficando com as bochechas vermelhas também.
— Você sempre fica com vergonha, meu amor. Já até me acostumei. — Sorriu me olhando com aqueles olhos verdes brilhando.
"Meu amor". Você não tem noção de como eu fiquei besta naquela hora, sorrindo feito bobo apaixonado, ela mexe tanto comigo.
No caminho fomos ouvindo mais música pop e cantando também, demorou mais uns 50 minutos para finalmente chegarmos. Era em uma avenida e não tinha lugar para estacionar, então ficamos mais um tempo rodando para poder achar um lugar para deixar o carro, quando achamos tivermos que ir andando até o lugar.
— Que legal, parece um cativeiro classe média! — Foi a primeira coisa que Beatrice disse quando viu o prédio do estúdio.
O prédio estava bem acabado do lado de fora, tinha 3 andares (tirando o que eu considerei como térreo), vidros espelhados cobriam a fachada dos andares, a cor branca das paredes já estavam descascando, alguns pixos decoravam elas e o portão de entrada também. Os outros prédios ao redor eram melhores do que do estúdio, pareciam de bairro nobre só que um pouco descuidados.
— Não sabia que existia cinema 24 horas. — Falei olhando para o prédio preto ao lado do estúdio, com um letras vermelhas na parede dizendo "CINE 24H", parecia bem pequeno para ser um cinema na verdade.
— Mano... — Beatrice colocou a mão na boca tentando segurar a risada, eu obviamente não estava entendendo o porquê. — Você não sabe o que é isso?
— Um cinema?
— Sim, mas não é um cinema normal.
— Não?
— Não! — Ela começou a rir baixinho olhando para a minha cara — É um cinema, só que é pra ver filmes, digamos, mais picantes do que o habitual.
— Ah... — Acho que não preciso nem dizer que fiquei com vergonha.
— Mas deixa isso pra lá, é melhor a gente entrar logo no cative-, no prédio — Assim ela já foi entrando no lugar pelo portão aberto e subindo as escadas, fui atrás dela com o coração na mão por causa do teste e pelo agora medo de acabarem me sequestrando e matando a menina que eu sou apaixonado.
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O Diário de Adam (Hiatus)
General Fiction"O Diário de Adam" mostrará a vida do jovem Adam, que até então, tinha uma vida pacata e solitária em seu apartamento. Desde criança, ele sofreu muito, os seus próprios pais o batiam e xingavam, os socos que seu pai lhe dava eram tão fortes, que c...