— Podemos voltar para a aula? — Perguntava Beatrice.
— Claro!
Bia errava alguns acordes, mas mesmo assim continuava tentando e conseguia acertar. A ensinei alguns clássicos, ela aprendia rápido e logo conseguia tocar a música melhor que eu.
Ficamos por horas nos divertindo, até o céu começar a escurecer.
— Acho que já está na hora de eu ir para casa.
— É realmente já está ficando tarde, pode ser perigoso. Se você quiser eu te acompanho até o cruzamento.
— Eu vou aceitar, tenho um pouco de medo de andar sozinha.
Saímos do meu apartamento e descemos as escadas até chegar na portaria. As pessoas ficavam me encarando por algum motivo, eu fiquei bem desconfortável, mas também estava confortável por estar perto da Beatrice.
— Por que vocês estão encarando ele?
Tomei um susto quando ouvi Beatrice perguntando isso, eu olhei para ela e parecia que ela iria explodir de raiva.
— Bia não precisa disso, eu já estou acostumado.
Neste momento nós já éramos o centro das atenções, estava muito desconfortável, eu só queria ir embora dali.
— Precisa sim, Adam! Isso é uma humilhação! — Ela olhava para uma das pessoas que me encarava — Vocês não respondem é? Por que encaram o Adam? Ele é algum tipo de monstro para vocês?
— Claro que ele é um monstro! — Uma mulher que parecia ter 70 anos dizia — Ele é um doente mental! Pode matar alguém a qualquer hora, não duvido que ele já tenha matado! Ele é obra do diabo!
As pessoas que estavam ao redor concordavam com o que a velha dizia.
Eu não sabia o que dizer, eu estava paralisado e com medo, com medo das pessoas e de Beatrice.
— E o que ele fez pra vocês? — Perguntava Beatrice — Ele só está querendo viver a vida dele normalmente!
— Ele afasta as pessoas daqui! — Dizia um cara que parecia ter meia idade — Espanta as pessoas daqui com a "música" dele — Ele fazia um sinal de aspas com as mãos.
— Eu não sabia que eu incomodava tanto... — Eu falei em um tom mais baixo de voz, segurando a vontade de chorar — Me desculpem.
— Você não precisa chorar, Adam! — Beatrice falava para mim.
— Agora ele está se fazendo de coitado! — A velha dizia — Não sintam pena dele! Ele é obra do diabo! Só veio trazer desgraça ao mundo!
— Além disso ele anda por aí como se fosse uma mulher! O cabelo passando do ombro, franja e ainda tem bolsinha! — O cara de meia idade afirmava.
As outras pessoas ao redor concordavam plenamente com o que ele e a velha diziam.
— Vocês realmente não sabem o que dizem né? — Beatrice dizia — Acho que tentar mudar a opinião de vocês, é o mesmo que falar com um papelão. Adam, vamos embora, no final os doentes mentais são eles mesmos.
A velha ficou furiosa com o que Beatrice disse, ela tentou partir pra cima dela porém, dois homens a seguraram.
E finalmente eu e Bia saímos do prédio. Nós paramos na calçada para conversar.
— Então você é um doente mental? — Beatrice dizia em um tom de voz irônico.
— Bom, pode se dizer que sim eu acho... Eu tenho alguns transtornos... Mas você realmente quer saber disso? Eu nunca falei sobre isso com alguém.
— Claro que quero saber! Nós somos amigos, não somos?
— Claro que somos!
Eu estava bem nervoso e com bastante medo, mas finalmente eu iria falar sobre meus problemas com outra pessoa, com um amigo.
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O Diário de Adam (Hiatus)
General Fiction"O Diário de Adam" mostrará a vida do jovem Adam, que até então, tinha uma vida pacata e solitária em seu apartamento. Desde criança, ele sofreu muito, os seus próprios pais o batiam e xingavam, os socos que seu pai lhe dava eram tão fortes, que c...