Capítulo 5: "Monstro"

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 — Podemos voltar para a aula? — Perguntava Beatrice.

 — Claro!

 Bia errava alguns acordes, mas mesmo assim continuava tentando e conseguia acertar. A ensinei alguns clássicos, ela aprendia rápido e logo conseguia tocar a música melhor que eu.

 Ficamos por horas nos divertindo, até o céu começar a escurecer.

 — Acho que já está na hora de eu ir para casa.

 — É realmente já está ficando tarde, pode ser perigoso. Se você quiser eu te acompanho até o cruzamento.

 — Eu vou aceitar, tenho um pouco de medo de andar sozinha.

 Saímos do meu apartamento e descemos as escadas até chegar na portaria. As pessoas ficavam me encarando por algum motivo, eu fiquei bem desconfortável, mas também estava confortável por estar perto da Beatrice.

 — Por que vocês estão encarando ele?

 Tomei um susto quando ouvi Beatrice perguntando isso, eu olhei para ela e parecia que ela iria explodir de raiva.

 — Bia não precisa disso, eu já estou acostumado.

 Neste momento nós já éramos o centro das atenções, estava muito desconfortável, eu só queria ir embora dali.

 — Precisa sim, Adam! Isso é uma humilhação! — Ela olhava para uma das pessoas que me encarava — Vocês não respondem é? Por que encaram o Adam? Ele é algum tipo de monstro para vocês?

 — Claro que ele é um monstro! — Uma mulher que parecia ter 70 anos dizia — Ele é um doente mental! Pode matar alguém a qualquer hora, não duvido que ele já tenha matado! Ele é obra do diabo!

 As pessoas que estavam ao redor concordavam com o que a velha dizia.

 Eu não sabia o que dizer, eu estava paralisado e com medo, com medo das pessoas e de Beatrice.

— E o que ele fez pra vocês? — Perguntava Beatrice — Ele só está querendo viver a vida dele normalmente!

 — Ele afasta as pessoas daqui! — Dizia um cara que parecia ter meia idade — Espanta as pessoas daqui com a "música" dele — Ele fazia um sinal de aspas com as mãos.

 — Eu não sabia que eu incomodava tanto... — Eu falei em um tom mais baixo de voz, segurando a vontade de chorar — Me desculpem.

 — Você não precisa chorar, Adam! — Beatrice falava para mim.

— Agora ele está se fazendo de coitado! — A velha dizia — Não sintam pena dele! Ele é obra do diabo! Só veio trazer desgraça ao mundo!

 — Além disso ele anda por aí como se fosse uma mulher! O cabelo passando do ombro, franja e ainda tem bolsinha! — O cara de meia idade afirmava. 

 As outras pessoas ao redor concordavam plenamente com o que ele e a velha diziam.

 — Vocês realmente não sabem o que dizem né? — Beatrice dizia — Acho que tentar mudar a opinião de vocês, é o mesmo que falar com um papelão. Adam, vamos embora, no final os doentes mentais são eles mesmos.

 A velha ficou furiosa com o que Beatrice disse, ela tentou partir pra cima dela porém, dois homens a seguraram. 

 E finalmente eu e Bia saímos do prédio. Nós paramos na calçada para conversar.

 — Então você é um doente mental? — Beatrice dizia em um tom de voz irônico. 

 — Bom, pode se dizer que sim eu acho... Eu tenho alguns transtornos... Mas você realmente quer saber disso? Eu nunca falei sobre isso com alguém.

 — Claro que quero saber! Nós somos amigos, não somos?

 — Claro que somos!

 Eu estava bem nervoso e com bastante medo, mas finalmente eu iria falar sobre meus problemas com outra pessoa, com um amigo.

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