Capítulo 24

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»Capítulo 24

 Por incrível que pareça, não senti aquela sensação da personalidade, só senti que eu precisava descarregar a raiva.

 — Calma, Aitken! — Minha mãe dizia.

 Só minha vó me chamava assim, isso me deixou com ainda mais raiva.

 Meu pai se levantou e ficou encarando os hematomas nos meus braços.

 — Olha, Adam. — Ele dizia, em um tom de voz calmo. — Você não precisa ficar tão raivoso assim, por favor, se acalme.

 — AH! CALA SUA BOCA, SEU BRUTAMONTE! EU ACHO QUE VOCÊ TAMBÉM DEVERIA TER SE ACALMADO QUANDO ME ESPANCAVA! E TAMBÉM PODE ESQUECER SUAS DESCULPAS ACEITAS, MÃE!

 Ok, não sei como tive coragem de gritar isso pro meu pai e pra minha mãe. Meu pai é tão forte que ele é tipo o The Rock, só que branco e ruivo, minha mãe pode usar isso ao favor dela.

 Me levantei e fui em direção a porta, eu já tinha escutado muita coisa.

 — Adam! — Beatrice dizia, vindo atrás de mim. — Me espera!

 — Eu tenho um assunto pra resolver, Beatrice, me deixa em paz.

 — Deixa eu ir junto!

 — Beatrice, se toca! Isso também é culpa sua! Você foi sem noção, e insistiu para eu voltar pra esse inferno! E eu fui mais idiota ainda e aceitei! Você é uma egoísta!

 Nossa, eu sou muito imbecil, por que falei isso?

 Beatrice me olhava com uma cara que dizia "Então, tá bom, seu acéfalo do cara***!".

 — Tá bom, então, vai resolver seu assunto.

 Não respondi , só fui andando pra longe dela, sem olhar para trás. De longe, eu pude ouvir um "Seu lesado!", vindo de Beatrice.

 O "assunto" que eu tinha para resolver era só pegar minha blusa na escola e ir embora. Então, foi para a escola que eu fui.

 Chegando lá, haviam um monte de garrafas de vidro vazias espalhadas por todo o lado, todos estavam distraídos, tomando vodca e cerveja. Aproveitei o momento e peguei a blusa, que continuava largada no chão. Parecia que ninguém tinha me visto, então, saí o mais rápido possível, até que ouvi a voz de Guilherme:

 — Olha só quem voltou! O meu amigo, Adam! Voltou pra apanhar mais? — Ignorei e continuei andando.

 — Ae! Adam! — Alguém colocou a mão no meu ombro, olhei para trás e vi Nicolas. — Acho que não terminamos a brincadeira, não é mesmo?

 Tirei a mão dele de mim e apressei o passo.

 Ouvi passos atrás de mim, e quando olhei para trás, tinha o grupinho dos populares querendo me espancar.

 — Acho que agora não tem como você fugir, não é mesmo?

 Guilherme dizia, enquanto estralava os dedos.

 Olhei para a direita e vi uma garrafa de vodca vazia, peguei ela e a bati na parede, fazendo com que ela quebrasse e se tornasse uma "arma".

 — Oh! Você vai se defender com isso? — Nicolas dizia, dando risada. — Aposto que nem deve cortar!

 Todos os outros riram.

 — Ah! Então não corta é? — Levantei um pouco a manga da blusa, e passei de leve a parte que parecia mais afiada da garrafa na minha pele, só isso já fez com que meu sangue pingasse no chão. (Isso doeu muito, fiquei com vontade de chorar, mas como eu estava bancando o corajoso, eu segurei o choro.) — E aí? Alguém mais quer ver se corta ou não?

  — Não, Adam! — Guilherme falava, enquanto forçava uma risada. — Pode deixar isso de lado! Não é mesmo galera?

 Os outros concordaram.

 Depois disso, eles saíram correndo de volta para a quadra.

 Quando finalmente saí da escola, a dor parecia ter piorado, a vontade de chorar havia voltado, e estava ainda mais forte. Me assustei quando vi Beatrice do lado do portão, ela estava me encarando com um olhar firme.

 — Que m**da é essa no seu braço? — Ela apontava pro braço que eu tinha cortado com a garrafa. Foi aí que percebi que tinha uma poça de sangue que havia na blusa. — Não sabia que você bebia bebida alcoólica. 

 É incrível como Bia ainda se preocupou comigo, mesmo eu tendo xingando ela.

 — É... Bem... Como eu te explico?

 Eu estava me controlando muito pra não chorar.

 — Eu acho que nem precisa explicar, a garrafa tá quebrada, com sangue em uma ponta e está sendo segurada pela sua mão direita, você é destro, a manga esquerda da sua blusa tá manchada com alguma coisa vermelha e você tá segurando o choro. Parece que você foi descoberto por Beatrice Holmes.

 — Ok, Sherlock, eu confesso, me cortei com essa garrafa, mas foi por uma boa causa.

 — E qual seria essa boa causa?

 — Os moleques da sala, eles queriam me bater de novo, aí eu quebrei essa garrafa pra me defender e mostrei que ela cortava muito bem. Agora eu tô quase chorando na frente de uma pessoa que xinguei a menos de 20 minutos atrás, acho que te devo desculpas.

 — Ah, tudo bem. — Ela sorria pra mim, parecia um sorriso meio envergonhado. — Acho que realmente fui muito egoísta, eu deveria saber que você não estava pronto para vir pra cá, tanto é que vi a sua outra personalidade agindo e ela não é muito legal. Então, quem te deve desculpas sou eu.

 — Eu que te devo desculpas! Foi eu que perdi o controle!

 — Eu que te devo desculpas! Foi eu que te trouxe pra cá!

 E assim ficamos por uns 15 minutos, a teimosia dela é simplesmente incrível.

 — Tá bom, Beatrice! Desisto!

 — Sabia que eu ia ganhar. Então, você aceita minhas desculpas?

 — Humm, aceito.

 Ela comemora dando um grito bem alto.

 — Quase me esqueci! Deixa eu ver o seu braço.

 Nem deu tempo direito de mostrar o braço para Beatrice e ela já passou um merthiolate no meu corte. (Ardeu muito, eu fiquei chorando que nem bebêzinho.)

 — Prontinho, neném! — Beatrice dizia, enquanto colocava um um bandeide no corte. — Pronto, vou dar um beijinho pra sarar.

 E ela realmente deu um beijo no meu braço.

 — Bia, por que diabos você tem um merthiolate na sua bolsa?

 — Bem, nunca se sabe quando vai precisar, por isso eu tenho uma farmácia dentro na minha bolsa. Mas, mudando de assunto, vamos embora?

 — Vamos.

 O que eu mais queria era ir embora daquele lugar e voltar para o meu apartamento.

 Beatrice chamou um táxi para nos levar ao terminal da cidade. Enquanto nós esperávamos o taxi chegar, Beatrice perguntou:

 — Adam, sobre a sua outra personalidade... Ela tem algum nome?

 Senti aquela sensação de novo...

 — Samael, pra você, gata.

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