»Capítulo 20
- Ah, Bia, eu não sei se vou ou não.
- Ah, Adam, vai ser divertido!
Tenho quase certeza que o divertido de Beatrice, não tem o mesmo significado do meu divertido.
- Eu não sei, Beatrice.
- Ah, vamos! Por favor! A gente vai embora rapidinho!
Ela fez aquela cara de cachorro pidão de novo.
Não resisti.
- Tá bom, eu vou.
Ela comemorou me dando um abraço.
Não fazia sentido eu ir para a minha cidade natal tão cedo, mas pela animação de Beatrice, eu ainda tinha um fio de esperança que iria valer a pena, só por vê-la feliz daquele jeito.
Eu obviamente não estava tão animado como Beatrice estava, ela parecia que ia explodir de ansiedade, tanto é que ela já estava escolhendo o que iria usar amanhã.
Ficamos por algumas horas no tédio, só assistindo umas bobagens na TV, não tínhamos muita coisa para fazer. Eu não me importei tanto com isso, já Beatrice estava bem inquieta.
- Eu não aguento mais! - Beatrice dizia. - Vamos fazer alguma! Jogar algum jogo, sei lá!
- Qual jogo?
- Ah, tem vários, stop, eu nunca, forca, verdade ou desafio, cama de gato, strip poker. - Fiquei bem perplexo com isso, olhei para ela estando meio envergonhado. - É brincadeira, calma! - Ela deu risada. - Eu não sei jogar poker. - Ela deu um sorriso meio malicioso (e ficou fofo). - Mas voltando ao assunto, o que você quer jogar?
- Pode ser stop.
Pegamos duas folhas de papel e duas canetas e começamos a escrever os temas. Apostamos que quem perdesse iria lavar a louça.
Ficamos por algumas horas jogando, e acabou que Beatrice perdeu umas 7 partidas seguidas para mim.
- Você é muito bom nisso! Eu desisto!
Beatrice dizia.
- Ser bom no stop é uma das minhas habilidades secretas, tão secreta que nem eu sabia.
- E você tem outras habilidades secretas?
- Tenho.
- Agora eu quero saber quais são.
- É segredo, e elas nem são tão úteis.
- Tá bom, e como você aprendeu essas habilidades ultra secretas?
- Eu sempre fugia de casa saindo pela janela do meu quarto, sempre ia a algum lugar, na maioria das vezes na loja de disco e nas outras vezes para uma LAN house que ficava lá no bairro, e lá eu pesquisava coisas na internet e aprendia elas. Lembro que eu sempre pedia fiado pro dono da LAN house, e eu pagava tudo no final do ano, mas quando meus pais me expulsaram de casa não deu tempo para pagar, então dei um calote nele sem querer.
- Coitado! - Beatrice dava gargalhadas, e eu comecei a rir também. - E você vai pagar ele amanhã?
- Talvez, se ele lembrar de mim, eu pago.
Nós dois demos risada.
Depois disso, fomos almoçar e quando terminamos, Beatrice ficou lavando a louça e eu ouvindo meus pensamentos.
Fiquei pensando que talvez meu TPE estivesse melhorando, eu não estou me sentindo tão incapaz como me sentia antes e também consegui aceitar a crítica da banda sem ficar chorando. Acho que eu ao todo estou melhorando, não vou dizer que estou 100% curado de tudo, mas acredito que pelo menos um pouco eu melhorei.
E isso significa que Beatrice está fazendo bem a mim.
Quando Beatrice terminou de lavar a louça, ficamos conversando até a noite cair. Bia ainda estava extremamente animada para o encontro amanhã e eu estava só meio inseguro.
Beatrice dormiu logo, "Quero que amanhã chegue logo." era isso que ela dizia. Fiquei acordado até de madrugada, pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo, criando algumas possibilidades na minha cabeça, mas mesmo assim, consegui dormir.
Acordei com Beatrice toda animada dizendo:
- É hoje! É hoje, Adam! Acorda! A gente tem que se arrumar!
- Tá bom! Já tô acordado!
Nos arrumamos, tomamos café e fomos para um terminal de ônibus perto de minha casa, para pegar um intermunicipal até nossa cidade natal.
Eu não gosto muito de pegar ônibus, porque ele sempre está lotado e eu me sinto meio sufocado.
Por sorte conseguimos pegar um ônibus vazio, então foi bem mais tranquilo.
No caminho até nossa cidade, ficamos apontando para coisas meio estranhas e dando risada delas, isso me ajudou a esquecer um pouco da insegurança.
Quando chegamos a um terminal da cidade, pegamos um taxi até o nosso bairro. Ao longo da viagem, tive uma sensação de já ter visto tudo isso antes (provavelmente porque eu realmente tinha visto antes, quando me mudei para a capital).
Ao chegarmos no nosso bairro, percebi que ele continuava a mesma coisa de uns 3 anos atrás, continuava tranquilo, com crianças brincando na rua e as portas das casas abertas.
- Que saudades daqui! - Beatrice dizia. - Deste ar puro! Dessa tranquilidade!
Bem, devo aceitar que eu estava com saudade do ar puro e da tranquilidade dessa cidade, mas só isso mesmo, do resto eu não sentia nenhuma falta.
- Como você está se sentindo, Adam?
- Eu acho que normal.
- Caso você quiser ir embora, é só falar.
Eu queria ir embora naquele exato momento, mas não queria estragar a felicidade de Beatrice. Então acabei falando só um "Tá bom.".
- Biazinha!
Ouvimos a voz de mulher que parecia já ser idosa.
- Quem tá te chamando?
Perguntei a Beatrice.
- Só tem uma pessoa que me chama de Biazinha. - Ela olhou para trás. - Vó!
Quando olhei para trás, vi uma senhorinha muito fofa, ela tinha o cabelo todo branco, curto e também tinha alguns cachos como o de Beatrice, ela também tinha os olhos verde claro.
Beatrice correu até a senhora e deu um abraço nela.
- Quem é esse aí? - A senhora dizia apontando para mim. - É o seu namorado, Biazinha?
- Não, vó! É o Adam, aquele ruivinho que morava aqui, você não se lembra?
A vó de Beatrice me olhava de cima a baixo, tentando se lembrar quem eu era.
- Agora me lembrei! É aquele ruivinho que vivia fugindo de casa! Ora, vem aqui me dá um abraço!
Eu não esperava por isso, pra mim ela iria me xingar ou algo do tipo. Mas de qualquer forma fui abraçá-la, tive que me curvar um pouco, porque por incrível que pareça ela era menor que Beatrice.
- Ela nunca acreditou no que os outros diziam sobre você.
Beatrice dizia cochichando no meu ouvido.
Fiquei feliz ao ouvir isso.
- Você foi meu injustiçado, meu jovem. Suas avós me contaram muito sobre você.
Me assustei um pouco com isso. Como ela conhece minhas avós?
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O Diário de Adam (Hiatus)
Fiksi Umum"O Diário de Adam" mostrará a vida do jovem Adam, que até então, tinha uma vida pacata e solitária em seu apartamento. Desde criança, ele sofreu muito, os seus próprios pais o batiam e xingavam, os socos que seu pai lhe dava eram tão fortes, que c...