Capítulo 21

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»Capítulo 21

 — Como a senhora conhece elas?

 Perguntei. Gaguejei um pouco, mas ela conseguiu entender o que eu disse.

 — Eu as conheço desde quando elas botaram o pé aqui, nós sempre ficávamos conversando até a noite vir, elas eram muito queridas aqui. Conheço elas e seus pais, só você que não conheço muito bem. Mas imagino que você queira saber o porquê de ser tão odiado aqui, não é?

 — Sim, eu sempre quis saber.

 — Pois bem, eu irei te contar. Você foi alvo dos causos sobrenaturais que sempre inventam em cidades do interior, como essa em que vivemos. Sempre tiveram inveja de sua família e sempre quiseram prejudicá-la de alguma forma, então, quando você nasceu, perceberam que seus pais não ligavam tanto para você, mas seus avós, sim. Eles obviamente não podiam matá-los, então, esperaram até seus avós morrerem e assim, inventaram toda essa besteira que dizem sobre você.

 Fiquei boquiaberto com isso, paralisei por alguns instantes para tentar digerir tudo isso.

 Eu sofri por praticamente 13 anos da minha vida e ninguém me ajudou, porque inventaram um boato sem sentido sobre mim. Simplesmente não sei o que falar, só tenho vontade de chorar agora.

 — Sinto muito por isso, Adam. — Beatrice dizia. Ela me abraçou, a vontade de chorar só aumentou, mas consegui segurar o choro. — Você quer ir embora?

 Acenei com a cabeça que não. Mas, na verdade eu queria ir sim.

 — Olha! O pessoal está chegando!

 Beatrice dizia ainda me abraçando, ela apontava o dedo para a escola, onde alguns dos nossos antigos colegas de classe estavam chegando.

 — Vão lá se divertir, meus pequenos!

 A vó de Beatrice dizia.

 E nós fomos, eu sabia que não seria nem um pouco divertido para mim, mas eu queria deixar Beatrice feliz.

 Chegando lá, vi que a escola estava do mesmo jeito de anos atrás, ou seja, ainda estava velha e caindo aos pedaços. A festa/encontro seria na quadra, que também não tinha mudado, continuava com a pintura do chão de uns 10 anos atrás, as traves continuavam sem redes e enfim, aquela escola continuava um lixo.

 Já entrando na quadra, vimos todos os nossos colegas do terceiro ano, inclusive o repetente que teve a inimaginável honra de passar 15 anos na nossa escola (sim, ele repetiu 4 anos na escola, foram 3 no terceiro colegial e 1 no primeiro), ele era e é o mais velho entre nós, a grande maioria tem 20 ou 21 anos, já ele tem 25 ou 26.

 Quando entramos, todos ficaram nos encarando (quer dizer, eu não sei se estavam olhando para Beatrice ou para mim, provavelmente era pra ela), foram longos segundos dessa maldita encaração desnecessária.

 Até que...

 — Adam! Tá gostosa ein!

 Todo mundo deu risada.

 Era Guilherme, o famoso popularzinho "Por favor! Prestem atenção em mim! Eu preciso atrapalhar a aula nessa escola horrível para conseguir atenção!", ele e o seu grupinho eram os mais imaturos da sala e pelo jeito continuam sendo. Sinceramente, eu nunca gostei dele, sempre tive uma vontade de estrangula-lo, seria legal ver ele calar a boca para sempre (meu deus! O que eu tô falando? Não era para pensar nisso! Bom, de qualquer forma, não é como se eu fosse fazer isso).

 Depois disso, todo mundo se soltou, começaram a dançar e beber, mas ainda parecia que todos os olhares se fixavam em mim. 

 Percebi que Beatrice também queria ir se divertir, então não fiquei no pé dela, eu só iria atrapalhá-la. Acabei ficando só sentado em um canto, comendo bolo de tangerina que alguém havia trazido e tomando refrigerante de laranja, isso me lembra quando eu ficava nesse mesmo canto para não fazer educação física (educação física = futebol ou vôlei, porque era só isso que tinha para fazer na aula) e acabava sempre tomando uma bolada em alguma parte do corpo, que na maioria das vezes era algum dos populares que jogava a bola em mim, provavelmente querendo chamar atenção.

 Vi Beatrice dançando no meio da quadra, todas as outras meninas a acompanhavam na dança, ela estava feliz, então eu também fiquei. Os meninos conversavam e bebiam bebidas alcoólicas  em um outro canto, eles pareciam planejar alguma coisa.

 Depois de alguns minutos, os homens foram até o meio da quadra.

 — Ae meninas! Vocês querem jogar futebol com a gente?

 Nicolas dizia.

 Nicolas fazia parte do grupinho de populares do Guilherme, as meninas sempre quiseram namorá-lo, e ele, por assim dizer, "passava o rodo" em todas elas, é o famoso futuro portador de alguma(s) DST.

 Algumas meninas foram jogar, outras não, dentre as que não queriam estava Beatrice.

 Assim que formaram os times e começaram a partida, Bia veio até mim.

 — Por que você não veio dançar comigo?

 Ela perguntava.

 — Não é meio obvio?

 — Sim, é que eu só queria ouvir você falando mesmo. — Ela deu risada. — Você tá gostando da festa?

 Na hora que eu ia responder "não", a bola de futebol acertou minha barriga, me deixando sem ar.

 As pessoas iam se aproximando de mim, a maioria estava dando risada.

 — Aí sim, Tiagão! — Guilherme dizia, dando um tapinha nas costas de Tiago, que é outro membro do grupinho dele. — Levanta aí, ruivinho!

 — Sai de perto dele, Guilherme!

 Beatrice dizia. Ela estava em pé na minha frente, encarando Guilherme, que tinha o dobro de tamanho que ela tem.

 — Sai você da frente da frente, duende!

 Ele empurrou Beatrice e veio em minha direção.

 Eu ainda estava recuperando o ar.

 — Dá só uma nele, Gui!

 Nicolas dizia.

 Guilherme ia chegando cada vez mais perto de mim.

 Até que em um instante de coragem que tive, dei um soco na barriga dele, o deixando sem ar e saí correndo o mais rápido que pude.

 Nicolas tentou me segurar, mas não conseguiu, acabou tirando o casaco xadrez que eu vestia no momento, que deixou os hematomas dos meus braços todos a mostra.

 Corri para fora da escola, os populares ainda estavam me perseguindo e eu já estava sem fôlego. 

 — Adam, me espera!

 Ouvi a voz de Beatrice, ela estava um pouco longe.

 Acabei me escondendo em uma fenda entre uma casa e outra. Eles passaram correndo por mim e decidiram voltar para a escola. Assim que os passos deles cessaram, saí da fenda e vi Beatrice me procurando.

 — Beatrice! Aqui!

 Chamei ela.

 Ela veio correndo até mim me dando um abraço.

 — Você tá bem, Adam?

 — Tô sim.

 Ficamos abraçados por mais alguns instantes.

 — Bruce, é ele!

 Ouvi a voz de uma mulher, ela era familiar de mais.

 — Sim, amor! É ele mesmo!

 Era a voz de um homem, que também era familiar.

 — Adam! Meu filho!

 Os dois gritaram.

 Não podia ser, eram eles...

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