- Eu não quero.
Agnes estava desolada. Completaria dez anos em breve e seria encaminhada, junto de seu irmão, para uma escola de treinamento militar. Um antigo conhecido de seu pai estava ciente da chegada dela, mas não significava que estava feliz com isso, tampouco achava natural que houvesse uma garotinha em meio aos futuros guerreiros.
O peito de Alba doía ao ver os olhos tão expressivos de sua filha marejados e suplicantes, a menina não queria ir.
- Isto não é de imediato, filha! Ainda há tempo, não precisa se afligir. - passou a mão pelo rosto avermelhado dela.
- Eu quero ficar aqui.
- Então, não quer mais ser um soldado do palácio? - Lutero a questionou, enquanto se sentava à sua frente, ao lado de seu outro filho. A família toda estava no quarto das crianças. Milo, irreconhecivelmente calado.
- Isso eu quero, mas...
- Pequena, escute-me. - segurou as mãos delicadas de sua filha - É lá que você vai aprender a ser uma guerreira. E quando voltar, poderá calar todos esses mexeriqueiros desocupados do vilarejo.
- Não queremos que se magoe, meu amor, muito menos que pense que seus sonhos são motivo para se sentir envergonhada. - Alba voltou a falar. Já não sabia se estava se referindo mesmo àquilo que seus lábios proferiam.
A pequena garota passou as próximas semanas processando a ideia de ir para tão longe de casa para seguir um sonho e fugir do preconceito. Helena foi um dos fatores contribuintes para a aceitação dela. A adolescente, mais do que ninguém, aprendeu a apoiá-la em sua jornada de se tornar uma combatente real.
Agora, ela ajudava sua pequena amiga a arrumar a mala, o dia de partir era em poucas horas.
- Gosta deste vestido? Você pode usar amanhã de manhã para ir até lá.
A pequena apenas balançou os ombros, com descaso.
- Ei, por quê está tão desanimada? Estará mais e mais perto de realizar seu sonho!
- Nós não vamos mais ser amigas?
- É claro que vamos!
- Mas não nos veremos, nunca mais...
- Deixe de asneiras! É claro que voltaremos a nos ver, algum dia. - fechou a mala da garota. - Só não será com tanta frequência, como agora.
Enquanto Helena ajeitava as outras peças de roupas na pequena cômoda, Agnes tinha sua cabeça infantil fervilhando. Pensava em como não perder contato com Helena.
Por sua mente, passava todo o tipo de solução e situações onde duas pessoas passavam a maior parte do tempo juntas, e chegou à uma conclusão.
- Quer ser minha noiva, quando eu crescer?
É claro que Helena pensava ter ouvido errado. Estava cansada por estudar e trabalhar o dia todo, então, naturalmente tinha escutado a frase pela metade. Certamente, Agnes deve tê-la pedido para ser algum tipo de empregada, quando fosse noiva. Faria sentido, talvez a pequena quisesse que a garota fosse responsável por vestí-la, não?
- É claro! Por que não? - sorriu para a loira.
- Você promete para mim?
- Oh, sim. Sim, eu te prometo.
Pronto. Agnes estava com o coraçãozinho menos perturbado. Afinal, seus pais foram noivos, e hoje se vêem todos os dias. Até moram na mesma casa! Era tudo tão simples, não é?
No dia seguinte, pela primeira vez, a garotinha abraçou sua amiga adolescente, que se emocionou com o contato, tal como os adultos presentes.
Era hora de partir, e as crianças estavam se despedindo de seus pais e das criadas, que passaram a ser parte da família também.
Alba tentava não chorar ao ver seus bebês indo embora, para um lugar tão desconhecido por ela. Não podiam querer ser algo mais simples, que fosse perto de casa?! Lutero tinha um sentimento pesado de preocupação dentro de si, mas não deixava transparecer. Ao contrário da esposa, sabia que o que aguardava seus filhos, não seria fácil, principalmente se tratando da pequena garota de cabelos loiros.
Era uma comoção total no povoado. A carruagem era preenchida pelos filhos de quase todas as famílias ali. Milo conhecia grande parte dos garotos que o acompanhariam na sua viagem, mas seu pai lhe dera uma missão: não deixar ninguém magoar sua gêmea. E o rapaz levaria a sério sua tarefa! Estava alerta à todos os olhares de repulsa dos adultos presentes na rua.
Helena deu um último abraço em Agnes, beijando sua testa.
- Não esquece do que você me prometeu. - a voz suave da garotinha sussurrou. - Me espera voltar, a gente vai se ver sempre.
- É claro! - a adolescente sorriu para sua melhor amiga - Vou te esperar, pequena.
Dito isso, Agnes recebeu um abraço apertado de seus pais, assim como seu irmão. Alba sussurrava palavras carinhosas para seus filhos e Lutero acariciava seus cabelos.
Milo e Agnes entravam na grande carruagem militar, protegida por dois guardas, quando um deles interviu.
- O que ela está fazendo no meio dos moleques? - segurava a pequena garotinha pelo antebraço. Olhou com confusão e escárnio para seu colega.
- Solte minha filha de imediato! - Lutero se aproximou, já irritado - Não poderia estar mais mal informado, rapaz. O seu superior aguarda sua chegada, então faça o seu trabalho, e leve-os em segurança até lá.
Um guarda olhou para o outro e decidiram que aquilo não era problema deles, o capitão que lidasse com aquilo! Seja lá o que fosse.
Assim que Agnes fora liberada para acompanhar as outras crianças, seu irmão segurou sua mão, mesmo que não parecesse que a garota precisava de apoio.
- Eu vou te proteger!
- Está bem.
Os gêmeos apertaram seus dedos e foram levados para o desconhecido.
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N/A: Gente, mil perdões por não ter postado nada ontem, tive problemas com a internet, então, hoje teremos uma atualização dupla! Espero que compense pela falta de ontem. Por isso, a primeira atualização de hoje está sendo mais cedo, o próximo capítulo sai no horário de sempre, vejo vocês lá 🖤
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Prometa-me / [versão não revisada]
RomanceHá muitos anos, uma adolescente cometera o erro de selar um acordo curioso com uma criança. Acordo este, onde não via importância ou malícia alguma. Oras! Não é verdade que temos que dizer sim aos pequenos, para não chateá-los? O que a jovem não sa...