Agnes não estava completamente curada quando o dia da execução dos traidores chegou.
A mulher recusava a ajuda de qualquer uma das criadas para tomar banho, se vestir e afins, então demorava um tanto para se arrumar para sair.
Ouviu uma batida na porta, não conseguiu nem responder, Helena entrou no cômodo, assustando-se e à Agnes também.
— Meu Deus! Me perdoe, não sabia que estava...
A mulher virou-se para a parede, sentindo as bochechas arderem.
— Eu... não se preocupe, eu me vestirei agora mesmo, só... — enquanto falava, Agnes deixava o ar escapar um pouco, ao colocar a camisa, as costelas ardiam por baixo da bandagem.
— Quer ajuda?
Silêncio.
— Agnes?
— Eu... Está bem.
Helena olhou para Agnes, que tinha o rosto virado para a janela. Estavam envergonhadas, como mocinhas. Foi para perto da mulher mais alta, ajudando-a a encaixar seu outro braço na manga da camisa, parando à frente dela.
Tentou não reparar muito no corpo de Agnes, sem sucesso, no entanto. Seus olhos foram direto para a bandagem que circundava logo abaixo dos seios dela. Fora recém trocada, mas pelo esforço, havia um pouco de sangue fresco ali, deixando Helena arrepiada.
— Acho que posso abotoar sozinha. — ouviu a voz de Agnes e olho para cima, em direção ao seu rosto, que está próximo ao dela.
— Pode deixar, eu faço isto. — Helena obviamente disse sem pensar, mas passou a abotoar a camisa rapidamente. Quando terminou, olhou novamente para cima.
Os olhos de Agnes fitavam o rosto de Helena com exímia atenção, decorando detalhes que gostava na face dela.
— Agnes, temos de ir! — Alexandre falava, ao outro lado da porta, enquanto dava toques com as falanges.
Ambas se afastaram e sorriram uma para a outra. Então, seguiram caminhos diferentes para o mesmo local, onde aconteceria a execução de Hallomere e Hawise.
Os depoimentos não tinham nexo entre si, fazendo com que ambos fossem acusados de traição e atentado contra a vida do rei. Tygo também seria punido, mas como não estava diretamente envolvido, passaria dez anos como prisioneiro no calabouço.
Era um dia ensolarado. Nobres e soldados se dispunham à frente do pequeno pódio octagonal, onde um homem encapuzado aguardava os traidores.
Helena evitava olhar e deixava os olhos passearem pelas milhares de pedrinhas minúsculas ao chão, já Randall tinha a vista completamente vidrada na cena.
Seu pai, o primeiro a passar pelo carrasco, gritava seu nome, preenchendo o silêncio com pedidos de misericórdia. Dizia que amava o filho, que não entendia tal frieza.
Assim que a lâmina desceu contra seu pescoço, o silêncio voltou a tomar conta do lugar.
Alexandre e Pietro estavam presentes e, eles como ninguém, sabiam o motivo da reação de Randall, tal qual gerava curiosidade em Agnes.
Hallomere não disse uma só palavra antes de morrer, mas lançou seu último olhar de nojo para Agnes, cuspindo no chão em seguida.
Ali se encerrou o caso do atentado contra o rei.
Parecia mórbido, mas Helena estava com fome. Não deixara que sua atenção se focasse na cena bárbara à sua frente, então não estava enojada ou impressionada. Criminosos receberam o que mereceram, fim.
Viu que Randall conversava com um rapaz ruivo e decidiu procurar por Agnes. A encontrou no lugar mais oportuno, a cozinha.
— Teve a mesma ideia que eu. — Agnes se virou, com as bochechas cheias, como um esquilo. Helena riu — Não consegui tomar café da manhã, então estou faminta. Posso? — apontou para o banco onde ela estava sentada, Agnes fez que sim — Também não comeu?
— Comi.
Helena riu novamente. Voltava a se acostumar com a fome inacabável de Agnes.
Comiam em silêncio, até que Randall apareceu, com Alexandre e Pietro.
— Estão escondidas? — Pietro perguntou.
— Estava com fome. — Agnes respondeu.
— Quando é que não está, não é? — provocou-a.
— Eu estou de partida. — Randall se dirigiu à Helena.
— Oh, tudo bem. — se levantou — Podemos ir.
— Não, Helena, não entendeu-me. Estou indo embora daqui.
Alexandre suspirou, se sentando ao lado de Agnes, enquanto Pietro roubava um pêssego.
— Vai embora para onde?
— Vou para o sul. Palácio de inverno, recorda-se?
— Sim, sim, me lembro... — ela respirou fundo, absorvendo a informação.
Agnes já havia parado de comer e olhava fixamente para os dois, sendo observada por Alexandre.
— Agora que meu pai não está mais aqui, nada me prende à este lugar. Nem à você. Somos livres agora, pode ir para onde quiser, ou ficar com a casa. Tudo que era dele, agora pertence à mim e à minha "esposa". — e sorriu para ela — Você e sua mãe podem ficar. A casa é de vocês.
Helena o surpreendeu com um abraço. Ficaram trocando palavras ali, abraçados, até que ouviram palmas.
Pietro segurava o pêssego com os dentes, enquanro aplaudia.
— Vocês são um colírio!
— Cale a boca! — levou um tapa de Alexandre, na nuca.
— É isso. Irei para casa, fazer as malas e depois partirei.
— Eu vou com você! Tenho que conversar com minha mãe. — Entrelaçou seu braço no dele enquanto ele apertava a mão dos outros três presentes ali — Eu já volto, Agnes!
— Obrigado. — falou para os homens, que nada responderam verbalmente e saiu dali com Helena.
Agnes, Alexandre e Pietro se viraram para o balcão ao mesmo tempo.
Ficaram em silêncio por alguns instantes, mas Pietro não conseguia.
— Você teve uma luta corporal com Hallomere?
— Pietro! — Alexandre exclamou.
— Eu só quero saber como foi!
— Ele tentou me tirar de meu posto, enquanto o Conde fazia o resto.
— Que desgraça! Espero que tenha dado uma surr... ah, é. Parece que à qualquer momento ele vai entrar pela porta com o filho pendurado nele.
— Tygo foi encarcerado.
— Nossa, então você está em paz!
Agnes sorriu.
— Pode-se dizer que sim.
— As tropas vão se retirar, hoje mesmo. — Alexandre deu um tapinha amistoso nas costas de Agnes, levantando-se — Vamos para casa?
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N/A: Boa noite gente, tudo bão? Espero q vcs estejam curtindo, até amanhã 🖤
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Prometa-me / [versão não revisada]
RomanceHá muitos anos, uma adolescente cometera o erro de selar um acordo curioso com uma criança. Acordo este, onde não via importância ou malícia alguma. Oras! Não é verdade que temos que dizer sim aos pequenos, para não chateá-los? O que a jovem não sa...