Após recolher seus pertences e comunicar o cocheiro de sua partida, Randall comunicou aos criados que deviam se reportar diretamente à Helena, dali em diante.
Muitos funcionários foram dispensados, com uma espécie de indenização pelos anos em que tiveram que servir à Hawise. O Conde tinha riquezas para sustentar mais de cem famílias por décadas, Randall e Helena não viam por que haver tanta gente trabalhando ali.
Depois disto, o filho do Conde deixou as terras reais, para passar o resto da vida em paz, longe do mundo que o pai o fez odiar.
Helena e Joana continuaram morando ali, compartilhando a casa com algumas criadas que não haviam lar para voltar, Aaliz e Malli entre elas. Estavam seguras e confortáveis umas com as outras.
Infelizmente, no mesmo ano, Aaliz faleceu. Meses depois, antes mesmo de conseguir superar o luto por sua primeira amiga, Helena perdeu sua mãe.
A mulher se enfurnara no quarto que passara a ser de Joana , quando foram trazidas do povoado. Passou uma semana ali, sendo alimentada por Malli, que deixava uma bandeja com comida na porta do quarto todos os dias, mas não via Helena.
Pela primeira vez na vida, sentiu-se à própria sorte, completamente sozinha.
— Já até sabe o que irei dizer sobre isto, não é? — Pietro avisou, bebendo um gole de vinho. A taverna não estava muito cheia, já era alta madrugada.
— Nós sabemos, mas você irá falar mesmo assim. — Alexandre apoiou o rosto em seu punho, com o cotovelo escorado na mesa. O rosto levemente corado pelo álcool ingerido.
— Você tem que ir atrás dela. — Pietro disse, sendo imitado por seu colega.
Agnes não possuía o costume de consumir bebidas alcoólicas, então apenas mantia suas mãos ao redor do copo.
— Achei que já tivesse se declarado para ela. — Alexandre se mantinha em silêncio, sentindo o sono se apoderar de seu corpo.
— Achei que seria desrespeitoso com o matrimônio dela. — Agnes respondeu.
— Teoricamente você não estará desrespeitando o casamento de ninguém, já que Randall se foi.
— Nisto ele tem razão. Mas, só nisto. No resto não.
— Maldito bêbado! — Pietro ria — Ouviu o capitão. Eu estou certo, estou sempre certo. Então escute os mais velhos e vá atrás dela logo.
— Irei pensar sobre isto amanhã.
— Seja lá qual for a sua decisão, tome muito cuidado. Lembre-se de nossa conversa quando você... se descobriu.
— Não queremos que tudo se repita. — Alexandre a encarou.
— O que quer dizer?
Os homens se encararam.
— Não soube?
— Não.
— É claro que não! Se você não abriu sua enorme boca para falar nada, ninguém teria tanta falta de tato para relembrar aquilo! — Alexandre deu um peteleco na testa de Pietro.
— Eu só repasso fatos que vieram ao meu conhecimento.
— Mexeriqueiro.
— Por que não deita a cabeça e dorme, seu bêbado?!
Agnes pirragueou.
— Estava dizendo...?
— Oh, certo. Acontece que quando alguém como você se deixa levar pela paixão, e esquece da realidade cruel em que vivemos, tragédias acontecem.
— Do que está falando?
— Randall. — Alexandre endireitou a coluna — Randall perdeu uma pessoa amada, graças ao seu pai e... bem, todos os outros que não o compreenderam.
— Não percebeu como só há empregadas mulheres na casa do Conde?
— Sim, eu... pude ver. — Agnes tentava digerir a informação.
— Byuk era assistente do tutor de esgrima de Randall. Não sei como aconteceu, é óbvio, mas se apaixonaram. Hawise descobriu e deixou que eles continuassem com sua relação por meses à fio. — Pietro respirou fundo — Até que numa tarde, Hawise convocou alguns nobres para uma espécie de cerimônia. — Pietro parou de falar, com a voz um tanto endurecida, então Alexandre continuou por ele.
— Randall foi acorrentado à uma poltrona, enquanto Byuk foi torturado e espancado, até que não pudesse mais se levantar. — Alexandre apertou o ombro de Pietro — Isso foi chamado de "Cura", uma vez que, após isto, Randall deixou de responder com recusas, cartas de possíveis pretendentes. Acredito que foi nesta época que Hawise... comprou Helena.
— Como... — Agnes permanecia desconcertada — Como sabem...?
— Fui eu o escrivão requisitado para enviar os comunicados aos nobres. — Pietro tinha os olhos marejados — Quando se olha para Randall, é possível enchergar por todo o seu aspecto a dor que ele carrega desde aquele dia. O garoto era esplêndido e agora... se tornou apático. Só o vi sorrir para Helena, depois de tantos anos.
— Ela tem este dom. — foi o que a mulher respondeu.
— Entende por que lhe pedimos cautela? — Alexandre perguntou — Hawise e Hallomere estão mortos, mas há mais deles no mundo do que vocês.
— Agnes. — Pietro a chamou pelo nome, não por nenhum apelido carinhoso — Não deixe que façam com você o que fizeram com aquele rapaz. Faça o que sabe fazer de melhor e proteja sua garota, me entendeu?
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N/A: Boa noite, gente! Pra quem tinha curiosidade sobre Randall, tá aí a história dele. F no chat pra Dona Joana e Aaliz.
Até amanhã 🖤
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Prometa-me / [versão não revisada]
RomanceHá muitos anos, uma adolescente cometera o erro de selar um acordo curioso com uma criança. Acordo este, onde não via importância ou malícia alguma. Oras! Não é verdade que temos que dizer sim aos pequenos, para não chateá-los? O que a jovem não sa...