Capítulo 4

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A academia militar real era conhecida por toda a província por seus soldados extremamente capacitados e seu regente impecável.

O Comandante-oficial Alexandre era um dos soldados mais notáveis de todo o reino. Conquistara seu posto após a morte de seu antigo superior, na grande guerra, sendo nomeado pelo próprio. Foi considerado um herói por tomar a responsabilidade dos antigos parceiros para si e assumiu a academia. Se tornou um tutor respeitável e era reconhecido por seus méritos pela família real, sendo sempre lembrado quando o assunto é comandar tropas e conduzir uma missão real.

Alexandre via as carruagens com centenas de novos pupilos chegarem pelos portões. Faria a distribuição de turmas em breve, mas antes, gostaria de olhar nos olhos de todos aqueles garotos, não estava para brincadeira.

Seu almirante, Hallomere, veio caminhando, até parar ao seu lado.

— Mais um ano, não é?

— Vamos ver que boas surpresas os ventos nos trouxeram desta vez.

— Boas? Aquilo ali parece uma surpresa, mas nem de longe, uma boa. — Hallomere aponta para o pontinho loiro e cabeludo entre uma multidão de garotos. — Não acho que é um menino com síndrome de Sansão.

— É uma dívida que estou pagando. Deus... — Alexandre suspirou.

— Sabia que aquilo viria para cá?

— "Aquilo" é uma menina. Sua estadia aqui não vai durar muito tempo, creio que logo voltará para casa. Só tenho que cumprir com minha palavra.

— Você é mole demais, Alexandre. Tome cuidado com o legado de Dalibour. — Hallomere apertou o ombro do homem.

— Deixe-me! Não envergonharei seu amigo, no além túmulo.

— Bem, espero que recupere seu tempo perdido com esta bobagem. Vou me posicionar com Hakon. Meu filho quer conhecer os novatos.

O homem se despersou e Alexandre respirou fundo. Hallomere era o braço direito de Dalibour, antes de falecer. Era comum vê-lo citando o antigo comandante por aí, mantendo viva a memória e respeito dos outros para com o verdadeiro herói da guerra.

O rapaz saiu das sombras, se aproximando da multidão, que era organizada de forma impecável por seus auxiliares, permitindo que as crianças ali presentes contemplassem seu mais novo capitão.

Deu início ao descurso de boas vindas, que mais parecia uma sentença de prisão. Avisou à todos que ali não era nenhum tipo de lugar onde deveriam procurar diversão e travessuras. Ali, conseguiriam experiência e aprenderiam o significado de honra, além de entenderem a importância de saber o seu lugar, que é sempre abaixo. Abaixo dos oficiais, abaixo da família real.

Eram servos, soldados prontos para disporem-se  em risco para salvar vidas alheias.

— Vocês serão distribuídos em turmas de vinte. O Almirante Hallomere os designará!

Entao, o homem mais velho, que até então, passeava pelos corredores formados por crianças com seu filho à tiracolo, parou. Olhando em torno, começou a separá-los.

— Senhor... — sentiu a barra de sua camisa ser puxada e olhou para trás, com escárnio. Um garotinho loiro o segurava.

— Não tem permissão para tocar em mim, criança. O que quer?

— É que... — Milo estava assustado com a figura do homem, o encarando com olhos nada amistosos. — Pode me colocar junto com minha irmã, senhor?

— Como é, moleque? Está questionando minha decisão, por acaso? — o homem falava alto, em meio ao silêncio de todos no pátio.

— N-não, mas... — o pobre garoto gaguejava, se recusando a largar a mão de sua irmã.

— Fale alto!

— Está assustando ele. — a voz mais aguda dali foi ouvida, de forma contida.

— Ora! Então, você é a garotinha que decidiu imiscuir-se por entre os soldados. — Hallomere sorriu para seu filho, que o acompanhava — Como se chama, criança?

— Agnes.

— Muito bem, Agnes. — proferiu o nome da garota com ironia, enquanto olhava para aquela cena ridícula, de cima. — Acha que terá algum tipo de privilégio aqui, por ser uma garota? Está enganada. — sussurrou a última parte — Vou fazer com que volte correndo para a mamãe, aos prantos.

— Eu vou proteger a minha irmã! — Milo falou, agora sim, algo e claro, para o homem horripilante.
Hallomere riu, sua cria o acompanhou no gesto.

— Nada, nem ninguém vai te proteger do que te espera, Agnes. — o homem ignorou o garoto, se dirigindo somente à menina. — Seus grupos foram decididos, não quero ouvir reclamações. Dispersem! — decretou, segurando os braços dos gêmeos com força, obrigando-os a se soltarem.

— Escutem bem! — o homem, ainda com o punho cercando o pulso fino da garota, berrou, chamando a atenção dos demais meninos ali  — Espero que estejam cientes de que não tolerarei insolências, jamais! À partir de hoje, deixaram de serem crianças, são alunos, soldados! Entenderam?

Um "sim, senhor!" uníssono foi ouvido e as turmas foram dispersas, levadas aos seus alojamentos.  Já de noite, Alexandre procurou pela cabana número dezenove, onde Agnes se encontrava.

Bateu na porta e um de seus homens atendeu.

— Boa noite, senhor. — o cumprimentou.

— Boa noite. Quero ver a garota.

— Certamente, senhor. Eu não sei o que fazer com ela.

— Como?

— Veja bem, capitão. Com todo o respeito, não acho correto que ela fique misturada com os garotos. — o homem disse, levando seu superior até um cômodo, onde a garotinha dormia, num canto do chão, abraçada à sua mala, ainda com as mesmas vestes de quando chegara. — Deixar que se banhe com eles é... Não concordo com isto.

—Entendo... Por que ela está ao chão?

— Os rapazes a provocaram desde que chegaram aqui. Fui firme, senhor, a acomodei, mas, quando vi, ela já estava dormindo no chão do aposento. Talvez eu esteja agindo com condescendência, mas...

— Não, eu consigo compreender. Não previmos como seria com uma mulher por aqui. Vou me encarregar disto pessoalmente. Obrigado.

— Senhor. — o homem apenas esperou que Alexandre se aproximasse da garotinha, que abriu os grandes olhos, quando sentiu movimento perto de si. Ela se levantou, ainda sonolenta e com os pequenos sapatos nas mãos.

— Me acompanhe, por favor.

Alexandre levou a garota para outro prédio. Onde pôde se banhar de forma privada. Infelizmente, sem água quente, mas ela teria que se acostumar com isto. Assim que voltou, com os cabelos loiros pingando água por todo o chão, Alexandre a mostrou onde dormiria, temporariamente.

Uma cama improvisada foi montada em seu gabinete. Não parecia confortável, mas a garotinha se encolheu sob os tecidos postos sobre um banco de madeira maciça e adormeceu logo, complemente exausta e com frio.

Alexandre suspirou, pela milésima vez naquele dia. As coisas teriam de se adaptar, ele teria. Esperava que aquela pequena coisinha de cabelos compridos não dessem muito trabalho.

N/A: E, segunda att do dia! Mais uma vez, desculpa por falhar ontem. Mas, já deixo vocês avisados, se algum imprevisto acontecer e eu não conseguir entregar o capítulo do dia, eu compenso no dia seguinte, prometo! Espero que vocês estejam curtindo, até amanhã 🖤

Prometa-me / [versão não revisada]Onde histórias criam vida. Descubra agora