Capítulo 6

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— Muito bem... — Alexandre e Agnes estavam sentados frente à frente, na pequena mesa de jantar que possuía na acomodação do rapaz. — Vamos conversar, temos muito à resolver.

A pequena não conseguia prestar atenção no homem, com um prato de comida fumegante e perfumado à sua frente.

— Bem... você pode comer, enquanto me escuta. — Agnes atacou o prato, olhando fixamente para o moreno. — Você passará a ficar aqui. Comigo.

Agnes apenas mastigava. Alexandre pirragueou.

— Há de se concordar que sua presença e permanência aqui é um tanto... novo para todos e nem todos estão de acordo. Então, quero que se reporte à mim, que sinta à vontade e que saiba que está segura.

— O senhor Hallomere não vai deixar.

— Como é?

— O meu irmão disse que íamos ficar juntos, que ia me proteger, e o senhor Hallomere separou a gente. Se você ficar comigo, ele não vai deixar também. — as palavras saíram com tanta naturalidade, que surpreenderam o rapaz. — Acho que é melhor eu dormir na sua salinha, mesmo.

— Isto não vai acontecer. Eu sou o superior dele.

— Mas ele é mais velho. Os mais velhos que mandam.

— Então, me obedeça, sim? — quase gaguejou ao se ver usando a própria lógica da garotinha contra ela.

— Está bem. Eu posso comer mais? — perguntou, com um pouco de molho no canto dos lábios. Havia limpado o prato.

— Pode. — ele a serve — Não comeu?

— Hoje, não.

Alexandre suspirou. É claro que esqueceu de alimentá-la. Teria que dar uma guinada em sua rotina.

Seria como ter um filho.

Não, filho, não. Cruzes!

Seria como ter uma irmã mais nova.

Agora, era responsável por aquela... coisinha que devorava sua comida péssima como se fosse algum tipo de maravilha dos deuses. Faria o que fosse possível para auxiliá-la no que fosse. Estava ali para ser como ele, então, a ajudaria como pudesse.

— Então... está satisfeita?

— Sim, senhor.

— Vou te mostrar onde irá dormir, venha. — andou até o final do corredor e mostrou um quarto, que até então, não servia para muita coisa, mas que agora, tinha uma cama de solteiro e uma cômoda. — Suas roupas estão ali, pode... ficar à vontade para... — quando procurou pela menina, ela já estava dormindo, sentada ao pé da cama, encostada na parede. O homem a segurou, desajeitadamente e a deitou de forma correta no colchão, cobrindo-a com a manta.

Os dias foram se passando e Agnes se costumava com Alexandre, e vice versa. O rapaz, com seus vinte anos e a responsabilidade de um mundo em suas costas, pensou que fosse ser atribulador ter uma companheira tão jovem morando consigo.

Porém, Agnes era tão surpreendentemente quieta, que às vezes, esquecia de sua presença, no entanto, compensando este fato, era sempre uma surpresa quando a pequena retornava ao recinto. Já apareceu com inúmeros tipos de ferimentos, porém sem reclamar, jamais.

Acontece que os treinamentos braçais eram uma forma de preparar as crianças para os combates corporais futuros. Alexandre dava graças aos céus por, pelo menos as espadas, não serem tão nocivas assim para ela.

Agnes era empenhada, porém, desajeitada e constantemente deixada de lado pela maioria dos educadores, em especial Hallomere. Se via com dificuldade em alcançar os outros.

Oras, o homem havia deixado claro que, era fato que a garotinha não ficaria por muito tempo, e lá estava ela, todos os dias, presente em todos os períodos.

Alexandre decidiu que quebraria — mais uma vez — os protocolos, quando se tratava da pequena criança cabeluda de gênero feminino.

Começaram aos poucos, ainda conhecendo os limites da garota, mas o homem dispunha um tempo antes do jantar para ser o professor particular de Agnes. A ensinava o que deveria saber, de forma justa, para que pudesse acompanhar os colegas.

A criança aprendia rápido, sua determinação era clara como água, então, ficou cada vez mais e mais fácil o entendimento e entrosamento entre ela e seu tutor. Ainda não era de falar muito, mas se sentia realmente segura com ele e seu colega, Pietro, que lhe prometeu que a auxiliaria, quando fosse autorizada à contatar seus pais, através de cartas.

Agnes treinava um pouco de arco e flecha, no pequeno espaço aterrado na parte de trás, quando deixou sua mente se destrair pela primeira vez em muitas e muitas semanas. Parou para pensar em seu irmão, eram de áreas diferentes, mas sentia falta de vê-lo.

Fazendo ligação entre seus pensamentos, sentiu saudade de sua mãe e seu pai. O abraço dele era capaz de protegê-la de tudo, até do senhor Hallomere se ela quisesse, e o cheiro de sua mãe a fazia sentir que estava em casa, que estava com quem a amava, então prometeu à si mesma que daria o melhor de si para deixar sua família orgulhosa dela.

Não parecia, mas Agnes sentia o peso de ser uma criança considerada anormal por sua vizinhança. Era a única garota que já havia ousado sequer dizer que gostaria de atuar num encargo completamente tomado por homens fortes e bravos. Não pensava que traria algum tipo de vergonha à seus pais, então, se sentiu muito feliz ao saber que sua família não a odiava, por isso, devia muito à eles, cada vez que entendia mais e mais a importância do apoio que recebeu.

Então, pensou em sua amiga. Helena não aparecia em sua mente com frequência, mas estava com saudades dela também. Era estranho não tê-la costurando ou tagarelando sobre coisas que Agnes não entendia, pela casa. Gostava de desenhar, enquanto ela aprendia com sua mãe, era um ambiente agradável e, mesmo que não soubesse se expressar, era agradecida pela amizade de Helena.

Agnes era uma criança tão discreta, silenciosa e apática, que não aparentava ser tão madura e dona de sentimentos tão profundos. Era isso que Alexandre pensava, ao observar sua pequena nova amiga da porta dos fundos, segurando um copo de água para ela, que atirava flechas distraidamente, porém, errando consideravelmente menos do que o normal.

Era uma garotinha com muito potencial e garra, cuidaria para que ela não deixasse isto se perder.

N/A: Gente, oizinho! Vamos de segunda atualização do dia?

Quero deixar uma coisa clara: eu não entendo nada sobre escolas militares, então, vamos pensar que é mais ou menos como no filme da Mulan, mais especificamente na parte da música "Homem ser", onde a gente vê os soldados... aprendendo a ser soldados. É um mundo completamente fictício, então, não estranhem se virem algo que pensem "ué, mas isso não é assim"... POIS NESSE MUNDO É KKKKKKK. Só isso mesmo, espero que vcs estejam curtindo, até amanhã 🖤

Prometa-me / [versão não revisada]Onde histórias criam vida. Descubra agora