Cruzeiro

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Eu caminho pelos corredores do cruzeiro em direção a minha cabine, quase que correndo.

- Aurora, espera!

Jean pedia pra eu ir mais devagar, mas eu não ligava. Eu queria sair do meio daquelas várias pessoas e me isolar, as lágrimas caindo pelo meu rosto, enquanto eu colocava a mão no meu rosto, tentando esconder o meu estado de todos ali.

Eu pego o cartão que abre a porta da cabine, e entro. O quarto tinha tons de vermelho e dourado na parede, parecia bem luxuoso. Eu fiz questão de pegar a melhor cabine: queria fazer um cruzeiro, e queria que fosse o melhor possível, nem que eu precisasse pagar mais por aquilo. A cama king size de casal, comportava 3 pessoas facilmente nela, super confortável e cheia de travesseiros, do jeito que eu gostava. Uma TV grande, um banheiro com banheira e chuveiro elétrico, frigobar, sofá, e uma "parede" de vidro com uma porta, que dava acesso a uma pequena varanda com uma vista maravilhosa para o mar, e uma pequena mesa com duas cadeiras, provavelmente pro caso de os hóspedes quererem tomar café da manhã ou coisa do tipo olhando praquela vista estonteante.

Mas eu não estava ligando pra nada daquilo. A única coisa que tomava minha mente era Reiner, sua cara marcada, sua expressão de tristeza e desespero, e suas palavras.

- Aurora... – Jean falava depois de finalmente me alcançar. Ele entra no quarto e fecha a porta.

- Você viu... o rosto dele? – Perguntei, com o olhar vidrado no chão enquanto estava sentada na beira da cama.

- Sim. Ele parece que tomou uma surra daquelas. Mas Aurora, não quero que pense nisso. Não quero que pense nele.

- Como eu vou fazer isso, Jean? Como eu posso esquecer o Reiner da noite pro dia, depois de tudo o que aconteceu entre nós? – Eu respondo, com as lágrimas novamente insistindo em escapar dos meus olhos.

- Então você veio pra esse cruzeiro apenas pra chorar em grande estilo? Eu não vim aqui pra que você não aproveitasse essa viagem! Não me interessa como, dê um jeito de tirar ele da sua mente, ao menos tente pensar menos nele de alguma forma!

Depois de um breve período sem uma resposta minha, ele senta ao meu lado, e pega uma das minhas mãos, acariciando-a.

- Vamos dar uma volta por aí. Não quero que você fique dentro desse quarto todo o tempo. eu sei que tem muitas coisas pra fazer por aqui, e eu quero fazer tudo o que tenho direito. Mas eu vim por você, então quero aproveitar tudo do seu lado. E eu não aceito um não como resposta!

Ele fica me observando, esperando uma resposta. Eu enxugo minhas lágrimas com as costas da minha mão, e levanto da cama.

- Você está certo. Vamos andar por aí, ver o que temos para fazer. Afinal, serão duas semanas no meio do mar, praticamente. Eu não sei se vou conseguir esquecer tão facilmente, mas eu prometo que vou tentar.

Ele sorri e levanta da cama, ainda me puxando pelo braço, caminhando em direção da porta.

- Então vamos logo, eu tô curioso pra saber o que tem aqui!

- Jean, ainda temos que desfazer as malas!

- Faremos isso quando voltarmos. Vem!

Nós saímos do quarto, e vamos andando pelo navio, descobrindo tudo o que há nele. Eu já tinha visto algumas fotos antes de reservar a cabine para a viagem, mas ver com meus próprios olhos era muito diferente: o navio era luxuoso, iluminação por todos os lados, e pessoas de todos os tipos. Dento do navio haviam lojas de roupas, sapatos, joias, presentes no geral, academia, spa... era praticamente impossível ficar entediado naquele lugar, porque tinha atrações de todos os tipos e pra todos os gostos.

Nós passamos pelo salão de festas, onde estavam programados os shows de natal e peças teatrais como entretenimento para os passageiros; tinham três restaurantes, onde eram servidos as alimentações, caso não quisesse fazê-las na própria cabine, um bar com cassino ( no qual deveria enfatizar que Jean ficou vidrado e quase não quis sair dos balcões de bebidas quando descobriu que a passagem que compramos tinha open bar incluso), as piscinas externas, com cadeiras para pegar sol, bares com drinks e tobogãs na piscina, e um solarium ( que não era tão diferente das piscinas das quais já tínhamos visto, a diferença era que tinham mais itens de entretenimento e a piscina era maior, e também eram VIP's – Só os passageiros que pagaram mais poderiam ter acesso. – E, claro, eu e Jean tínhamos acesso. Como eu disse, eu queria que a viagem valesse a pena, então não economizei em nada). quando terminamos o nosso pequeno tour, já estava quase na hora do almoço, então aproveitamos para almoçar em um dos restaurantes.

- Cara, isso tudo é perfeito! Como eu nunca pensei em fazer um cruzeiro antes?! – perguntou Jean, enquanto comíamos.

- Não sei, talvez você só nunca se interessou mesmo, sobre pesquisar e tal. Acontece com muita gente, na verdade, fora as que têm medo de ficarem em alto mar. Titanic traumatizou muita gente, pode acreditar.

- Com certeza não a mim. Sempre que tiver oportunidade e dinheiro, claro, eu farei outro cruzeiro desses. Mas eu acho que o próximo vai demorar, tendo em vista o valor que foi este que estamos fazendo. vai me custar um rim...

- Mas muita coisa influencia no preço, Jean. A data, o destino, quantos dias de viagem, a cabine, o que vem incluso... esse saiu mais caro pois é período de fim de ano, são duas semanas para a Itália de ida e volta, cabines externas executivas, e tudo incluso. Por isso saiu mais caro que o normal.

- É, pensando por esse lado, faz sentido.

Nós terminamos de almoçar e voltamos para o nosso quarto, e Jean já se joga na cama.

- Não, Não, Jean, a gente tem que desfazer as malas!

- Ah, daqui a pouco a gente faz isso! Eu tô cheio do almoço, e a gente caminhou muito pela manhã! vamos ao menos descansar um pouco. Deita aqui comigo. – Ele diz, batendo no espaço vazio ao seu lado na cama.

Eu o observo por alguns instantes pensando na oferta tentadora de me esparramar na cama enorme e fofinha, e cedo a preguiça que tomou meu corpo só de pensar na proposta dele. Ele me puxa para perto dele, e eu deito minha cabeça em seu peito, passando meu braço pela sua cintura, enquanto ele beija o topo da minha cabeça, e afaga meu cabelo.

- Obrigada, Jean.

- Hum? Pelo quê?

- Por tudo.

Ele sorri e me abraça forte, e eu não tenho como descrever o quanto é reconfortante estar desse jeito com ele, o quanto ele me faz bem. Não importa pra onde eu vá ou quais lugares eu conheça, o abraço dele sempre será um dos meus lugares preferidos de estar. Não demora muito até eu ouvir o seu ronco baixinho, e pouco tempo depois, eu adormeço ao seu lado.

Fila Ranqueada - Reiner BraunOnde histórias criam vida. Descubra agora