Capítulo XX

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O dia passou-se monótono e devagar, enquanto o RMS Carpathia cruzava calmamente o Atlântico Norte e seguia em direção a Nova Iorque, com mais de 700 sobreviventes do RMS Titanic a bordo, onde aquelas últimas almas se refugiaram até a chegada na América. Às 16h00min, em horário impreciso, no meio da tarde, mensagem de Ismay para Philip Franklin, em Nova York: “Com profundo pesar comunico que Titanic naufragou nesta manhã, após colisão com iceberg, do que resultou severa perda de vidas. Informações completas mais tarde.” Outro mistério: a mensagem não é enviada de imediato, ainda que autorizada pelo capitão Arthur Rostron, e só o será na quarta-feira, dia 17, sendo recebida no mesmo dia por Franklin, às 9h da manhã. Poucas horas depois no final do dia, às 18h16min (horário de Nova Iorque), recebida pela White Star Line norte-americana a primeira mensagem que dá conta do que realmente aconteceu. Vem do capitão Haddock, do Olympic. Enviada bem mais cedo pelo comandante do Olympic, demorou para chegar, mas jamais se descobrirá se o atraso foi intencional, relacionado com as manobras de ressegurar a carga. O sol estava indo embora, já havia feito quase 24 horas desde que o Titanic havia visto a luz do dia pela última vez, os últimos raios solares de cores alaranjadas e avermelhadas foram vistas com admiração e tristeza de muitos sobreviventes e passageiros a bordo do Carpathia. Às 20hrs foi servido o jantar para os passageiros e sobreviventes, e depois, alguns pediram sobremesa e outros preferiram deixar o salão logo após a refeição.

Por volta das 21h10min, os conveses do Carpathia já se encontravam vazios e desertos, o que se encontrava nele era apenas iluminações vindo do interior do navio e o vento passeavam pelo convés. Mas, logo uma moça de cabelos castanhos, pele branca e com um olhar triste e abalado adentrou pelo convés vazio e quase escuro. Com um sobretudo preto e quente, caminhou por alguns passos e olhou para o céu, observando as inúmeras estrelas que se mostraram naquela noite escura e gelada. Ela as observou com um olhar abalado e depressivo. Ela, Anne Laura Peterson, uma jovem de 24 anos e que havia sobrevivido ao desastre do Titanic, sendo resgatada da água nos últimos momentos. Era uma, das 700 almas que escaparam e entre eles, os gêmeos – que naquele momento estavam dormindo em camas quentinhas em outras cabines no navio – e enquanto isso, Anne passeava pelo convés dos botes, com as mãos nos bolsos do sobretudo e tentando-o se aquecer com o mesmo. Vez ou outra observava as estrelas, na esperança de ver um meteoro ou estrela cadente – como era muito frequente ver em noites estreladas como aquela.

Porém, em um determinado momento, ela olhou para as estrelas, fechou os olhos calmamente e no escuro da visão, ele apareceu com o seu belo sorriso. Ele, John George Phillips. O falecido telegrafista que sonhava em se casar e construir uma família, sonho esse que Anne passou a ser incluída nele quando ambos se encontraram no Titanic. Jack estava sorrindo e aparentava estar feliz por alguma coisa, mas, ele sumiu quando ela abriu os olhos novamente e o procurou ao redor, até mesmo o chamou. Mas não houve respostas. Porém, ela continuou a procurar por ele, mas como nas primeiras tentativas, não houve respostas. Sob passos calmos e com os olhos agora marejados, caminhou até a grade de proteção entre um bote e outro, segurou firmemente nela e observou as ondas do mar e o escuro horizonte. Com os olhos ainda imersos de lágrimas, observou o mar e soltou um suspiro que ficou trêmulo quando as lágrimas escorreram dos seus olhos. Ela ainda não acreditava, mas ele não iria mais voltar. Anne sentia falta do sorriso dele, da voz, do cheiro, do beijo, do abraço, do toque único e do jeito que a fazia ficar mais apaixonada pelo rapaz dos códigos Morse. Enquanto observava o oceano com lágrimas descendo dos seus olhos, ela lembrou-se de tudo que havia acontecido entre ela e ele. Desde o primeiro encontro em Godalming aos últimos momentos do poderoso Titanic, quando Jack caiu do alto da popa do navio.

— Porque me deixaste aqui sofrendo, Phillips? Porque? — ela questionou-se em lágrimas enquanto olhava o oceano. — Porque você me deixou aqui sozinha?

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