Epílogo

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Depois que os filhos saíram de casa, Zoé e Vicente passaram a ser novamente a única companhia um do outro como quando eram jovens, e esse encaixe lhes caiu muito bem mais uma vez. A vida sempre exigiu esforço e superação de obstáculos, mas ao chegarem tão longe, com filhos criados, netos lindos e saudáveis, sucesso profissional e vida amorosa esplêndida, eles sentiam que a vida tinha sim valido a pena, e agora poderiam aproveitar o tempo que possuíam somente para terem o máximo de tranquilidade que mereciam. O casamento nunca foi uma prioridade para nenhum dos dois. Vicente sabia em seu íntimo que um dia eles se casariam, mas tinham uma comunicação própria de almas, e convenções sociais simplesmente não merecia o menor resquício de atenção. O amor que sentiam era suficiente e somente isto. Ninguém entendia, mas eles não se importavam. Assim, depois de alguns anos que os dois se aposentaram e estando tão apaixonados quanto antes, decidiram enfim se casarem só porque finalmente tiveram vontade.

- Oh minha amiga Zoé, finalmente se casando... Meu orgulho sabe... - Manuela tinha os olhos marejados e segurava um lencinho nas mãos já gastas pelo tempo.

- Manu, só que você se casou já fazem 50 anos... Não acha que estou muito velha para que me case também e para que você ainda fique emocionada com isso?

- É claro que acho que está muito velha! É só olhar pra você! - Manuela indicou a figura da amiga com uma das mãos e depois de hesitar um pouco, Zoé concordou com a cabeça. Sabia muito bem quando a amiga falava algo para ofender, e não era esse o caso. Os anos de amizade só lhe mostraram que era irrelevante tentar fazê-la ter algum filtro, por mais que ela gostasse do jeito excêntrico da amiga, às vezes ela era incompreendida pela sociedade. Porém, agora com a idade, já tinha aprendido que tanto faz o que os outros pensam e Manu já tinha conquistado o direto de falar o que quiser sem que ninguém ligasse. Afinal, como ela mesma dizia, "uma das dádivas de ser idosa é finalmente falar o que pensa sem sentir remorso e de preferência dar uma de doida em paz". - Só que não acho que seja tarde para me emocionar. Poxa vida, você e Vicente tiveram 3 filhos! Depois de ter um casamento tão feliz quanto o que tive, era de se esperar que eu desejasse a mesma coisa para uma das pessoas que mais amo no mundo. Você, minha amiga.

- Eu entendo Manu. - E lhe apertou a mão. - Mas isso é só uma formalidade. Vi e eu fomos muito felizes sem precisar assinar nenhum papel. Se pudéssemos voltar no tempo, não mudaríamos exatamente nada. - Zoé se sentou em uma cadeira próxima. Depois de adquirir idade, ficava frequentemente cansada. E não só as pernas, mas múltiplas partes do corpo reclamavam com o esforço.

Manuela continuou:

- Esse Vicente hein! Ninguém dava nada por ele, e olhe só.

- Acho que ouvi alguém falando de mim. - Vicente se aproximou das duas velhinhas no salão, olhou para Zoé com seu vestido de casamento e suspirou de prazer. Era um vestido simples, a barra logo abaixo do joelho, mas ele jamais perderia a oportunidade de observá-la. - Você está linda.

- Você também. Essa barriguinha saliente só te fez ficar mais charmoso meu amor. - Eles sorriram um para o outro.

- Olha isso! Dá pra sentir a tensão sexual só de respirar o mesmo ar que vocês! - Manuela falou baixinho para que as crianças não ouvissem e se afastou, deixando os amigos sorrindo.

- Theo querido! - Zoé chamou o netinho mais novo que estava passando para que viesse até ela. - Pode falar para a sua mãe apressar esse casamento?

- Claro vovó!

Sabendo exatamente como Zoé se sentia, Vicente completou:

- Sua avó não aguenta mais esperar e o calor só está deixando-a mais cansada.

- Deixa comigo! - O menino de 12 anos e uma inteligência excepcional depositou um beijo no rosto da avó, um abraço no avô e se voltou para o salão em busca de sua mãe, deixando-os sozinhos mais uma vez.

- Vi, a Manu estava aqui emocionada por nós enfim nos casarmos, mesmo depois de tanto tempo.

- Você sabe que eu não mudaria nada na nossa história. - Vicente olhou-a com aquela característica intensidade desconcertante, e Zoé só poderia pensar que aquele homem havia envelhecido como vinho.

- Eu sei, acabei de dizer isso a ela.

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