Capítulo 26 - Melhor que Ficção

49 13 68
                                    


Do lado de fora, uma fila imensa se estendia. Zoé e Vicente passaram de carro pela fila, antes de entrarem no estacionamento subterrâneo da livraria. Luzes piscando se espalhavam por toda parte. Parecia até natal. Na mesa estrategicamente colocada ao fundo da livraria e em estantes extras rodeando a mesma mesa, estavam empilhados em montes alguns (muitos) dos livros da primeira edição de "Querido Contrato", como foi intitulado o livro de Zoé. Era o lançamento de seu livro.

Ela chegou de mãos dadas com Vicente para esperar pela abertura das portas. Eles andaram assim para todos os lados nos últimos 6 meses. O relacionamento estava mesmo muito firme.

- Não acredito que você ainda não me deixou ler o seu livro Zoé... - Vicente resmungou para ela baixinho enquanto se sentia extremamente orgulhoso da fila que tinha visto do lado de fora.

- Muita calma nessa hora Vi. Você não acha que está meio tarde pra continuar reclamando sobre isso sendo que faltam poucas horas para que você oficialmente possa enfim ler o que tanto quer. - Ela se pôs nas pontas dos pés e deu um beijinho singelo na bochecha de Vicente. Zoé não quis deixá-lo ler o livro antes do lançamento, pois mudou tudo o que pôde, até o último segundo possível. Aliás, é importante dizer que ela ainda não estava feliz com o resultado, mas se fosse esperar por isso, não iria terminar nunca.

- Eu sei, mas gosto de reclamar. - Ao mesmo tempo que queria ter lido antes, Vicente também não podia resistir à ideia de ter o livro físico e INÉDITO para que pudesse finalmente ler. Mas não ia admitir que ter feito isso antes e de outra forma, não teria a mesma graça. Era mais interessante reclamar, pois sempre que fazia isso, ganhava um beijo.

....

Após o fim do lançamento, Vicente foi para sua casa (coisa que ele fazia esporadicamente nos últimos meses, pois adorava dormir na casa de Zoé e não queria deixá-la sozinha depois que Manuela saiu do apartamento das duas). O momento exigia paz e tranquilidade, pois ele iria devorar aquele livro o mais rápido que conseguisse já que a sua curiosidade estava a ponto de ganhar vida e se tornar o Godzilla. Ele juntou uma boa quantidade de comida, levou tudo para a mesinha de centro da sala, colocou o celular no modo avião e se sentou em seu sofá em meio à bagunça de meses (talvez anos).

Vicente não dormiu, não foi ao banheiro, não teve contato com nenhum outro ser humano e não se levantou do sofá por aproximadamente 6 horas.

Quando terminou de ler, só havia um objetivo possível naquele momento. Ir até a casa de Zoé.

...

Zoé abriu a porta e viu que era Vicente.

- Vi! Graças a Deus! Eu estava preocupada com você! Tá tudo bem?

Vicente ficou parado por alguns segundos olhando a mulher que mais admirava em sua vida. Ele nunca teve a intenção de se casar, e sabia que Zoé também não tinha, mas, sem saber direito como ou porquê, naquele momento mais do que nunca ele soube que um dia teria que se casar com ela.

- Já sei. Você leu o livro inteiro de uma vez só. - Ela mordeu o lábio inferior, incerta se pelo olhar intenso e cansado de Vicente ele tinha gostado da história ou iria lhe dizer que sim, mas sem ter de fato achado um bom livro. Mesmo assim, teria que perguntar. - Então... O que você achou?

- Eu adorei o livro Zoé. Não sei como você faz essas coisas, mas você faz. Eu leria qualquer coisa que você escrevesse, até mesmo os rabiscos que tenho certeza que você fazia quando era criança.

Ela ficou encabulada inicialmente e tentou achar alguma condescendência em sua expressão, mas o que viu foi franqueza e é claro, um homem extremamente bonito. Observando-o novamente ela se atentou aos detalhes daquele homem lindo. Seus olhos castanhos profundos, seus cabelos presos em um coque alto e desalinhados de uma maneira perfeita, seus lábios finos e macios lhe contribuindo para mostrar o habitual conjunto de expressões que formavam o seu olhar de ternura, seus ombros largos, suas pintinhas no pescoço e, o melhor, que era invisível aos olhos e não era acessível a todos, sua alma. A conclusão que chegou é que ali não tinha nada além da verdade. Ele estava sendo honesto ao dizer que tinha gostado do livro pois era um homem realmente muito verdadeiro, e ela se sentiu grata pela milionésima vez só naquela semana.

Foi quando ele interrompeu seus pensamentos que tomavam rumos cada vez mais intensos dizendo:

- Te amo.

Zoé deu uma risadinha travessa.

- Eu sei. - Ela respondeu, simples e clara.

- Okay então... - Ele coçou a cabeça e deu um sorriso amarelo. -Que bom né... - Vicente não esperava uma pausa tão grande.

- É claro que eu também te amo, você é a melhor pessoa que eu conheço. É impossível pra mim não amar você.

- Agora melhorou. - Seu tom era de brincadeira, mas a força da sinceridade estava lá, enfeitando o momento. - Vamos no cinema? Depois que eu dormir bastante e que nós possamos debatermos a sua história é claro.

- Assistir um filme de ficção, esquecer nossos problemas e sonhar com uma vida doce como a dos filmes? - Ela perguntou.

- Sim, mas não imagina muito porque a doçura pode te raptar da realidade. É sempre bom manter uma escritora alerta. - Ele disse enquanto segurava as mãos de Zoé e a fitava cada vez mais perto.

- Sabia que eu finalmente gosto da minha realidade?

- Ah, é mesmo?

- É sim. - Ela não era a única que estava feliz com a própria vida naquele cômodo.

- Por quê? - Vicente passou os braços na cintura de Zoé.

- Porque só na minha realidade eu posso fazer isso. - E ela beijou-o de todo o coração, sentindo que estando nos braços de Vicente, o mundo era um lugar melhor. Definitivamente, esta vida é mais doce do que ficção.

Querido ContratoOnde histórias criam vida. Descubra agora