Apesar de não ter escolhido a dedo o que jantaria já que quem planejou todo o cardápio tinha sido o casal de noivos, Zoé achou toda a comida que lhes foi oferecida no self-service com uma aparência muito agradável. Como sempre fazia, pegou duas colheres de arroz, colocou uma colher de feijão por cima e completou o prato com algumas verduras e alguns pedaços de carne que ela julgou serem carne de boi. Apesar de muita comida preparada especificamente para aquele jantar, como lasanha e strogonoff, a menina preferiu fazer o prato mais simples para conseguir se sentir saciada. Comida chique não enchia barriga segundo ela, e naquele momento a sua fome era enorme. Com toda a arrumação de antes, parecia fazer horas que não comia.
Ao andarem em direção à mesa, apesar de pensar que teria que se esforçar para sentar ao lado de Vicente, não foi necessário. O rapaz se apressou em puxar a cadeira para ela e se sentou logo ao seu lado, o que foi de certa forma reconfortante.
Zoé olhou para o prato de Vicente e só tinha um pouco de arroz, feijão e verduras. Para puxar conversa ela perguntou:
-Você só vai comer isso Vicente?
O rapaz olhou um pouco surpreso para ela e respondeu em um tom calmo apesar de nervoso nas entrelinhas.
-Ah, é... Sim. Eu sou vegetariano, então não como muita coisa, quer dizer, muito tipo de coisa sabe, apesar de terem muitas opções elas não fazem o meu tipo... de refeição. Eu não me alimento com a maioria das coisas basicamente. – E deu de ombros olhando para o próprio prato.
-Eu não estava falando sobre o tipo de comida. Na verdade eu falava da quantidade, é que você é um cara bem alto e tal... Deve precisar de mais comida pra sustentar toda a sua estrutura corporal eu imagino. – E Zoé lhe lançou um sorrisinho amarelo que Vicente achou graça e sorriu, o que fez com que ele se sentisse um pouco melhor por perceber que ela estava finalmente prestando atenção nele.
-Nossa eu entendi tudo errado. – E sorriu um pouco mais. – Mas respondendo a sua pergunta no sentido certo, eu só não estou com muita fome agora, por isso peguei pouca comida.
A menina compreendeu que o rapaz deveria estar sentindo aquelas sensações que ela costumava sentir quando saía com alguém de quem gostava e se compadeceu totalmente dele. Afinal, ao contrário dela no momento, alguém ali estava realmente nervoso com a situação e deveria não conseguir comer normalmente quando o seu estomago estava estranhamente enjoado. Ela queria dizer a ele que ela era uma pessoa tranquila, que não ia julgá-lo por nada, que ele não precisava ficar nervoso e nem ser perfeito, que não havia necessidade de se sentir assim só com a presença dela. Mas ao mesmo tempo pensou que aí sim ele se sentiria desconfortável, já que se colocando no lugar dele, se alguém falasse algo do tipo pra ela em uma espécie de "encontro", ela provavelmente cometeria suicídio logo depois da conversa. Resumindo, seria bem humilhante. Por isso a menina logo evitou o pensamento de fazer algo a respeito e preferiu aproveitar a comida, tratando apenas de responder normalmente como qualquer conversa humana exigiria:
-Ah tá. – Para mudar logo de assunto, por não queria ser tachada de "fiscal de prato" ela fez o primeiro comentário que lhe veio à mente. – É bem legal você ser vegetariano. Não sei como consegue, mas é legal.
Vicente respondeu:
- Não é tão difícil quanto parece. Na verdade é bem fácil depois que você acostuma. – E lhe lançou mais um sorriso fofo. Ela estava se animando com a conversa. – E sobre o seu prato, não acho que você colocou muita coisa também. Você é pequenininha, mas poderia ter mais comida aí né.
- Pequenininha? Imagina! Tem muita gente mais baixa que eu tá! –Pausa para franzir os olhos falsamente ameaçadores para ele que assentiu dizendo um quase inaudível "arram" e voltou a encarar o prato. – Mas sobre a quantidade, é que eu tento não colocar comida que eu não vou comer sabe. Se eu colocasse o tanto que os meus olhos mandam isso aqui ia estar cheio, mas eu adoro deixar o prato limpinho quando acabo de comer, desde criança. Jogar comida fora me dá depressão. – E Vicente a fitou de lado enquanto ela olhava para o seu próprio prato e ele percebia que a cada milésimo de segundo gostava ainda mais de Zoé. Ele achou aquilo incrível já que também não gostava de desperdício também por questões ambientais.
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Querido Contrato
RomanceZoé é uma escritora frustrada de 24 anos que fez sucesso na adolescência contando histórias de aventuras infanto juvenis, e que agora precisa se reinventar no mundo da escrita. A editora com quem mantém um contrato desde então, cobra por resultados...