Capítulo 21 - Crime Ambiental (Parte 3)

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- Olá meninas! Só pra deixar claro, assim como não faço ideia do que o meu funcionário está fazendo aqui que agrida o meio ambiente, eu também não tenho a menor intenção de atacar vocês, pelo contrário, a única coisa que preciso é entender. Eu só gostaria de compreender. – O senhor parecia sincero, e só fez menção a esclarecer que não pretendia atacá-las por causa da linguagem corporal que emanava delas, visível e completamente na defensiva.

- Por favor fique onde está. – Zoé falou e o idoso parou de andar imediatamente. Ela não acreditava que ele fosse atacá-las, mas não confiava no homem parado mais ao longe, e pensou que o aviso serviria mais para ele do que para o velho de fato. Elas precisavam ganhar tempo. Os outros já estavam a caminho e chegariam a qualquer momento. - O Senhor está sendo sincero no que está falando?

- Poucas vezes na vida eu fui tão sincero em uma situação importante quanto estou sendo agora. – Zoé e Rafaela fitaram-no com os olhos semicerrados cheios de desconfiança, mas Zoé pensou que talvez ele estivesse falando a verdade, pois se estivesse mentindo, esse ator era dos bons, pensou.

Enquanto tentava decidir se acreditava ou não, Vicente, Gabriel, Otávio e Rafael chegaram por trás de onde as meninas estavam e se aproximaram a passos lentos. Vendo a aproximação dos meninos o velho resolveu se antecipar e começou a falar:

- Boa noite! Meu nome é Tarcísio Magalhães de Lima, e sou o dono dessa empresa. – Ele fez uma pausa e, como ninguém falou nada, prosseguiu dizendo: - O que quer que esteja acontecendo aqui, não tem o meu consentimento. Sou conhecido no mercado por gerar os maiores lucros no ramo de cosméticos de maneira sustentável e absolutamente ecológica, além de ser campeão em viabilizar e incentivar projetos e iniciativas progressistas que visem a proteção da biodiversidade. Até prêmios nós já ganhamos.

- E como você explica o fato de que a sua empresa tem um efluente líquido sem tratamento? – Vicente que agora já estava ao lado de Zoé perguntou.

- Como já disse para as senhoritas aqui, não faço ideia. – Tarsício gesticulou com as mãos demonstrando indignação e todos ficaram em silêncio novamente. – Eu estava com insônia como acontece quase todas as noites, e liguei a tv para assistir o jornal. Quando vi a reportagem de vocês, reconheci o local e soube que se tratava da minha empresa. E a propósito, também reconheci o meu funcionário entrando aqui neste horário que, eu garanto a vocês, não é nem de longe o horário de trabalho dele.

Todos ficaram em silêncio novamente, cada um com seu debate interno sobre acreditar ou não no que tinham acabado de ouvir.

E assim, a segunda visita chegou. Era a polícia.

...

Ao fim da explicação que se seguiu aos policiais que vieram através da denúncia de Manuela, o grupo de ativistas já estava um pouco mais flexível quanto a fala do seu Tarcísio, pois decidiram que ele merecia pelo menos o benefício da dúvida. Junto aos policiais, eles resolveram que entrar na empresa e ver de perto o que estava acontecendo era a melhor opção.

No momento de entrarem, seu Tarcísio percebeu que em meio ao seu transtorno de sair correndo direto pra lá, tinha se esquecido de trazer as chaves para entrar na empresa. Vendo a situação, os amigos logo se lembraram das chaves que Manuela tinha mandado fazer, mas não sabiam como contar que poderiam ajudar porque já tinham as chaves, sem parecerem psicopatas e sem ficarem mal vistos pelos policiais:

- Vi, a gente não pode desistir agora. Se esperarmos o Samuel sair, ele vai inventar alguma coisa, e mesmo estando literalmente na cara o que ele está fazendo, algum advogado desonesto vai achar um jeito de defendê-lo e livrar a cara dele. Ele precisa ser pego em flagrante! - Zoé sussurrou no ouvido de Vicente já desesperada pela provável injustiça que aconteceria mais uma vez. Só pra variar.

- Eu entendo, mas não tem como a gente entregar essas chaves assim do nada sem se "queimar", tipo: "então, olha que coincidência, nós temos todas as chaves do lugar e podermos usá-las para entrar. Que tal?" - Vicente sussurrou de volta e o homem barbudo que até então tinha se mantido quieto só observando o desenrolar da história, e que por sinal tinha uma excelente audição, decidiu que seria o momento de interferir. Para a surpresa de todos, ele queria apenas ajudar.

- Não tem problema, eu digo que peguei as chaves em casa antes de sair. Caso não saibam ele é meu pai. Digo, o seu Tarcísio. E eu moro com ele, então não será nada suspeito. Apesar do fato de que fiquei bastante curioso para descobrir como vocês conseguiram estas chaves mesmo não estando do lado do Samuel.- O homem semicerrou os olhos em sinal de desconfiança, mas Vicente achou que poderiam esclarecer as coisas conversando depois. O momento exigia dar atenção às prioridades.

E assim foi feito. As chaves foram entregues aos policiais que abriram os portões e entraram.

...

Enquanto isso, Manuela que não se aguentava mais em ficar dentro de casa com Juliana na supervisão das câmeras, decidiu que iria até o local para ver mais de perto tudo o que estava acontecendo. De fato, não seria Manuela se aguentasse passar por toda essa tensão gratuita sem estar "no meio do rolê". Sua natureza fofoqueira, característica a qual ela sempre se referia como "informada", não lhe deixava assistir algo quando havia a possibilidade de dar sua contribuição interferindo diretamente na questão. Assim, Juliana ficou sozinha e Manuela pegou um Uber para ir até a empresa.

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