- Oi Vi. Tudo bem? – O apelido que Manuela usava para falar com o menino tinha começado a pegar no vocabulário de Zoé.
- Tudo ótimo. É sempre um prazer falar com você Zoé. – Como ele consegue ser tão gentil? Ela pensou.
- Eu digo o mesmo. – E suas palavras eram sinceras.
- Obrigado. Bom, eu to aqui.
- Isso, eu só vou procurar os meus fones de ouvido rapidinho pra falar com você com mais privacidade. – E se levantando para procurar os fones ela até perdeu o rumo com o que Vicente falou a seguir:
- O que eu tenho que falar pra você não pode ser por telefone. Eu to aqui na porta da sua casa.
- O quê? Aqui, tipo, aqui?
- Sim, espero que tudo bem. – Ele já estava um pouco apreensivo por ter sido tão espontâneo tendo a ideia de ir até lá depois de pensar por exatos dois segundos, indo antes que desistisse e evitando refletir sobre as consequências, ou seja, resolvendo agir sem muita razão.
- Não, tá tudo bem, é que eu não esperava. Estou de pijama. – Ela logo se olhou no espelho e apertou os olhos com força para abrir mais uma vez e ver que magicamente tinha mudado de roupa ficando pelo menos um pouquinho mais apresentável. Mas como na vida real não existem fadas madrinhas que com um simples chacoalhar de varinha trocam a sua roupa esfarrapada por outra hiper glamurosa, ela ainda estava igual.
- Relaxa, é coisa rápida, só tenho que esclarecer algumas coisas pra você ficar por dentro do assunto. – Ele não se importava com o que ela vestia, e Zoé sabia disso, já que pra ela, sua simplicidade era um de seus charmes.
- Tá, eu vou abrir a porta então. – Assim, ela foi em direção à porta e abriu insegura.
Como já imaginava ele estava lá, lindo e aterrorizante ao mesmo tempo, como a própria natureza.
Vicente, percebendo a hesitação de Zoé quando ele abriu seu maior sorriso, tentou ser objetivo para que seus pensamentos se desviassem do fato de que ela estava visivelmente perfeita do seu ponto de vista, apesar de vestir um pijama "de frio" xadrez com mangas e pernas compridas bem folgado, mas na medida certa para que a sua imaginação ganhasse vida.
- Vamos direto ao assunto então. Você quer saber porque eu falei que achava que conhecia o Samuel, certo?
- Sim, é isso mesmo. – Aparentemente a tentativa de desviar os pensamentos tinha funcionado.
- Primeiro, me esclarece uma coisa. Ele é seu amigo de infância, tipo melhor amigo?
- Não. Ele é meu amigo de infância e talvez tenha sido um dos meus melhores amigos na época... Mas aconteceram algumas coisas e a nossa amizade se perdeu. Só agora que parece que a vida tá dando uma segunda chance sabe...
- Hum... Entendi. – Ele compreendeu com alívio que o cara não era assim "tão" importante. Ele poderia até ser importante, mas não demais.
- Mas por que você está querendo saber disso antes de me contar alguma coisa? Quando mistério Vicente.
- É que eu não queria te magoar destruindo a imagem que você tem do seu amigo. Porque se eu estiver certo e acho que estou, ele não é exatamente uma boa pessoa.
- Misericórdia me fala logo o que tá acontecendo. Desembucha. – O desespero agora reinava se sobrepondo à curiosidade de Zoé.
- Tá bom. É o seguinte. Você sabe que eu ajudo no grupo de limpeza dos rios né. A gente sempre sai pra recolher o lixo que tá entrando nos rios. Só que da última vez que eu fui, tinha uma fileira enorme de lixo vindo do meio do mato e jogando tudo na água, e olha, em grande quantidade. A maioria é um líquido escuro que recolhemos pra analisar, mas tem coisa sólida também. Quando a gente viu aquilo foi um misto de tristeza e raiva. Zoé, não sei nem explicar o que eu senti pra ser sincero.
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Querido Contrato
RomanceZoé é uma escritora frustrada de 24 anos que fez sucesso na adolescência contando histórias de aventuras infanto juvenis, e que agora precisa se reinventar no mundo da escrita. A editora com quem mantém um contrato desde então, cobra por resultados...