Capítulo 16 - Teoricamente Perfeito

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A aula de dança foi surpreendentemente boa. Vicente estava um pouco mais solto, e Zoé desconfiou que ele tivesse ensaiado em segredo nos últimos dias. Quando perguntou, ele disse que andou ensaiando sim, e teve ajuda de uma vizinha. A menina achou legal o seu esforço, mas não pode deixar de ficar um pouquinho receosa em saber daquilo, pois não era do tipo ciumenta sedenta por sangue, mas não conseguiu evitar ficar um pouco apreensiva. Devido a sua natureza insegura e de baixa autoestima, ela quis perguntar mais sobre a tal vizinha, mas com medo de estar sendo ridícula não perguntou.

Na saída da aula, discretamente, eles combinaram com Otávio, Manuela e Gabriel de se encontrarem para conversar na casa de Vicente. Seria uma reunião secreta e, por estarem com fome, disseram que logo depois de comer alguma coisa eles iriam. Manuela com sua cara maliciosa disse para Zoé e Vicente irem na frente pois assim teriam mais tempo para matarem a saudade depois do tempo que ficaram longe um do outro. Zoé se fez de desentendida quando a amiga colocou a boca perto do ouvido dela e sussurrou "matar a saudade quer dizer das "uns pegas" tá Zoé, pra você que não sabe. De nada". E assim cada grupo seguiu o seu rumo.

Chegando na casa de Vicente, Zoé se deparou com um prédio de apartamentos rústico de aparência clássica e elegante. As paredes tanto de fora quanto de dentro tinham tonalidades marrons que por ser tarde da noite e estar escuro com a luz baixa, ela não soube dizer se eram madeira ou simplesmente tinta marrom pelas paredes. Por ser um prédio antigo, não havia elevador, então eles tiveram que andar até o quarto andar que era onde o rapaz morava, sempre de mãos dadas, já que as mãos dos dois jamais se separavam agora, e o toque era tão natural que não foi difícil se acostumarem a segurar a mão um do outro com total familiaridade.

Quando Vicente soltou a mão da menina para pegar a chave no bolso da calça, uma senhora apareceu na porta ao lado. A mulher tinha estatura baixa, usava um vestido longo de algodão estampado com flores, cabelos penteados para trás tingidos de preto com pelo menos dois centímetros de raiz branquinha, olhos cansados em meio a seu rosto enrugado e cheio de maquiagem. O blush era tanto que as bochechas da senhora pareciam ter sido queimadas por um sol quente de no mínimo quarenta e cinco graus Celsius.

- Olá menino Vicente! É você! Como vai? Quem é essa moça bonita? – A senhorinha tinha um ar maternal tão intenso, que Zoé só conseguiu se lembrar imediatamente da sua bisavó que morrera há alguns anos e que era tão especial na vida de todos que a cercavam.

- Eu vou bem Dona Mariana! Essa é a minha namorada, a Zoé, a senhora se lembra que te falei dela?

- Zoé! Claro que me lembro menino! Não estou tão esquecida quanto vocês acham que eu estou tá!

Vicente deu risada.

- Cadê o João? Ainda não chegou?

- Ainda não meu filho. Ouvi passos e vim ver se era ele que tinha chegado.

- Ah entendi. Mas já que ele chega. E qualquer coisa é só chamar que eu já estou aqui.

- Obrigada querido. – A mulher se aproximou, colocou uma mão sob o rosto de Vicente com ternura, tirou-a do rosto dele e colocou no rosto de Zoé, dizendo: - Você é uma menina de sorte, ele é um ótimo rapaz e em breve um ótimo dançarino! – Dirigiu um olhar cúmplice para Vicente que corou e assentiu agradecendo.

Zoé se deu conta que ela era a vizinha que estava ajudando o menino a dançar melhor, e se sentiu uma tola por ter pensado em sentir ciúmes. Ele estava treinando com uma senhorinha de aproximadamente oitenta anos e ela estava a ponto de supor coisas que não faziam nem sentido, nem jus a dignidade daquele homem. Mesmo que a vizinha fosse jovem, ele não merecia a desconfiança dela. Assim, eles entraram no apartamento.

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