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HELLENA: 🌼

Pereira dormia ao meu lado, a respiração lenta e pesada, como se o peso do mundo não estivesse sobre seus ombros quando ele estava aqui comigo.

Eu, por outro lado, estava acordada, olhando para o teto, sentindo o calor da noite misturado com o calor do corpo dele, Meu coração batia num ritmo estranho, como se tentasse me dizer alguma coisa que eu ainda não queria ouvir.

Virei para o lado, apoiando o rosto na mão, e fiquei observando seu perfil, A luz fraca do abajur desenhava sombras suaves no rosto dele, Era engraçado como, mesmo parecendo tão durão na rua, dormindo assim, ele parecia apenas… humano.

Ele se mexeu um pouco, franzindo a testa, Talvez estivesse sonhando.

Passei os dedos devagar pelo seu braço, sentindo a textura da pele quente, Era um gesto bobo, mas eu gostava, Eu gostava de saber que ele estava aqui, que era real, que entre todas as confusões que cercavam nossas vidas, ainda existia esse espaço onde a gente podia simplesmente ser… nós.

Pereira: Tá me encarando por quê? — A voz dele saiu rouca, sonolenta.

Sorri.

Hellena: Quem disse que eu tô te encarando?

Ele abriu um olho e me olhou com aquele jeito dele, meio desconfiado, meio divertido.

Pereira: Tô sentindo tua energia pesada pô. — Revirei os olhos, rindo baixo.


Hellena: Para de falar besteira.

Ele se virou de lado, me puxando para perto, o rosto colado no meu.

Pereira: Qual foi? Tá pensando em quê?

Suspirei, mordendo o lábio.


Hellena: Em você, Em mim, Na gente.

Pereira: E chegou em que conclusão?

Hellena: Que eu gosto disso aqui.

Ele ficou em silêncio por um instante, depois passou a mão pelo meu cabelo, me puxando devagar até encostar a testa na minha.

Pereira: Eu também gosto disso aqui, Estranha. — Meu coração pulou uma batida.


Não era um "eu te amo". Não era uma promessa, Mas era sincero, E, por enquanto, isso era o suficiente.


Ele deslizou os dedos pelo meu rosto devagar, como se quisesse gravar cada detalhe, Era tão raro vê-lo assim, sem pressa, sem o peso da rua no olhar, Aqui, entre nós, era como se ele pudesse respirar diferente.

Pereira: Cê gosta mesmo? — ele perguntou, a voz mais baixa agora.

Assenti, mordendo o lábio.

Hellena: Gosto. — Pereira sorriu de canto, aquele sorrisinho que ele dava quando queria esconder alguma coisa.

Pereira: Isso é perigoso, sabia?

Hellena: Por quê?

Pereira: Porque quando cê começa a gostar muito de alguma coisa… o mundo sempre dá um jeito de bagunçar tudo.

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