— Quem você acha que foi?- Lisa mordeu um pedaço de seu sanduíche.
Ela estava meio sem chão, sem entender como alguém saberia da posição delas se não fosse por traição de alguém da equipe. A equipe que conhecem a cinco anos, que consideram família. Não poderia negar o coração partido.
—Com certeza é alguém que nos quer mortas.- Rosé estava sentada na janela da enfermaria, olhando para baixo enquanto bebericava seu café.— E com certeza é alguém que vou matar assim que descobrir.- Lisa assentiu.
—Enquanto a gente não descobre, é só você e eu.- Deu um suspiro pesado. Ela estava cansada. Emocional, física e mentalmente.
— E elas.- A loira apontou com o queixo para as duas mulheres nas macas.
Elas tinham várias locações diferentes ao redor do mundo, um dos luxos da vida de mercenária. Estavam em Budapeste, capital da Hungria. Ninguém da equipe sabia que elas tinham aquele lugar, a não ser as duas.
Aquele lugar em específico era horrendo por fora, dando a entender que estava abandonado. O prédio inteiro parecia querer desabar a cada vento que dava. Porém por dentro era bem iluminado, pintado e luxuoso até demais. Cada andar do prédio tinha um propósito diferente, sendo quatro: área de lazer e cozinha era o primeiro; enfermaria, quartos e banheiros o segundo; academia e dojô o terceiro e estande de tiro e arsenal o quarto. O térreo tinha os carros e motos das duas.
O prédio inteiro era equipado com segurança de primeira, quase impossível de ser invadido. Era seguro. Seguro e confortável, como ambas sempre sonharam.
— De onde você tirou a ideia de pegar essas duas?- Era a primeira vez em quase quatro dias que ela tocava no assunto. E também era a primeira vez que elas deixavam alguém que não fosse as duas ali.
Rosé não julgava Lisa em suas decisões, muito pelo contrário. Desde quando se conheceram, aos dezesseis anos, elas tinham passado por inúmeras situações que tudo que elas tinham era confiança de que a outra faria a coisa certa. Ela só queria entender como aquilo aconteceu assim tão do nada.
—Essa moça, Jennie…- Ela olhou para Jennie, que ainda não tinha acordado do "coma induzido" que Rosé tinha preparado para ela, assim como a outra. — Ela sabia que estavam atrás de nós. Se não fosse por ela, você teria morrido ali e provavelmente eu também.- Balançou a cabeça, se levantando.— Confia em mim, algo me diz que elas vão ser a chave pro sucesso dessa missão.
— Eu sei o quanto você precisa que sejamos bem sucedidas, mas…- A loira girou o copo, o café rodando no fundo do mesmo.— Eu não sei se posso confiar nelas.
—Eu também não, mas no momento temos um delator na equipe. Até sabermos quem é e o que vazaram de informação nossa, elas vão ser nossa fonte mais confiável.
Rosé assentiu.
— Eu vou achá-la, Rosie. E eles vão pagar por terem tirado minha irmã de mim.
Ela tinha aquele olhar determinado de criança teimosa. Para Rosé, era o que Lisa era: uma eterna criança teimosa. Nobre e inocente, sem muita noção de como a mente humana funcionava. Aprendeu a malandragem do mundo na marra depois que sua irmã mais velha, Pranpryia, havia sumido.
Ela tinha quinze anos e era a garota mais bonita do bairro, todos sempre estavam de olho nela. Além de bonita e engraçada, sua irmã também tinha um talento estupendo para música, tendo escolhido o violino como seu instrumento. Lisa só tinha doze quando recebeu a notícia de que sua irmã havia desaparecido sem deixar rastros.
Seu mundo caiu. Pranpryia era sua heroína, sua melhor amiga e companheira. A polícia disse que ela havia fugido, mas não tinham provas concretas nem nada parecido. Mesmo depois de muita insistência dos pais das garotas, a polícia arquivou o caso como apenas a fuga de uma adolescente rebelde.
Lisa não comprou a história, indo atrás de toda e qualquer pessoa que tivesse tido contato com sua irmã. Era só uma criança, mas mesmo assim… sua intuição sentia que sua irmãzona precisava dela, então ela nunca desistiu.
Mas tudo tem um preço. Ela começou a entrar em lugares que não devia, a andar com pessoas que não devia e seu temperamento mudou drasticamente.
Algumas entradas na prisão juvenil chamou a atenção de olheiros, principalmente por conta das inúmeras brigas que, se ela não ganhava, fazia ao menos um estrago grande.
Ela conheceu Rosé depois de ambas terem sido selecionadas para um acampamento para crianças com problemas emocionais, as duas lutaram até a última gota de suor pelo primeiro lugar numa competição na mata. Elas só não sabiam que ganhar o primeiro lugar era na verdade a forma de recrutamento para o treinamento de mercenários. O empate das duas foi a coisa mais impressionante para a recrutadora, a senhorita Yongsun. As garotas estavam num estado deplorável depois de quase terem se matado de tanta briga e mesmo assim, não desistiram. Foi o primeiro de muitos empates das duas.
Elas tinham dezessete quando começaram a ser treinadas em combate corpo a corpo, tiro, explosivos e tudo que pudesse ser usado para ajudar a matar ou neutralizar oponentes.
O único foco de Lisa era achar sua irmã, mas não havia por onde começar. Mesmo depois de Rosé hackear os sistemas da polícia, não havia nada. Era como se todos os arquivos tivessem sido queimados propositalmente.
E foram.
Lisa aos poucos foi descobrindo quem estava por trás do sumiço de algumas garotas, e, como esperado, foi eliminando um por um após interrogatório.
Isso foi dando mais missões à elas. Os figurões que as contratavam para fazer o serviço que a polícia não podia fazer iam ficando cada vez mais felizes em se livrar de alguns daqueles vermes. Para Lisa também era um alívio, cada um deles era um degrau até sua irmã.
Quando enfim descobriu qual grupo tinha pego Pranpryia, ela quase surtou. Uma filmagem de sua irmã saindo de um galpão com um dos capangas do Lobo foi tudo que conseguiu encontrar. Estava mais velha e bem magra, mas era ela. Com certeza era.
Isso foi há quase um ano, todas as pistas dando em becos sem saída.
Até ela descobrir as garotas preferidas do Lobo e da Víbora.
Elas seriam a chave da missão. A intuição de Lisa nunca falhava.
Rosé assentiu.
— A gente vai achar a sua irmã.- Se pôs de pé, puxando Lisa para ficar de pé também. — Nem que seja a última coisa que eu faça Lalisa, a gente vai descobrir onde ela está e acabar com aqueles desgraçados um por um.
Elas se olharam por alguns segundos, as mãos apertadas uma na outra. Lisa a puxou para um abraço de lado. Não era hora de chorar, era hora de agir. Quanto antes melhor.
— Hora de acordar elas.- Ela disse.— Enquanto isso preparo algo pra comerem.
Disse indo até a porta da enfermaria, se virando rapidamente.
— E por favor, seja gentil. A gente precisa da cooperação delas e elas já passaram por muita coisa.- Deu um olhar de advertência para Rosé.
—Hm.- Foi tudo que Lisa ouviu em resposta.
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Mercenárias - Livro I
RandomA regra para trabalhar como mercenária era clara: sem testemunhas. Uma mínima ponta solta pode custar sua vida e a missão, Lisa e Rosé sabiam bem disso. Mas como seguir essa regra quando alguém do seu próprio time armou uma emboscada para te matar...