VIII - Escolhas

58 12 13
                                    

Deixa seu fav se gostar amor, se esconde da autora não. ;)

*****************
Às 3h da manhã era de se esperar que não tivesse ninguém na rua, mas Jisoo estava muito ansiosa para se importar. 

Estava com um capuz na cabeça, segurando firmemente a alça da mochila que Rosé lhe deu. Rosé. Seus pensamentos foram para a loira de olhar sombrio. Sentimentos contraditórios vieram à sua mente enquanto suas pernas apenas andavam, sem pensar direito para onde iria. 

Ela tinha sido tão fria quando se conheceram, depois no avião. Era óbvio que Rosé não a queria por perto. Depois daquilo, tudo que ela conseguiu da mulher foram olhares de desaprovação e raiva. Certo que ela não estava sendo um doce também, mas quem seria naquela situação? 

Depois ela a buscou no estacionamento sem alertar a outra e a defendeu do "ataque" de mais cedo. Inclusive se colocando na frente do espelho que a mulher jogou em sua direção, não deixando que nada chegasse à ela; deu comida em sua boca (à força sim, mas por um motivo). E aquele olhar... ela estava sendo sincera quando disse que o assunto era pessoal e ela precisava resolvê-lo. Jisoo estava sentindo algo diferente. Proteção. 

Poderia ser por causa dos negócios, sim. Mas ainda era proteção. 

Ela parou de andar um pouco, embaixo da iluminação de um poste. Levantou a manga do moletom que usava pra constatar o que já imaginava: as manchas roxas que tinha estavam num tom claro, quase imperceptível. Pareciam meses que ninguém a tocava e ela se sentia... limpa? Talvez não fosse a palavra correta, mas era a única coisa que chegava à sua mente no momento. 

Respirou fundo olhando para o céu. Estava tão estrelado que teve vontade de sorrir. Fazia tempo que não levantava a cabeça daquela maneira, só pra apreciar alguma coisa. 

Olhando para os lados ela viu algumas pessoas abraçadas, andando de braços dados e cantando. Era assustador pensar que eles nem sequer sabiam que poderia existir de verdade tanta coisa ruim no mundo. 

O rosto do Lobo veio à sua mente, a voz rouca aos seus ouvidos. Seus olhos azuis que praticamente penetravam sua carne quando a olhava. Jisoo se sentiu pequena e fraca, assim como ele a queria. 

— Não.- Balançou a cabeça, tentando tirar aquele maldito de lá. — O que ele vai fazer? Me torturar? Quais métodos novos ele vai tentar? Ele já fez tudo...- Disse para si mesma enquanto suas pernas a forçaram a continuar andando. 

O vento gelado batia em seu rosto, o capuz cumprindo seu papel e cobrindo suas orelhas. 

— Jennie...- Parou, pensando pela primeira vez desde que ganhou sua liberdade de volta na amiga.— E se ele a pegar?

Pareciam duas pessoas distintas, dois pensamentos. Uma dizia que se ela voltasse pra ele correndo, Jennie estaria bem e segura. Ela passaria por algo, mas nada demais; A outra mais rebelde, imaginando como seria quando Rosé e Lisa acabassem com ele... e Jennie? Bem, Jennie provou ao pular nas costas de quem a atacou que sabia se defender. 

Sua respiração saía curta, entrecortada. Colocou as mãos nos joelhos, tentando se acalmar para olhar em volta. Pessoas brancas. Muitas delas. Com certeza não estava na Ásia. Estava longe, muito longe. Provavelmente longe das garras dele.

— Preciso voltar.- Ela decidiu. Seu coração parecia um tambor. — Com ela eu vou estar segura.- Concluiu. Seu intuito era pensar em Jennie, mas sua mente pensou na outra. 

Aquela que a odiava e que provavelmente a mataria algum dia, mas sim. Era para ela que Jisoo voltaria. 

Fazendo o caminho inverso de onde estava indo, Jisoo se forçou a lembrar por onde tinha andado. Quase entrou em desespero quando se viu um pouco perdida, infelizmente não era muito boa com lugares. Mesmo assim, seguiu. Entrou em alguma rua errada aqui e outra ali, mas quando viu o prédio mais feio do quarteirão, seu coração ficou aliviado. 

Algumas sirenes podiam ser ouvidas e ela jurou que tinha um homem nas sombras ali perto, mas aquilo não a deixou vacilar na decisão que havia tomado. 

Devagar ela entrou pelo estacionamento e subiu as escadas. 

Estava tudo tão calmo que o menor barulho poderia ser ouvido, então ela evitou pisar forte no chão oco. Não queria que Jennie ficasse sabendo que ela a deixou lá sozinha e fugiu, aquilo partiria seu coração. 

Passou pelo quarto que Jennie e Lisa estavam e parou de frente à porta do quarto de Rosé. Tentou respirar fundo e se acalmar, abrindo a porta. 

O quarto estava vazio e Jisoo teve que segurar o ímpeto de chamar pela outra. Quando se virou, ao contrário de muitos, não se assustou quando a viu recostada na parede, uma arma na mão. Era seu instinto e Jisoo sabia daquilo. 

A mais velha retirou o capuz e a mochila das costas, entregando-a para Rosé. 

— Acho que não vou precisar disso.- Disse baixinho.

Ela tinha um olhar estranho, curioso. Alguns tímidos raios de sol entrando pela janela do quarto passavam por seu rosto, iluminando-o. Ela assentiu e colocou a arma na mesa de cabeceira, num esconderijo embaixo, baixando também a mochila.

A morena atravessou o quarto e se sentou na cama, notando que estava quente. Rosé provavelmente estava deitada lá anteriormente. Notando sua expressão sem graça, a loira logo assegurou: 

— Fica aí, eu já ia me levantar.- Jisoo suspirou e assentiu, enquanto a loira se virava para sair. Ela parou na porta. —Estou aliviada que você resolveu voltar.

Jisoo mordeu o lábio para segurar o sorriso. 

— Eu também.- Rosé assentiu suspirando e saiu, fechando a porta devagar. 

Jisoo agarrou uma almofada, afundando o rosto nela enquanto se deitava. O cheiro de perfume caro entupindo suas narinas da melhor maneira possível. 

"Estou segura agora. Tudo vai ficar bem" Foi a última coisa que pensou, antes de sua mente se esvaziar e deslizar para o mundo dos sonhos. 

Do lado de fora Rosé estava encostada na parede, respirando fundo. Parecia que finalmente estava soltando o ar que estava preso em seus pulmões desde a hora em que havia decidido dar seu tiro de misericórdia.  

Apesar de não saber ainda, seu alívio não era meramente por saber que não a mataria. Jisoo estava em segurança, em casa. Ela estava ao seu alcance e de sua proteção. Aquilo sim era um alívio. 



Mercenárias - Livro IWhere stories live. Discover now