II

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Durante o trajeto elas tiveram que sedar as duas moças para que elas não soubessem para onde estavam indo. Sigilo era a única regra inquebrável delas desde que viraram parceiras anos antes.
A primeira a acordar foi Jennie, dentro do primeiro avião; elas tinham que pegar três vôos diferentes para despistar qualquer um que as tivesse seguindo.
Ela olhou em volta, um pouco desnorteada e sensível à luz. Lisa rapidamente se levantou e apareceu por cima dela, a fim de bloquear a claridade.
— Oi, bonitinha.- Ela sorriu, ajudando Jennie a se sentar. Olhando em volta, parecia um avião de carga, ela tinha a memória de ter visto um desses na tv uma vez. — Você deve estar com dor de cabeça por conta do sedativo, espera aqui.
Ela saiu rapidamente e voltou abrindo uma garrafa de água e dando na mão da moça que tinha acabado de acordar. Ao dar o primeiro gole na água, notou o quanto sua garganta estava seca. Foi quando se lembrou de Jisoo e tomou um susto, sua adrenalina subindo rapidamente.
— Cadê a Jisoo?- Disse para Lisa um pouco mais alto, sentindo um pouco de dor ao falar. "Devo ter passado mais de 20 horas desacordada" Pensou rapidamente.
— Wow, calma.- Lisa afagou seu braço, tentando acalmar Jennie.— Ela tá aqui, vem.
Quando se levantou, percebeu que estava vestida numa roupa diferente. Calça e blusa de moletom, seus pés descalços. 
Jisoo estava um pouco mais atrás; sua expressão era sombria, como se estivesse tendo um pesadelo. Jennie afagou seu cabelo, segurando as lágrimas que teimavam em querer cair. Só esperava que elas ficassem bem. Que Jisoo pudesse entender o porquê ela fez o que fez.
— Ela tá de trança?- Jennie franziu o cenho, levantando levemente a cabeça da amiga pra pegar nas pontas de seu cabelo. Afastou as lágrimas com as costas das mãos, rindo. Jisoo também usava um conjunto de moletom, só que o dela era preto.
— Não olha pra mim, ela já estava assim quando Rosé me entregou.- Lisa arregalou os olhos por ter falado o nome da parceira. Deu um tapa bem alto na própria testa.
Assassina treinada, especialista em combate corpo a corpo e armas de diferentes calibres, se embolando inteirinha na frente de uma mulher que ela conversou por menos de quinze minutos. "Eu sou um pedaço de merda, puta que pariu a Rosé vai me matar"
— Olha eu apreciaria se você esquecesse que isso aconteceu.- Abaixou um pouco pra ficar na altura de Jennie que estava agachada. Ela apenas riu.
— Não escutei nada.- Levantou as mãos em rendição.
Os olhos de Jennie brilharam com as lágrimas que não caíram e o sorriso para Lisa. Ambas se olharam profundamente, até Lisa perder o sorriso, levando a mão ao ouvido.
—Positivo, Winter. - Ela assentiu.— Preciso te colocar pra dormir de novo.- Sentiu vontade de se desculpar, mas ao invés disso apenas endireitou a postura e estendeu a mão para Jennie, que olhava para o corpo desacordado de Jisoo com preocupação. — Não se preocupa, estamos cuidando bem de vocês. Senta aqui e come isso.- Lhe deu uma barra de cereal de chocolate.— Quando terminar você dorme e só vai acordar quando chegarmos ao nosso destino, ok?
—Ok.- Jennie assentiu, já mordendo a barra de cereal.— Ei.- Ela puxou a manga da blusa de Lisa, que a olhou surpresa.
—Sim?
—Obrigada por nos ajudar. Você não sabe o quanto estou agradecida.- Foi tão sincero e tão espontâneo que Lisa nem soube o que fazer, então apenas afagou o cabelo de Jennie bem de leve.
—Nem precisa agradecer. -Disse se curvando levemente e indo pegar o que precisava em seguida.
Como combinado, assim que Jennie terminou de comer, Lisa a colocou para dormir novamente. 
Tinha um pressentimento forte quanto àquilo tudo. Ela ainda não conseguia dizer se era bom ou ruim, mas seu coração estava inquieto.

(...)
Jisoo acordou mais ou menos uma hora depois. Ela não abriu os olhos, mas sabia que estava em um lugar diferente. Era barulhento e balançava bastante. Por uma brecha bem pequena tentou espiar o que era, tentando não mostrar que tinha recobrado a consciência, mas não deu para ver muito. Levantou a cabeça aos poucos, procurando pessoas em volta. Ninguém.
Ela se sentou notando que estava num avião; sua cabeça doía, seus dentes pareciam estar moles de tão apertado que seu maxilar estava. Foi quando ela viu Jennie. Se levantou correndo, segurando na lateral do avião para não cair.
—Meu Deus, meu Deus.- Seu coração estava acelerado quando ela ajoelhou ao lado da amiga. —Jennie.- Ela balançou, mas a moça continuava sem mover um músculo. —Por favor, Jennie, acorda. Por favor, por favor. -Ela implorou em desespero, sentindo um nó se formar na garganta.
Procurou algum indício de ferimento, mas não havia nenhum.
—Ela não vai acordar agora.- Jisoo escutou a voz daquela mulher novamente. Se colocou de pé rapidamente, os olhos indo para o chão como antes.
—O que você fez com ela?- Sua voz era insegura, assustada.— Por favor, deixa a gente ir. Nós não temos nada a ver com eles, eu-
Ela parou de falar quando a mulher parou de frente a ela.
—Você tem algum vício?- Disse levantando o queixo de Jisoo para que a olhasse. Colocou uma lanterna na direção do seu olho e acendeu para ver a pupila. —Responsiva. - Disse para si mesma. Aquele toque sendo o suficiente para deixar Jisoo assustada. — Você tem ou não algum vício?- Perguntou novamente, Jisoo balançou a cabeça negativamente.
—Pra onde a senhora tá levando a gente?- Jisoo perguntou nervosamente, desviando o olhar da mulher loira. Ela tinha trocado de roupa e estava vestida quase igual Jennie e ela.
— Certeza? Se você tiver, vai acabar tendo um aumento de pressão por falta da droga.- Ignorou a pergunta de Jisoo de propósito.
—Eu não tenho vício algum.-Sua voz estava por um fio, sua garganta doía muito. —Por favor, nós não fizemos nada, deixa a gente ir.- Jisoo suplicou, finalmente olhando para o rosto da loira. Ela tinha um rosto tão bonito, mas sua feição era muito dura, de raiva. Aquilo assustava a morena.
—Ao contrário do que você acha, você não é uma prisioneira. O acordo com sua amiga garante liberdade a vocês.- "Como assim acordo? Jennie sua idiota, o que você fez?" Pensou.
—Come isso. - Entregou uma garrafa com água e uma barra de cereal nas mãos de mais baixa.
—Não, obrigada.-Ela sabia que aquilo poderia ter veneno ou sonífero, então não aceitou.
—Se não comer, vai entrar em coma. Você passou mais de 18 horas sem comer ou beber água, sua glicose está baixa e logo seu corpo vai desligar.-Seu tom era formal e distante.— Se eu quisesse te envenenar já teria feito.- Disse se virando para pegar algo, como se conseguisse ler a mente da outra moça.
Jisoo bebeu a água relutantemente no começo, até perceber que estava com muita sede. A barra de cereal desceu com dificuldade, mas desceu.
—Você vai voltar a dormir, quando acordar estará no solo.
—Eu vou poder ir?- Jisoo só queria ir embora, só pensava nos horrores que o Lobo faria quando a achasse.
—Eu não disse isso.-Rosé falou, pegando o braço da moça e levantando a manga do moletom.
—A senhora disse que eu não sou prisioneira.- Sua voz era triste, mas tinha o tom mais firme que ela conseguia. Rosé a ignorou, colocando a agulha em seu braço. Ela nem piscou, sua resistência à dor era grande depois de tanto tempo. Sentiu seu corpo pesar, seus olhos quase se fechando.
—Eu não queria estar aqui…-Disse num fio de voz, sentindo o mundo desaparecer ao seu redor. 
—Acredite em mim… Eu também não queria você aqui.
E com isso, Jisoo voltou a seu estado inerte.

Mercenárias - Livro IWhere stories live. Discover now