Jisoo não sabia exatamente como processar o que houve. Estava com tanta vergonha que queria só sumir da face da terra, se esconder.
Estava com o travesseiro no rosto quando escutou alguém se aproximar, seu coração disparou. Era Jennie que estava se sentando na cama, um olhar de culpa no rosto.
— Soo, eu- A outra não deixou que ela terminasse a frase, interrompendo o que ia falar.
— O que deu em você!?- Se sentou, passando a mão nos cabelos pretos ainda molhados. — Você tem noção do que fez? - Jennie abriu novamente a boca, mas a amiga a interrompeu mais uma vez. — Você não sabe o que vai acontecer quando eles nos pegarem?
Jennie nunca tinha sequer visto Jisoo falar alto, então aquilo estava sendo um choque maior do que o esperado. Se a maior não a conhecesse bem teria ficado com medo que ela pulasse em seu pescoço e a esganasse de verdade.
— Você não pensou no que pode acontecer?- Dizia agora mais baixo, mas ainda tinha um tom exasperado.
— Claro que pensei! Se não tivesse pensado, agora você estaria a sete palmos do chão!- A explosão de Jennie fez a outra se retrair também. — Ela ia te executar e eu não poderia deixar isso acontecer, eu não queria te perder!
— Daí você teve a brilhante ideia de nos trazer para perto de quem quase nos executou?- Jisoo levantou os braços exageradamente.
— Foi a melhor ideia que tive pra não te deixar lá! Eu não queria que acontecesse nada com você, entendeu?
— Você foi egoísta!- Jisoo rebateu. — Pensou só no que ia sentir se eu morresse, mas não pensou em mim e nem no que eu sentiria ao ser dopada e arrastada país a fora por uma assassina que literalmente parece querer me matar a cada respirada que eu dou!
— Ahaha, me perdoa pelo egoísmo de não querer que você literalmente morra, Kim Jisoo!- Jennie se levantou a ponto de sair correndo dali para evitar aquela briga.
— Você é tão egoísta que não consegue entender que eu tô com medo por você!- Jennie parou de uma vez, as costas ainda viradas.— A última pessoa que me ajudou a fugir foi a Nayeon e eu já te contei o que houve com ela. Eu sobrevivo à tortura, não me preocupo com a morte... Já passei dessa fase.- Jisoo falava mais baixo agora, segurando as lágrimas. De costas, Jennie segurava o choro também.— Se mais uma das minhas amigas morrer porque tentou me ajudar... eu não sei o que vai ser de mim.
Jisoo era acostumada a fugir das mãos do homem que era obcecado por ela. Já estava na oitava fuga em um ano quando, pela primeira vez, tentou levar alguém com ela. Im Nayeon, sua confidente dentro daquele inferno.
Ela estava confiante que dessa vez conseguiria, estavam fugindo a quase uma semana já e nem sinal dele ou de seus capangas. Elas quase conseguiam sentir o gosto da liberdade novamente.
Foi quando ele as achou e não só torturou as duas, como fez Jisoo assistir quando matou Nayeon lentamente. "Isso é sua culpa. Se ela soubesse que você é minha, não teria te ajudado a fugir e não estaria nessa posição"; Depois daquele dia ela nunca mais tentou fugir, por mais que quisesse. Depois daquilo, Jisoo apenas esperava o dia em que ele se cansaria e se livraria dela.
— Ele não vai me matar.- Jennie suspirou pesadamente e se virou.— Porque ele vai morrer antes de me achar.- Seu olhar era determinado. Determinado demais.
— Você não pode me prometer isso.- Uma lágrima desceu por sua bochecha e ela nem se preocupou em secá-la.— Por enquanto eu não consigo sentir nada bom em relação à nossa amizade sem pensar no horror que vai ser te perder. Por enquanto eu só consigo odiar...- Suspirou, olhando para o alto a fim de evitar o olhar de Jennie.— Tudo isso.
Aquele foi um golpe forte, atingiu Jennie no estômago como um soco bem dado. Ela engoliu em seco e assentiu, mordendo o lábio com força antes de falar.
— Se é mais fácil me odiar, que seja.- Levantou o queixo.— Se essa é a consequência de te proteger, eu aguento.- E dito isso, saiu quarto fora.
Jisoo se afundou na cama, tentando abafar os soluços com o travesseiro. Seu corpo inteiro doía. Depois de muito chorar, chegou a uma conclusão.
— Eu preciso fugir.- Disse para o quarto vazio.— Assim que me achar sem ela, ele esquece que ela existe. - Soluçou mais uma vez.— Preciso fugir daqui.
E então começou a pensar em como faria isso sem que a assassina loira desconfiasse. A outra, Lisa, até que poderia perdoar se a pegasse fugindo, mas a outra não. Jisoo tinha certeza.
Os olhos de Rosé eram um poço sem emoção. Ela sabia que deveria ter medo dela.
Na verdade, a única emoção que ela viu nos olhos da loira, foi raiva.
******************
— Lisa?- Jennie chamou pela casa.
Desceu as escadas até a sala de estar, mas nem sinal da outra.
— Lisa, você tá aí?- Ela disse para o vazio, as luzes se acendendo automaticamente conforme ela ia andando.
—Achei que estivesse dormindo.- A voz atrás de Jennie disse, fazendo com que ela desse um pulo.
—Jesus!- Exclamou, com a mão no peito.— Você precisa de um sino ou vou acabar morrendo do coração. Caramba...- Respirou fundo e a loira apenas deu de ombros.
—Lisa teve que resolver umas coisas.- Disse virando para sair.
— Ei, espera.- Jennie disse.— Pode ser você, também. Se quiser, claro.
—Hm?
—A Lisa disse que depois que eu descansasse, poderíamos começar a colher informações.
Rosé continuou parada olhando para o chão, como se nem tivesse escutado a outra. Parecia uma boneca, Jennie não pôde deixar de comparar. Uma boneca assustadora, mas ainda assim.
—Não estou cansada, então não quero perder tempo.- Mentiu a primeira parte. Ela estava cansada sim, mas realmente não queria perde tempo. —Será que podemos começar?
Não sabia o motivo, mas se sentiu um pouco envergonhada. Como se aquilo fosse demais para ser pedido, um incômodo.
— Tudo bem.- Assentiu levemente.— Pode me acompanhar.
A loira disse já subindo as escadas e Jennie a seguiu obedientemente.
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Mercenárias - Livro I
RandomA regra para trabalhar como mercenária era clara: sem testemunhas. Uma mínima ponta solta pode custar sua vida e a missão, Lisa e Rosé sabiam bem disso. Mas como seguir essa regra quando alguém do seu próprio time armou uma emboscada para te matar...