dois

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Me sinto burra por não conseguir enxergar o mundo real como as pessoas ao meu redor. Espero um dia aprender como as coisas realmente funcionam.

Estou tão vidrada em meus próprios pensamentos, no meu mundinho fictício, que esqueço do mundo lá fora. Mas também não me importo. Talvez um dia eu viva as aventuras dos livros de fantasia, e talvez, até viva um amor como nos livros de romance. Mas, por enquanto, vou ficar só com a minha imaginação.

Mais um dia calmo na biblioteca. Um grupo de adolescentes passou por aqui mais cedo para estudar e depois foram embora. Fiquei impressionada ao vê-los sendo tão educados e falando tão baixinho. Estou acostumada com toda a gritaria e empolgação dos jovens que passam por aqui.

Com Maddie doente e Tayler de férias, estou totalmente sozinha. Jullya, a dona da biblioteca, deixou em minhas mãos o dia de hoje para resolver alguns problemas familiares. Agradeço pelo dia estar tão calmo.

Um garoto estupidamente alto e até que bonitinho, entra pela porta, parece perdido. Nem olha para o balcão e parte para os livros, como se ja soubesse do que precisa. Duvido muito disso.

Depois de passar quase uns cinco minutos rodando pelas seções, ele vem até mim.

– Boa tarde, meu nome é Emy! Como posso ajudá-lo? – Digo com um sorriso no rosto.

– Jullya está por aqui? – Ele pergunta com a voz suave. Seu olhar parece me estudar por inteira.

– Ela teve que sair, mas imagino que estará de volta em breve.

– Ok, então acho que pode ser você mesma. Preciso de um livro de romance, pode me indicar? – Ele parece eufórico.

– Tudo bem, venha comigo. – Digo e ele obedece, me seguindo até a seção de romance. Confesso que o pedido me pegou de surpresa.

– Nenhum deles me agradou. – Ele diz apontando para os livros. Em seguida cruza os braços e se apoia na estante atrás dele.

– Talvez você tenha procurado rápido demais, o que acha de um clássico como Romeu e Julieta?

– Já li. – Tento segurar a risada. Ele não parece ser do tipo que lê alguma coisa além de notícias sobre esportes.

– Não acredita que eu possa ter lido, não é? Tudo bem. – Ele diz como se a minha reação não fizesse diferença.

– Desculpe-me – Digo. – Julguei o livro pela capa. É porque você não me parece uma pessoa que lê, então me pegou de surpresa. Mas vamos lá. Já leu divina comédia?

– Sim. Um dos meus livros favoritos. Queria um mais atual, sabe?

– Atual como... – Digo passando a mão pelos livros para conseguir encontrar um. O olhar dele ainda me analisa. Meu corpo esquenta em resposta. – Vermelho, branco e sangue azul?

– História, hein? É, eu também já li esse.

Mostro mais alguns livros, ele dispensa todos.

– Já leu a seleção? – Pergunto após um suspiro. Esse homem parece que já leu de tudo!

– O que é isso?

– Uma trilogia.

– A seleção?

– Isso. Não conhece?

– Definitivamente não. – No exato momento em que ele diz isso, vou em direção aos livros e pego logo os três.

– Está me dizendo que nunca leu nenhum desse três? – Digo lhe mostrando a trilogia.

– Nunca nem vi a capa.

– Uau, então sem dúvidas te indico pelo menos o primeiro.

– É sobre o que?

– Apenas leia, você vai gostar.

– E se eu não gostar? – Sua voz está em um tom desafiador.

– Fico te devendo uma.

– Muito bem. Vou levar o primeiro, avise Jullya que peguei um livro, por favor.

– Você é parente dela?

– Sou o irmão mais novo.

– Uau! É Drew, certo? Não fazia ideia! Muito prazer. – Digo estendendo a mão para cumprimentá-lo, e ele a aperta. Ju já me contou várias vezes sobre seu irmão e o quão orgulhosa ela é dele. Tem 27 anos, faz faculdade de cinema e aulas de reforço para aprender o que não conseguiu na escola. Ela diz que ele é meio encrenqueiro, mas que é um bom homem.

– Vejo que minha irmã anda falando de mim. – Ele diz sorrindo. Seu sorriso é sem dúvidas um dos mais bonitos que ja vi.

– Um pouco, de vez em quando.

– Bem, foi bom saber disso. Estou levando o livro, e voltarei assim que acabar. Espero vê-la novamente senhorita Emily.

– Pode me chamar de Emy, é como todo mundo me chama.

– Vou ficar com o Emily. – Ele diz com um sorriso de lado e se retira do local. Ninguém quase nunca me chama de Emily, outra coisa que me deixou surpresa, parece que esse cara é cheio delas.

Também espero vê-lo novamente.

A biblioteca do amor | Drew StarkeyOnde histórias criam vida. Descubra agora