Tentar ignorar uma pessoa quando se mora em uma cidade pequena é algo extremamente inútil. Já fazem quatro dias que tento não me encontrar com Drew ou responder suas mensagens. Não contei nada a Gus. Minha tia ainda tenta tirar algo de mim desde aquela noite.
Amanhã é o dia do jogo de Drew, e ele e Gus continuam insistindo para que eu vá, mas depois de aquela noite no banheiro com Drew me sinto totalmente... estranha. Não sei se é bem essa a palavra.
Minha tia me chamaria de idiota, meus pais me chamariam de chata e indecisa, mas talvez eu seja só um pouco insegura demais, e ninguém entende isso.
Nos livros, a garota quietinha sempre se apaixona pelo bad boy, mas isso aqui é vida real, e, ou eu acabaria me apaixonando por Drew e não seria recíproco, ou estragaria nossa amizade, que acabou de começar.
Não entendo minha própria cabeça porque foi só um beijo idiota e nem sóbrios estávamos, mas por algum motivo não consigo parar de pensar nisso.
– Filhota – Meu pai Adam diz se sentando ao meu lado no sofá. Tive folga do trabalho hoje e fui liberada das aulas mais cedo, ou seja, o dia inteiro jogada na sala vendo filmes. – Você pode fazer um favor para o papai?
– Depende. Tenho que matar alguém?
– Quase isso. Preciso que leve o remédio de coração do seu pai lá no curso dele. O bobão precisa tomar e "esqueceu" – Ele faz aspas no ar. – Ou melhor, fingiu que esqueceu.
– Por que eu?
– Porque você é mais jovem, bonita, um amor de pessoa, prestativa...
– Você está com preguiça. – Interrompo.
– Exatamente! – Ele me da um beijinho na testa. – Por isso que eu te amo. Faz esse favor para o papai?
– Como eu poderia negar? – Lhe dou um beijinho na bochecha e me levanto. Meu pai Adam anda ocupado demais com as coisas no hospital. Não custa nada eu fazer um favor para que ele aproveite seu dia de folga.
Meus pais são muito bons no que fazem. Adam é o melhor médico cirurgião da cidade, e Andrew, o professor queridinho de todo mundo. Tenho muito orgulho deles, e meu maior medo é desaponta-los.
Sou grata a ótima relação que temos e apesar de algumas brigas, eu não trocaria eles por nada nesse mundo. Não foi muito fácil crescer sendo filha de um casal homossexual, o número de piadas e coisas ridículas que tanto eu quanto eles ja escutamos, é estupidamente alto.
Diversas vezes eles já me pediram desculpas por acharem que estavam me envergonhando, e eu sempre tento ao máximo lembrá-los que eles nunca fariam isso. Então sim, eu tenho muito orgulho deles porque ser quem você é em uma sociedade como a de hoje em dia, é algo apenas para os corajosos.
♤
A muito tempo eu não vinha ao curso que meu pai da aula. As pessoas daqui são bem mais adoráveis do que as de minha faculdade.
É um cursinho básico de reforço para estudantes que ainda estão no colegial, para aqueles que precisam de um reforço para concursos ou apenas adultos interessados em aprender o que não conseguiram no colégio. E meu pai ajuda em todas as áreas.
A turma da noite é a dos mais velhos, no andar de cima, então subo a enorme rampa para chegar em sua sala.
Bato na porta, que está fechada, e tomo um susto quando quem abre é um aluno. Um aluno que eu conheço.
Meu pai é professor de Drew Starkey.
– Hey! – Drew diz com uma expressão assustada. – O que faz por aqui?
– Pai! – Digo passando por Drew e entrando na sala. Escuto a porta se fechando atrás de mim. – Desculpa incomodar. Boa noite gente! – Cumprimento a turma. Drew está se sentando e escuto algumas respostas ao meu boa noite. – Vim trazer seu remédio que você esqueceu.
– Ah filha não precisava! – Meu pai diz se sentando na cadeira. – Terminem de copiar e estão liberados. – Ele diz a sua classe, apontando para o quadro cheio de matéria.
– Você é malvado. Olha o tanto de coisa que passa! – Digo me sentando em uma cadeira vazia na frente de sua mesa. Ele revira aos olhos ao ver o remédio. Odeia tomar isso.
– Já são adultos, eles que se virem.
– Ótimo, agora toma o remédio.
– Eu vou matar Adam. Por que ele mesmo não veio trazer? – Meu pai diz enquanto coloca o remédio na boca e engole fazendo cara feia. Parece criança.
– Em parte por preguiça, mas por outro lado acho que estava com medo de você matar ele.
– Espero que ele tenha fugido para bem longe porque quando eu chegar em casa...
– Você vai deitar e vai dormir! Pare de ser resmungar! Parece um velho.
– Velho é o seu pai!
– Você acabou de chamar a si mesmo de velho.
– Não, chamei Adam de velho.
– Você não especificou de qual pai estava falando, então posso presumir que o velho é você.
– Fora da minha sala! – Ele diz em tom de brincadeira apontando para a porta. Começo a rir.
– Daqui você vai direto para casa? – Pergunto.
– Vou passar no mercado primeiro.
– Compra chocolate para mim?
– Branco?
– Te amo. – Levanto e lhe dou um beijinho na bochecha.
– Cuidado nas ruas hein mocinha.
– Pode deixar velhote! – Digo ja da porta na sala, saio com um sorriso no rosto, mas antes de sair olho de soslaio para Drew e o pego me observando, enquanto balança inquietamente o lápis em sua mão.
Decido passar no banheiro antes de ir embora. Me lembro de parar de beber tanta água quando levo mais de cinco minutos fazendo xixi.
Quando saio do banheiro, dou de cara com Drew esperando encostado na parede em frente a porta. Não tenho como fugir agora.
– Oi. – Digo com um sorriso sem graça.
– Você está me evitando? Por que você está me evitando? Eu fiz algo errado? Fui babaca? Você me odeia?
Não consigo conter a risada quando ele fala desse jeito acelerado.
– Claro que não seu tonto. – Minto. – Por que estaria?
– Por causa daquela noite no bar.
– Ah. – Suspiro.
– Senti que ficou algo estranho entre a gente e... não sei. Você é minha amiga, sabe? Eu não tenho muita amiga mulher e etc mas eu tenho você e não queria perder sua amizade e tals... sei lá, aquilo foi besteira foi só...
– Para matar a curiosidade. – Completo sua frase.
– É, isso! – Ele gesticula com as mãos. – Exatamente. Que bom que nos entendemos. Podemos esquecer tudo isso?
– Claro!
– Então você vai me ver jogar com Gus amanhã?
– Tudo bem, vou sim.
– Ok, te vejo amanhã então. Tchau! – Ele se abaixa para me dar um beijo na bochecha e sai correndo de volta para a sala.
Ele está certo, foi besteira, bobagem, não vai acontecer denovo agora que matamos a curiosidade para saber como seria. Vou ver meu amigo jogar amanhã, e é isso que importa.
Enquanto todas as meninas da cidade fariam de tudo para dar uns pegas em Drew Starkey, eu faço de tudo para ser sua amiga. Que ironia, não?
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A biblioteca do amor | Drew Starkey
FanfictionEmily Brown é uma mulher amante de livros, de poucos amigos e que sonha em ser escritora. Emy começa a trabalhar em uma biblioteca para ganhar uma renda extra e sair da casa de seus pais, mas certo dia conhece Drew Starkey, um cara totalmente o seu...