Penso que a vida é como um livro. Temos a nossa sinopse e os primeiros capítulos na infância e adolescência. Quando chegamos na fase adulta é que descobrimos o verdadeiro enredo, os plot twists e o final. Mas como a maioria dos livros, sempre acaba tendo uma parte que não agrada a todos. Queria que o livro da minha vida fosse inteiramente leve e divertido, mas não é.
– Você não quer nem reconsiderar? – Pergunta meu pai Andrew andando pela casa inteira atrás de mim enquanto eu pego minhas coisas para sair. Ele já está me pertubando a dois dias para que eu tente uma bolsa na faculdade em que meu tio Thomas trabalha. Já disse milhares de vezes que não quero ser professora.
– Pai, eu já estou fazendo faculdade e estou ótima no meu emprego. Além de a faculdade ser a quatro horas daqui, eu não quero ser professora.
– Mas...
– Mas nada, pai – Digo parada a sua frente com minha bolsa na mão. – Preciso ir. – Desço as escadas correndo e entro mais o depressa possível no carro.
Já estava estressada por causa de uma entrega que deveria ter sido feita a mais de uma semana na biblioteca, e agora meu pai vem com essa.
Em meio aos meus surtos de raiva, prefiro sair de casa do que descontar em alguém. Com isso, descobri um barzinho que fica a mais ou menos uns quarenta minutos da minha casa. Ninguém que eu conheço vai lá, é um lugar só meu.
Fiz amizade com Gus, o barman, e também com outros funcionários do lugar. São pessoas que meus pais não conhecem, são pessoas divertidas e que fazem parte do meu mundo. Um mundo onde ninguém tenta me controlar. Um mundo em que me sinto leve e feliz, como na infância.
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Chegando no All Night, o bar, encontro Gus no mesmo lugar de sempre. Atrás do balcão.
Me sinto mais tranquila quando entro no local. Essa bar junto com meus livros, são uma espécie de refúgio para mim de vez em quando.
– Eita que ela já chegou de bom humor! – Diz Gus em tom de ironia, colocando uma toalhinha em cima do ombro e olhando para Sam, uma das garçonetes do bar. Reviro os olhos e me sento em um dos banquinhos.
– O que vai ser hoje gatinha? – Sam pergunta saindo de trás do balcão para me dar um abraço.
– Uma água com bastante açúcar, por favor.
– É pra já! – Exclama Gus. Sam me da um beijinho na cabeça e vai embora. Hoje é dia em que ela sai mais cedo.
– O que houve? – Gus pergunta empurrando o copo d'agua para mim e depois apoiando os cotovelos no balcão, colocando a mão no queixo e olhando em minha direção.
– O que você acha?
– Seus pais?
– E o prêmio de melhor Sherlock Holmes vai paaaaraaa... – Digo batendo as mãos no balcão como se fosse um tambor. – Guuuuss Davissss!
– Obrigado, obrigado. – Ele diz agradecendo em reverência e dando uma giradinha a seguir.
Eu amo vir aqui. Amo cada conversa com Gus e as histórias de bêbados que escuto dos clientes. Meu melhor amigo é o gerente do bar, e a dona é sua tia, então ele está sempre aqui, e, quando não está, prefiro ir para outro lugar.
Conversando distraída, nem percebo quando o local começa a lotar, e um rosto familiar entra pela porta. Drew, o menino da biblioteca.
Merda! Não queria encontrar alguém "conhecido" por aqui. Sei que apenas falei com o cara uma vez na vida, mas mesmo assim, ele me conhece, e eu não queria isso. Será que se eu ficar imóvel ele não me nota? Talvez nem lembre de mim.
Quando um homem mais velho sai do meu lado no balcão, é Drew quem senta em seu lugar. Pego o telefone e finjo estar mexendo no Instagram.
– Haha, olha quem está aqui! – Gus diz estendendo a mão para cumprimentar Drew. Tiro o olhar do telefone por ter ficado confusa. – Quanto tempo em Starkey! Esqueceu dos amigos?
– Que isso Gus! Ta de sacanagem? – Ele responde. – Só um pouco ocupado com as coisas, sabe como é né.
– Alguma garota?
– Algumas..
– Esse é o meu garoto! – Reviro os olhos quando escuto Gus falando igual a um universitário babaca. Isso me faz pensar que Drew é um universitário babaca. Volto a olhar para o telefone.
Acontece que todo mundo no bairro conhece Drew Starkey. É o tipo de cara que todas as garotas querem ficar. Alto, bonito, o corpo espetacular e jogador de hóquei.
Quando encontrei com ele na biblioteca, não o via a tempos, então realmente não sabia quem ele era, não me lembrava. Quando me disse seu nome foi que as lembranças me vieram a tona, inclusive a de que ele é irmão da minha chefe.
Quando eu era mais nova, em torno de uns quinze anos e ele provavelmente uns vinte, confesso que também tinha uma quedinha por ele igual a todas as garotas do bairro. É, eu sempre gostei de caras mais velhos que provavelmente acabariam comigo. Fazer o que né? Eu sou leitora!
– Hey! – Drew me chama. Gus já está do outro lado do balcão servindo outros clientes. – É Emily, não é?
– Ah, hum, é sim. – Respondo meio sem jeito. Ele lembra de mim.
– Cara, o livro é incrível! – Ele se ajeita no banquinho mil vezes menor que ele. – No começo eu jurei que seria um clichê chato adolescente mas com um tempo eu fiquei super entretido na narrativa! Quero dar na cara da América as vezes, mas ela ja virou minha garota preferida.
– Não é!? – Sou tímida, exceto quando alguém fala de livros comigo. – Ela é chatinha, mas é impossível não amá-la. Você vai ler os outros livros?
– Sim! Vou pegar na biblioteca mais tarde.
– Vocês se conhecem? – Gus se intromete na conversa.
– Ah... – Eu começo a falar mas Drew me interrompe:
– Sim, sim! Ela trabalha na biblioteca da minha irmã.
– E como que vocês se conhecem? – Pergunto apontando para os dois.
– Estudamos juntos na infância. – Drew e Gus respondem em uníssono.
– Ah, sim. Maneiro.
– E vocês dois? – Drew pergunta.
– Ela basicamente mora aqui. – Gus responde sorrindo para mim.
– Ei! Calúnia e difamação isso ai! – Implico com ele e Drew apenas sorri nos olhando. Ficamos um tempo batendo papo sobre livros como se nos conhecêssemos a anos, e Gus, que definitivamente odeia ler, só revirou os olhos.
A imagem que eu tinha de Drew foi totalmente desfeita em apenas uma conversa.
Ele passou quase quatro anos jogando fora do país, e, quando voltou, estava totalmente diferente. Mais forte, mais bonito e mais mulherengo do que antes. Não saio muito de casa, então eram apenas histórias que eu ouvia sobre ele, como se o cara fosse uma lenda! Meus pais sempre me alertaram para ficar longe de gente assim. Mas e se na verdade todos os babacas fossem secretamente divertidos e apaixonados por livros?
Na primeira vez que me despedi para ir embora, Drew pediu para que eu ficasse mais um pouco. Agora, na segunda vez, ele me para denovo.
– Quer uma carona? – Ele pergunta.
– Vim de carro, mas obrigada.
– Ah, tudo bem. Nos vemos por ai Emily.
– É Emy.
– Ok. Emily. – Ele diz, me fazendo revirar os olhos em brincadeira. Dou um beijinho na bochecha de Gus e me despeço dos dois.
Quando entro no carro, solto um suspiro e fico surpresa comigo mesma. Não sou de conversar na vida real e muito menos com pessoas que não conheço. Não sou de ir em festas e nem de beber ou fumar. Alguns me chamariam, e chamam, de chata e sem graça. Mas eles não entendem que para mim, o mundo dos livros é bem mais divertido que o mundo real.
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A biblioteca do amor | Drew Starkey
FanfictionEmily Brown é uma mulher amante de livros, de poucos amigos e que sonha em ser escritora. Emy começa a trabalhar em uma biblioteca para ganhar uma renda extra e sair da casa de seus pais, mas certo dia conhece Drew Starkey, um cara totalmente o seu...