Capítulo 2 - Derrota em Massa

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No capítulo anterior: Com a ajuda de seu amigo, o mais velho e experiente Clérigo Barrim, a aprendiz Tassadara conseguiu vencer a ressaca e chegar bem a tempo para prestar a prova de combate, a última etapa para se tornar a mais nova clériga da Deusa Jade.

A ainda arfante aprendiz procurou o amigo com os olhos e o encontrou parado do lado de fora do vestiário, com os braços cruzados e sorrindo para ela. Admirou a harmonia com que agiram e mexeu os lábios formando-lhe um "obrigada", no que foi retribuída com um aceno de cabeça, antes de ele ir se juntar aos demais acompanhantes que foram assistir à prova.

Tassadara sentiu no peito o carinho do amigo e admirou o vínculo que tinham construído.

Mas aquela não era hora para calorzinho gostoso. Dispersada a fila de formação, alguns colegas a cumprimentaram, enquanto todos os sete que não iriam lutar naquele momento foram se sentar na mesma lateral. O chão era de terra batida, e algumas pedras grandes haviam sido espalhadas, para simular um terreno acidentado. A tensão já era sensível no ar.

Os clérigos da Igreja de Jade, apesar de serem defensores da paz, são treinados na luta com o cajado de duas pontas. Essa arma foi escolhida há muitos anos pelos Altos Sacerdotes como a arma ideal para os clérigos, por suas qualidades de ser excelente para defesa, para desarmar adversários e para desferir ataques não letais. O uso da violência é ensinado aos aprendizes como último recurso, mas, ainda assim, um recurso, porque os Clérigos de Jade são considerados os protetores de qualquer comunidade em que estiverem, seja uma pequena vila ou uma grande cidade. Por isso, sua formação envolve treinar quase tanto quanto rezar e aprender a curar.

As provas de combate são realizadas a cada seis meses, e os alunos bem-sucedidos passam a treinar novos movimentos e técnicas de combate com armas simples variadas, mas especialmente com o cajado de duas pontas, arma com a qual as provas são sempre feitas. Os que falham passam os próximos seis meses repetindo o aprendizado de todas as técnicas ensinadas até então.

Essa já era a prova do quarto semestre de Tassadara. Caso fosse aprovada, sua vida sem dúvida mudaria bastante. Para começar, sua participação nos treinos deixaria de ser obrigatória, pois seria reconhecida pela Igreja como perita no uso do cajado. Mas o principal era que essa aprovação, junto com a que já conseguira na prova de cura do dia anterior, faria com que ela fosse reconhecida como Clériga na hierarquia da instituição, e não mais como aprendiz. Poderia trabalhar por conta própria na ala hospitalar e até fazer parte de missões representativas oficiais da Igreja. Por fim, não conseguia deixar de pensar que isso sem dúvida deixaria muito orgulhoso Jânus, o clérigo que a acolheu desde o primeiro dia, tomando para si o papel de ser o seu mentor espiritual.

Então a hora aguardada chegou. De uma sala que havia ao lado dos vestiários, normalmente usada só pelo professor, saíram oito pessoas que com toda certeza não pertenciam à Igreja. Usavam roupas variadas, a maioria com alguma proteção para combate, e carregavam armas diversas: adagas, espadas, lanças, martelos, havia até um com o que parecia ser uma rede de pesca. Mas o pior eram as expressões. Todos olhando para os alunos como se fossem comida, pequenas presas ou qualquer coisa frágil que eles quebrariam ao meio com total facilidade. Eram mercenários contratados pelo professor para bater nos alunos até derrotá-los.

Essa dinâmica era conhecida, nada ali era diferente do que já tinham ouvido: todas as turmas que se formaram nos últimos anos, desde que o Mentor Cláudio assumira os treinos de combate, passaram pelo mesmo teste final. Mesmo assim, estar na experiência sem dúvida tinha um colorido diferente, um colorido bem pesado.

Em todas as provas de combate anteriores, Tassadara se saíra excepcionalmente bem. Mas sabia que o nível de dificuldade era incomparável: nas dos três primeiros semestres, os aprendizes enfrentam os da turma um nível mais avançada, em lutas somente com cajados. Por mais que os adversários tenham alguns meses a mais de experiência e técnicas novas, a taxa de sucesso é alta, seja por causa da determinação dos que prestam a prova, seja pela identidade de armas.

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