Capítulo 10 - A Velha Shirlei

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No capítulo anterior: Tassa recebeu de Ana seu primeiro robe de clériga, lindo, todo branco com dois símbolos de Jade verdes, na altura do peito. Porém, seu sentimento de poderosa se transformou em impotência quando Jânus deixou de lhe passar as últimas instruções sobre a missão, mandando-a simplesmente "seguir o Barrim".

O trio avançou em silêncio pelas ruas na direção da saída norte da cidade. Conquanto parecesse que os moradores ainda não haviam acordado em sua maioria, o povo das áreas rurais mais próximas estava de pé desde cedo e já chegava à cidade em carroças trazendo todo tipo de mercadoria agrícola e pastoril para vender ou trocar no mercado. Acreditando que não deveria romper o silêncio que Tassadara ainda impunha, Reala colocou sua atenção sobre essas pessoas.

Observou que algumas carroças vinham com crianças ainda dormindo, as quais eram cutucadas pelos pais conforme se aproximavam do mercado. Identificou-se com a situação de ter de ajudar a família a obter o seu sustento desde cedo. Sentiu saudade de mexer na terra; plantava todo tipo de coisa quando vivia com sua mãe, quando ela ainda estava viva e o seu vilarejo não tinha sido arrasado. Deixou o pensamento tentar imaginar que tipo de bandidos seria tão mal a ponto de ir muito além de roubar, chegando a matar todos os habitantes de uma comunidade. A troco de quê?

Já fora do limite urbano da cidade, a estrada estava boa, já que não chovia fazia dias. Seria possível cavalgar várias horas antes de precisarem descansar. Com alguma frequência, chegavam para o lado direito da estrada, a fim de deixar passar alguma carroça que vinha em sentido contrário.

Barrim tentou puxar assunto com a amiga algumas vezes, mas ela só respondia secamente. Sabendo que seria melhor lidar de uma vez com aquela insatisfação, perguntou especificamente o que a estava incomodando.

- Ainda não entendo! Não entendo e não gosto! Se você sabe o caminho, e está indo de todo jeito, Jânus podia ter dado a missão a você! O que eu estou fazendo aqui?

- Poxa... – Reala deixou escapar.

Tassadara olhou para ele, assustada com o tom de voz. Ele estava visivelmente chateado. Na hora, a amiga se tocou o quão ruim sua revolta estava soando e quis consertar:

- Não, Rê, eu sei que a gente tá aqui pra te ajudar com seu mestre! – disse preocupada – O que me chateou foi que eu achava que eu tinha um papel especial nesta jornada, mas agora estou vendo que não faço nenhuma diferença. O Barrim podia ter te requisitado, e o objetivo seria atingido igual.

Reala balançou a cabeça, dizendo que tinha entendido, mas por dentro continuava chateado. Ele tinha um grande afeto por Barrim, era um de seus melhores amigos, mas o sentimento por Tassadara... bem, para ele fazia muita diferença a requisição ter vindo dela. Inclusive teve pena de entregar na Escola o papel; sentiu tanto carinho segurando-o, que o teria guardado junto com seus materiais mais importantes.

Tendo desviado novamente o olhar, não viu quando Barrim estendeu o braço e pegou uma das mãos dela.

- Clériga Tassadara, pense que eu estou passando o bastão para você. Depois que meu mentor morreu, Jânus gentilmente me acolheu, e um jeito que ele tinha para me fazer sentir útil era continuar me passando missões. Mas agora é justo que quem vá cumprir as missões dele seja você. Eu estou só ajudando na sua iniciação.

O carinho das palavras era sem dúvida potencializado pelo carinho do contato físico. Por que demoraram tanto tempo para começarem a se tocar? Já sentia até um pouco de vergonha por ter brigado com ele. Mas então as mãos se soltaram e ele mudou o tom de voz:

- E você realmente precisa ser apresentada ao guardião. Lembra que eu disse ontem que estava indo para manter vocês vivos? Na hora era brincadeira, mas agora vejo que se encaixa perfeitamente na missão. Você pode usar a quantidade de símbolos de Jade que for; se aparecer lá exigindo que ele lhe entregue a erva, vai levar três flechadas na cabeça sem nem perceber.

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