Capítulo 11 - Duas Barracas Para Quatro Pessoas

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No capítulo anterior: Logo no início da jornada de Férigam para Agnus, o trio enviado por Jânus ajudou uma velhinha em apuros, que na verdade era Yamara deixando a cidade disfarçadamente. Só que o trio só percebeu isso depois de Tassadara praticamente virar sua neta perdida, dando-lhe carinho, comida e fazendo-lhe confidências. Apesar disso, Barrim não conseguiu deixá-la para trás...

Não houve outras paradas depois da conturbada pausa no lago. Tassadara esticou o galope o máximo que pôde, como se as forças da égua em que montava fossem ilimitadas, o que prejudicou significativamente a amizade entre as duas. Foi só quando a equina parou de responder a todos os estímulos para correr, mantendo a marcha lenta não importando o que Tassadara lhe fizesse, que a clériga decidiu desmontar.

Isso foi bem no momento em que o vento repentinamente passou a soprar forte.

O vento não veio sozinho. Nuvens escuras surgiram no céu e se aproximaram com velocidade, encobrindo primeiro o sol, que já ensaiava sua descida a oeste, e depois a maior parte do céu, fazendo parecer mentira que o dia começara sem uma única nuvem. Era como se os deuses tivessem decidido espelhar lá em cima o clima entre os indivíduos daquele grupo que viajava na estrada entre Férigam e a capital Agnus.

O primeiro a alcançá-la foi Reala. Protegia os olhos com o braço, tentando impedir que fossem atingidos pela poeira da estrada, levantada pelo vento. Por dó do seu cavalo, de um preto bonito e que não reclamou em momento nenhum da viagem, não quis forçar o ritmo tanto quanto a amiga; contentou-se em saber que em algum momento a alcançaria na estrada. Entendeu a necessidade dela de se afastar por um tempo; ele próprio ainda achava difícil acreditar que Barrim estava mesmo trazendo a garota encrenqueira com ele.

- Tassa... – chamou, desmontando do seu lado – como você está?

- Fantástica.

- Eu não sei por que ele não a deixou lá. Será que esqueceu que ela tentou matar uma pessoa na noite anterior?

- Né?! – confirmou enfática.

Os dois andaram em silêncio um tempo, puxando as montarias pelas rédeas. Vez por outra Reala olhava para trás, para ver a distância que ainda havia entre eles e Barrim.

- Daqui a pouco vão estar aqui. A gente tem que dar um jeito de despachar a garota sem dizer para onde estamos indo.

- Eu sei, eu estava lá na sala do Jânus com você! – respondeu rispidamente. Arrependeu-se assim que se ouviu – Desculpe, eu quis dizer que já tinha pensado nisso. Eu quero só ver o que ele vai dizer!...

O tempo passou, até que finalmente o cavalo marrom de Barrim, que trazia ele e Yamara, ficou visível. A demora se deu porque o clérigo o poupou muito mais que os outros dois. Detestava qualquer espécie de maus tratos aos animais, e não via sentido em forçá-lo mais do que o estritamente necessário, considerando que levava uma carga adicional. Além do mais, conhecia aquele trajeto muito bem, achava que não faria diferença levar uma hora a mais ou a menos, pois ainda conseguiriam entrar na floresta de dia. Quer dizer, isso até o clima mudar de repente.

Assim que viu no horizonte as nuvens de chuva despontando, mandou Yamara segurar firme, pediu desculpas ao cavalo perto de sua orelha e pediu que ele acelerasse tudo o que não tinha acelerado até então. Yamara achou aquilo curioso, em especial porque surtiu o efeito esperado: sem necessidade de chicote ou vara, o robusto animal começou a correr e acelerou até o seu máximo, encurtando rapidamente o espaço entre ele e os demais. Quando chegou próximo, começou a reduzir o ritmo, crendo que iria parar, mas Barrim manteve-o firme na corrida, reduzindo só o suficiente para que fosse ouvido:

- Vamos! A floresta é logo ali! Olhem a tempestade! – e passou por eles.

Tassadara ouviu todas as palavras, mas prestou especial atenção aos risos que as envolviam. A garota, agarrada ao cavaleiro clérigo, saltitava feliz atrás da cela individual, mostrando que se divertia tremendamente com aquela cavalgada. Depois que passaram, perguntou ao amigo do lado:

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