Capítulo 19 - Finalmente a Erva Kélkai

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No capítulo anterior: Yamara samba na cara dos inimigos, fingindo-se uma pobre coitada abusada. Um dardo venenoso e uma adaga foram suficientes para matar os dois kéleres que tentaram matar Tassadara, e que forçaram Barrim a revelar que também sabia conjurar magias. Enquanto Reala manifestou com palavras o sentimento de ter sido traído pelo amigo, Tassa deu-lhe um esplendoroso tapa na cara.

A erva kélkai era rara na região. Nascia apenas numa pequena caverna úmida, localizada numa depressão escondida no meio da grande floresta, a qual bordeava a estrada que liga a cidade Férigam à capital Agnus. Para chegar até a erva, alguém deveria saber exatamente aonde estava indo, pois não havia trilhas e toda a vegetação era mais cerrada, o que naturalmente desencorajava eventuais passantes.

Ou então ter muita curiosidade, que foi o que aconteceu décadas atrás quando o jovem elfo Alearianalanus decidiu que exploraria cada centímetro do lugar que tinha escolhido para ser seu novo lar.

Desde então, Alano, como os humanos o chamam, tem sido bem seletivo sobre a pessoa que permite ter acesso à erva, pois tanto o bem quanto o mal podem ser feitos a partir do seu uso. Qualquer mago que conheça a magia de clarividência pode usá-la para a conjuração, não importa com quais intenções. Pessoas desaparecidas podem ser localizadas por entes queridos, mas também podem ser localizadas com precisão vítimas potenciais para sequestro, inimigos a serem mortos, fortunas escondidas e qualquer outro uso mais criativo. Há ainda pessoas que perseguem lendas de poderosos itens mágicos perdidos no tempo, os quais, se encontrados, poderiam facilmente subjugar toda uma comunidade. Não foi difícil para ele decidir proteger e restringir o acesso ao componente material de tal magia.

Foi por meio do mentor de Barrim que Alano fez um trato com a Igreja de Férigam. Depois de conhecer bem alguns dos seus clérigos, ao longo de anos, passando a confiar nas suas intenções e nos valores de sua divindade, concordou em fornecer a eles uma pequena porção sempre que pedissem, com a garantia de que só a usariam para o bem, e que fariam o possível para manter sua localização em segredo. Também como contrapartida, deveriam ajudá-lo caso uma ameaça algum dia chegasse à floresta. Passou a ser conhecido como o guardião da floresta, ou, entre os poucos clérigos e magos que conheciam o acordo, o guardião da erva.

Para ajudar a manter o acordo em sigilo, as mesmas pessoas eram reiteradamente designadas para buscar uma porção da kélkai sempre que ela era necesária. Isso aconteceu por muitos anos. Esses missionários iam sozinhos, no máximo em dupla, e normalmente só quando o intuito era apresentar o próximo missionário ao guardião. Assim, Alano teve todos os motivos para se revoltar quando viu que a missão atual enviada pela Igreja tinha três membros e mais uma agregada. Só que sentiu, dentro do peito, que esse fato não teria importância desta vez. A chegada à floresta dos grupos de elfos em desarmonia com a natureza o perturbava, e sua intuição lhe alertou que precisaria de toda ajuda possível. Essa mesma intuição foi sentida por Jânus, dois dias antes, quando designou três pessoas para uma missão que normalmente precisava de apenas uma.

Tassadara seguiu Barrim em completo silêncio pelo terreno difícil. Desceu por um local ainda mais íngreme que o anterior. Fez o máximo para manter a postura ao andar pela terra escorregadia, por dentro do mato e por sobre as raízes das árvores, que formavam armadilhas naturais para tropeçar.

Barrim ia na frente, dividido entre querer dizer alguma coisa e o sentimento de que naquele momento não deveria dizer nada. Vez por outra olhou para trás, apenas para se certificar de que Tassa ainda o seguia. Admirou que ela não caiu nenhuma vez, apesar da dificuldade adicional de se desvencilhar de cipós e galhos baixos.

Chegaram a um pequeno riacho. Estreito, tinha vegetação alta em ambas as margens, desaparecendo ao passar por entre uma barreira de arbustos particularmente espessos. Barrim levou o braço entre um e outro e abriu uma pequena passagem.

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