Capítulo 21 - Verdade Revelada II

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No capítulo anterior: Sem se importar em revelar sua agilidade para a amiga, Barrim disparou pela floresta de volta ao abrigo do guardião, encontrando-o em destroços depois que um clérigo kéler evocou uma Coluna de Chamas sobre o local. Com suas magias de ilusão, ludibriou os kéleres a acreditarem que os ocupantes estavam todos mortos, enquanto se esforçava para curar Alano. Só que suas ilusões enganaram também Tassadara, que, ao chegar, enxergou Reala morto.

Viserani sacou sua espada e apontou para o rosto da mulher, em uma postura muito semelhante à do tio de Reala, na prova de combate. Quando falou, cada palavra saiu revestida da mesma arrogância.

- Frase estranha saindo da boca de uma Clériga de Jade. Esse é o tipo de comportamento que sua deusa deseja no mundo? Vingança? – o elfo falava a língua comum muito melhor que os outros kéleres até então encontrados. Apesar do sotaque estranho, usava todas as palavras corretamente.

Tassadara não se abalou nem com o tamanho do elfo, quase da altura de Reala, e nem ao ouvir que estava agindo por vingança. Quando viu o corpo morto de Reala, seu mundo ruiu. Se tinha alguma dúvida de que o amava, a dor que engoliu suas entranhas iluminou a questão com clareza solar. Diversas imagens do convívio dos dois passaram-lhe velozes pela cabeça e ela finalmente identificou que esse amor não surgiu na noite em que dormiram juntos, mas muito antes disso. Ela sentia todos os sentidos estimulados por ele; alegrava-se com seu sorriso, seus ouvidos eram acariciados pelo timbre grave e harmonioso da sua voz e ficava até excitada com o fato de estar sempre cheiroso. Sentia ainda especial carinho pelas poucas vezes em que afagou seus cabelos. E pelas muitas em que ele disse o quanto acreditava nela.

Foi fácil decidir matar a pessoa que lhe tirou essas coisas tão importantes.

Entretanto, em meio a esse turbilhão de sentimentos, ouviu uma voz baixinha, quase um sussurro perto do ouvido, que lhe pediu "Calma, Tassinha, ganha tempo! Ganha tempo!"

Tassadara não tinha a menor noção de onde a voz tinha vindo, teria sido de dentro de si? Seria isso a tal intuição de que Jânus estava sempre falando e ela nunca identificara? Na dúvida, decidiu adiar o ataque só um pouco. Mantendo a pose de combate, mas sem avançar ainda, esforçou-se para falar.

- Então... você não só fala a minha língua como conhece minha fé. E a sua fé, elfo, a quem devota?

- Humpf – desprezou o clérigo kéler – um inseto como você quer entender os paradigmas élficos?

- Você tem tanta vergonha assim de dizer o nome do seu deus?

O elfo se incomodou, mas disfarçou destilando um pouco de ironia na resposta:

- Como sabe que é um deus? Talvez eu adore uma deusa também, como você.

- O Juiz é uma deusa? – perguntou surpresa.

Viserani balançou levemente a cabeça para os lados, em reprovação.

- Está vendo como você é incapaz de entender? – em seguida sem tirar os olhos da clériga, inclinou a cabeça para trás e gritou – Draksan! Draksan!

Tassadara não entendeu a palavra, mas a linguagem corporal mostrou que ele chamava alguém. Lembrou-se do grupo que encontrou pela manhã, em que um deles gritou uma palavra estranha dessa forma também, e depois descobriram que havia mais um kéler escondido. Sentiu um frio na espinha; mais cedo, pôde contar com Yamara para tirar de ação o quarto elemento, mas agora ela também estava morta. Se aparecesse mais um kéler, e fosse tão poderoso quanto esse, sabia que não teria a menor chance. Seu coração acelerou desconfortavelmente; seu destino não poderia ser morrer ali.

Porém, passados alguns segundos, ninguém apareceu. Ela já tinha olhado ao redor algumas vezes em busca de Barrim, que tinha vindo disparado na frente dela para cá, mostrando uma agilidade que a chocou. Mesmo correndo atrás dele, perdeu-o rapidamente de vista.

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