Capítulo 24 - Fios de Ouro

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No capítulo anterior: a "DR" comeu solta, Barrim teve que se explicar até o último fio de cabelo. Se não fosse pela interrupção de Alano, teria sido interrogado a madrugada inteira. Pelo menos os motivos dele ficaram claros... dá pra perdoar? Não sei. Sei que a prioridade é a missão e o grupo está mega cansado da viagem até as Vilas Kíriti, parada obrigatória no caminho para a capital.

As Vilas Kíriti eram um conjunto de ruas onde os camponeses tinham residências que lhes permitiam viver em contato uns com os outros, em vez de morarem isoladamente nas terras rurais em que trabalhavam. A rua – ou vila – principal se confundia com um trecho da estrada que ligava as cidades de Férigam e Agnus, cortada por algumas vilas perpendiculares e somente uma paralela.

Em uma delas, foi instalado um mercado comunitário, imitando o formato aberto dos mercados principais das cidades. Foi uma excelente ideia para reunir em um só lugar e organizar os produtores de pequenas quantidades de qualquer produto, para venderem ou trocarem entre si, na própria comunidade, sem a necessidade de viajarem constantemente para uma das duas cidades.

Tal comodidade e a proximidade entre as pessoas deram segurança às famílias, cujos integrantes mais jovens podiam sair para trabalhar, com a confiança de que seus entes queridos com pouca ou nenhuma capacidade para o trabalho árduo contavam constantemente com apoio uns dos outros, em comunidade.

Isso tornava a atmosfera do local extremamente amistosa e hospitaleira. Tanto que as pessoas preferiam voltar para casa com regularidade, mesmo trabalhando longe; apenas as que se dedicavam a terras realmente distantes deixavam para retornar às Vilas Kíriti ao menos alguns dias por mês ou quinzena.

A localização estratégica também as tornou ponto de parada obrigatória para quem viaja de uma cidade a outra, situação para a qual surgiram serviços específicos como a casa de banhos, o estábulo e a Estalagem Fios de Ouro, que fornecia alimentação e hospedagem por poucas moedas. Seu nome foi escolhido cerca de vinte anos atrás, por seu dono, que acabara de se tornar pai de uma menina com os cabelos mais dourados que qualquer um dali já tinha visto.

Com o tempo, a menina cresceu e se tornou uma mulher bonita e trabalhadora. Para reduzir o esforço dos pais cada vez mais cansados, passou a ajudar fazendo um pouco de tudo na estalagem, da limpeza à cozinha, da logística ao serviço das mesas.

Um dia conheceu Barrim. Um homem bonito, asseado e que ostentava o símbolo de Jade nas vestes. Quando o serviu a primeira vez, o sorriso que recebeu tornou impossível não perder a compostura. E ainda por cima ele foi extremamente cortês e gentil, tanto durante a refeição, como quando a convidou para olhar as estrelas mais tarde. Ela foi, é claro. Apesar de receosa quanto a viajantes em geral e de ouvir infindáveis conselhos do pai e do namorado sobre como se defender, se precisasse.

Não precisou. Durante todo o encontro, a conduta dele não foi nada além de educada e respeitosa. Na época, Fios de Ouro passava com alguma frequência por episódios de assédio de alguns clientes locais quando bebiam demais, mas principalmente de viajantes que a objetificavam, fetichizando seu cabelo extremamente dourado. Os últimos que haviam visitado as Vilas confessaram que a ida ao local fora motivada unicamente pelo desejo de estar com a "ninfa dos cabelos de ouro", cuja existência começava a ser comentada nas duas cidades.

Barrim não a tocou naquela noite. Pelo contrário, deu sugestões para preservá-la, como passar a trabalhar exclusivamente atrás do balcão, onde ficava mais protegida, ou até mesmo se retirar, quando algum viajante mal-intencionado chegasse ao estabelecimento. Valia a pena pagar algumas moedas a outra pessoa para servir as mesas, mesmo nas épocas em que a receita da casa fosse escassa, porque estaria, na verdade, comprando paz de espírito, seu bem mais valioso. Para incentivá-la, pediu que fizesse o teste durante um mês, e para isso colocou as moedas necessárias na sua mão. Nem nesse momento suas peles se tocaram.

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